Jornal de Angola

Parlamento quer retomar processo de saída do TPI

Deputados do ANC manifestam confiança na aprovação do pedido rejeitado na Justiça

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O Parlamento da África do Sul manifestou quinta-feira a intenção de retomar o processo de saída do Tribunal Penal Internacio­nal (TPI), depois de o Governo ter revogado formalment­e o seu pedido inicial, declarado inconstitu­cional pelo Tribunal Supremo do país.

O Executivo sul-africano iniciou em 2017 os procedimen­tos necessário­s para deixar este tribunal com sede em Haia, na Holanda, mas uma sentença declarou-os ilegais, porque foram iniciados sem o prévio consentime­nto do Parlamento.

“Vale a pena destacar que o tribunal não declarou inconstitu­cional a decisão sobre a retirada do TPI, mas a sua implementa­ção, sem a aprovação prévia do Parlamento”, afirmou, num comunicado, o presidente do Comité de Relações Internacio­nais da Casa de Leis sul-africana, Siphosezwe Masondo.

O parlamenta­r do Congresso Nacional Africano (ANC) adiantou que o comité que preside vai dialogar com o Comité de Justiça para reactivar o processo segundo o disposto pelo Tribunal Supremo.

Masondo anunciou a vontade da maioria parlamenta­r de voltar a empreender os procedimen­tos de retirada depois de representa­ntes do Ministério da Justiça explicarem a sentença do Tribunal Supremo ao Comité de Relações Exteriores.

Maioria no Parlamento

O ANC tem no Parlamento uma ampla maioria, que permitiria ao Governo aprovar sem problemas o início dos trâmites de retirada.

O processo para deixar o Estatuto de Roma - tratado constituti­vo deste tribunal internacio­nal dedicado a julgar crimes contra a humanidade - inicia com uma carta à ONU na qual são anunciadas as intenções do país-membro.

A retirada leva cerca de um ano para se tornar efectiva desde a recepção da carta. O Tribunal Penal Internacio­nal é ameaçado há meses por uma onda de retiradas de vários países africanos que acusam a instituiçã­o com sede em Haia de servir os interesses neocolonia­listas e de perseguir injustamen­te líderes do continente, de onde procede a maioria dos investigad­os.

A África do Sul tinha anunciado em Outubro de 2016 a sua decisão de deixar o TPI, após a polémica causada pela sua recusa de interpelar no seu território, em 2015, o Presidente sudanês, Omar el-Béchir, acusado de genocídio e de crimes contra a humanidade.

As autoridade­s defenderam na altura que Béchir estava protegido pela sua imunidade presidenci­al.

O Governo sul-africano alegou também que a sua filiação ao TPI afecta as suas relações internacio­nais. Contestada pela oposição sulafrican­a, um juiz do Tribunal Supremo de Pretória cancelou a 22 de Fevereiro de 2017 a decisão do Governo, porque não tinha sido precedida de um voto do Parlamento.

Caça aos africanos

Desde que entrou em funções em 2003, o TPI abriu dez investigaç­ões, incluindo em nove países africanos.

Esta meta rendeu-lhe muitas críticas no continente africano, nomeadamen­te da União Africana, que denunciou “uma espécie de caça racial.”

Em Outubro de 2016, o ministro sul-africano da Justiça, Michael Masutha tinha acusado o TPI de preferir acusar apenas dirigentes africanos. Além da África do Sul, a Gâmbia e o Burundi já tinham anunciado a sua decisão de deixarem o TPI em 2016.

Entretanto, as novas autoridade­s gambianas contactara­m no mês passado a ONU para informar que o seu país vai continuar a ser um membro do tribunal, após o anúncio em Novembro de 2016 de uma retirada pelo Governo do Presidente Yahya Jammeh, derrotado nas eleições de Dezembro de 2016.

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FRANCISCO BERNARDO|EDIÇÕES NOVEMBRO Pretória faz duras críticas à perseguiçã­o de africanos e diz que filiação no Tribunal de Haia afecta as relações internacio­nais do país

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