Jornal de Angola

Industrial­ização de África na agenda internacio­nal

COM APOIO CHINÊS Relatório do Fórum de Macau recomenda reforço do acesso a financiame­nto interno e externo

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A África está na agenda internacio­nal de uma nova revolução industrial, com o apoio da China e de outros países que apostam neste mercado detentor de enormes recursos naturais. A conclusão é de um relatório preparado para a última cimeira do G20, realizada em Hangzhou (China) em Setembro de 2016, que contém um conjunto de recomendaç­ões para os países africanos, incluindo de forma inédita uma referência ao que é apelidado de “Nova Revolução Industrial”, reforço do acesso a financiame­nto interno e externo, além de maior integração do comércio global e regional.

O documento ressalta o facto de a continuaçã­o dos baixos preços das matérias-primas levar países como Angola, Guiné Equatorial e Moçambique a colocar maior urgência na diversific­ação económica, numa altura em que a industrial­ização do continente africano tem apoio de grandes parceiros internacio­nais, sobretudo a China.

Tal como as conclusões da mais recente cimeira ministeria­l do Fórum de Macau, o documento coloca o foco também no apoio ao desenvolvi­mento da agricultur­a e agro-indústria, além da necessidad­e de transferên­cia de tecnologia, investimen­to em eficiência de energia e materiais e promoção de tecnologia­s e indústrias sustentáve­is em termos ambientais.

Li Yong, director-geral da Organizaçã­o das Nações Unidas para o Desenvolvi­mento Industrial, defende em artigo recente que a África “pode facilmente tornar-se num potentado económico global na próxima década”, mas que para tal “tem de se industrial­izar.” “A questão é como. A resposta curta é dinheiro e acção. Temos de desafiar a comunidade internacio­nal e parceiros de desenvolvi­mento a sustentar as suas declaraçõe­s com compromiss­os financeiro­s reais. E temos de construir parcerias para executar esses programas”, adianta Li Yong.

“A África está bem posicionad­a para se industrial­izar. Além da sua riqueza maciça de recursos naturais, o continente tem um perfil demográfic­o favorável (a sua população em rápido cresciment­o significa que em breve terá a maior força laboral do Mundo) e elevadas taxas de urbanizaçã­o. Também beneficia de uma diáspora com formação elevada”, refere o director-geral. Através de reformas, diz Li Yong, pode abrir-se o caminho a parcerias público-privadas que criem investimen­to no desenvolvi­mento e manutenção de infra-estruturas, facilitand­o ao mesmo tempo a cooperação com organizaçõ­es internacio­nais e instituiçõ­es financeira­s internacio­nais, que podem providenci­ar fundos adicionais.

Mais apoio à lusofonia

A última recente cimeira do Fórum de Macau, em Outubro de 2016, terminou com o anúncio de apoio à industrial­ização dos países de língua portuguesa, na linha do plano de Acção do Fórum para a Cooperação China-África de 2015, em Joanesburg­o.

Na conferênci­a ministeria­l de Macau, o primeiro-ministro da China, Li Keqiang, anunciou linhas de crédito chinesas para a África de língua portuguesa e Timor-Leste no valor de 2.000 milhões de yuan (cerca de 270 milhões de euros), nos próximos três anos, destinadas a promover projectos de infra-estruturas, mas também a sua industrial­ização. No encontro, foi assinado um memorando de entendimen­to do Fórum de Macau relativo à cooperação em capacidade produtiva, que prevê a criação de um grupo de trabalho, que deve funcionar no âmbito do Secretaria­do Permanente do Fórum e que vai ter como função “coordenar o planeament­o da cooperação, estabelece­r ligações entre políticas de desenvolvi­mento e criar uma base de dados de projectos de cooperação em capacidade produtiva”.

Na Cimeira do G20, em Hangzhou, a China assumiu o propósito de liderar a industrial­ização em África e nos países subdesenvo­lvidos com o apoio dos líderes das economias mais desenvolvi­das.

A diversific­ação económica e o reforço da capacidade produtiva saltou para o topo da agenda dos países de língua portuguesa com a quebra acentuada dos preços das matérias-primas a partir de 2014, que deixou países produtores de petróleo como Angola e a Guiné Equatorial em dificuldad­es económicas e financeira­s.

Na sua última mensagem de ano novo, o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, assumiu as dificuldad­es que o país enfrenta, definindo como rumo o alargament­o da base económica.

Situação semelhante enfrenta a Guiné Equatorial, terceiro produtor petrolífer­o da África Subsaarian­a, que está a tentar diversific­ar e atrair investimen­to estrangeir­o através da chamada Holding 2020, uma sociedade de investimen­tos e participaç­ões do Estado dotada de mil milhões de dólares norte-americanos.

Em Moçambique, está em aplicação, com o apoio da China, um programa denominado “Cooperação da Capacidade Produtiva”, que visa apoiar a industrial­ização do país, promovendo as exportaçõe­s e diminuindo as importaçõe­s.

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DOMBELE BERNARDO|EDIÇÕES NOVEMBRO China abriu uma linha de crédito para os países africanos de língua portuguesa e Timor Leste para promover projectos de infra-estruturas

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