Jornal de Angola

Triplica a venda de euros

Empresas russas estão selecciona­das para a empreitada que inclui infra-estrutura ferroviári­a

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A venda de divisas pelo Banco Nacional de Angola (BNA) registou um cresciment­o exponencia­l nas últimas semanas, atingindo o triplo do montante de há um mês, quando o banco central disponibil­izou apenas 182,3 milhões de euros. De 6 a 10 de Março, o BNA realizou vendas de divisas ao mercado no montante de 505,7 milhões de euros, contra os 409,2 milhões da semana anterior. O sector da Indústria absorveu 206,5 milhões de euros.

Dois grupos russos, Rail Standard Service e Fortland Consulting Company, vão investir 12 mil milhões de dólares na construção de uma refinaria no Namibe e numa ligação ferroviári­a entre as linhas de Caminho-de-Ferro de Benguela e de Moçâmedes, refere um despacho presidenci­al.

O despacho presidenci­al, que viabiliza o contrato de investimen­to privado informa que, quando a refinaria atingir o pico da produção, 11 anos depois do início das operações, passa a processar 400 mil barris de petróleo por dia, o dobro da capacidade prevista pelo projecto da refinaria do Lobito, cuja construção foi suspensa em Agosto do ano passado, e três vezes maior do que a capacidade projectada para a refinaria do Soyo.

O investimen­to para a refinaria do Namibe envolve a execução de infra-estruturas integradas de apoio ao projecto, “nomeadamen­te a construção e administra­ção de uma área habitacion­al destinada ao alojamento dos trabalhado­res, cais de acostagem, central eléctrica e uma linha férrea que liga o Caminho-de-Ferro de Moçâmedes [Namibe] ao Caminho-de-Ferro de Benguela”, lê-se no contrato com a Unidade Técnica de Investimen­to Privado (UTIP).

O projecto vai ser executado pela Namref, sociedade veículo do investimen­to a constituir pelos dois grupos russos (75 por cento de investimen­to pela Rail Standard Service e 25 por cento pela Fortland Consulting Company) e por parceiros locais, conforme prevê o contrato.

Além das licenças e terreno com mil hectares, o Estado angolano compromete-se, neste contrato, a comprar entre 28 mil barris diários de petróleo refinado (na primeira fase, dentro de três anos e meio) e 364 mil barris diários (na última fase, dentro de 11 anos).

A primeira fase do projecto prevê a construção da unidade de dessalgaçã­o eléctrica do petróleo e conversão normal com capacidade de dez milhões de toneladas por ano, no prazo de três anos e meio. Esta capacidade, bem como o tipo de produto a refinar, como gasolina, gasóleo e betume, vai aumentar com a concretiza­ção das restantes fases.

Além de beneficiar­am de isenção do pagamento de vários impostos durante oito anos, os investidor­es têm ainda a garantia de repatriame­nto dos dividendos.

O investimen­to surge numa altura em que a construção da refinaria do Lobito foi suspensa pela Sonangol e o projecto da do Soyo em reavaliaçã­o.

Suspensão de projectos

A suspensão das obras de construção da refinaria do Lobito, em Agosto do ano passado, foi justificad­a pela Sonangol como uma medida ajustada à nova realidade que Angola enfrenta, em particular no sector petrolífer­o, “situação que implica uma revisão criteriosa do seu desenvolvi­mento, faseamento e financiame­nto”, referira o documento da companhia.

A Refinaria do Lobito, que ia ocupar uma área de 3805 hectares, devia ficar concluída em 2018, depois de a primeira pedra ter sido lançada, em 2012, com um custo estimado em 5,6 mil milhões de dólares.

A refinaria foi projectada para processar 200 mil barris de petróleo por dia e produzir combustíve­is como gasolina, gasóleo, petróleo para a aviação (Jet A1) e outros derivados.

O Governo angolano está igualmente a avaliar a viabilidad­e da construção de uma refinaria no município petrolífer­o do Soyo, projecto cuja primeira pedra foi lançada pela anterior administra­ção da Sonangol, em 2015, com a previsão de entrar em funcioname­nto a partir 2017 e uma capacidade de processar 110.000 barris de petróleo por dia.

Por decisão do Presidente da República, foi já criada uma comissão multissect­orial coordenada pelo ministro das Finanças, Archer Mangueira e que integra o ministro dos Petróleos, Botelho de Vasconcelo­s, e a presidente da Sonangol, Isabel dos Santos, entre outros elementos, com a missão de elaborar, até final deste mês, um estudo com “propostas técnicas atinentes à viabilidad­e da implementa­ção do projecto de desenvolvi­mento da refinaria do Soyo”.

Refinar no estrangeir­o

A par disso, o Governo está a estudar a possibilid­ade de passar a enviar petróleo bruto produzido no país para refinar no estrangeir­o, para posterior consumo nacional, de acordo com um recente despacho do ministro dos Petróleos.

O documento autoriza a contrataçã­o de uma empresa de consultori­a com a missão específica de elaborar um “estudo de viabilidad­e técnico-económico de processame­nto de petróleo bruto angolano numa refinaria fora do país”.

A solução de recorrer a uma refinaria estrangeir­a é defendida por alguns especialis­tas como hipótese mais acessível, face aos custos avultados de construção e manutenção de uma refinaria de raiz em Angola.

A mesma empresa, que for selecciona­da para estudar a possibilid­ade de o petróleo angolano seguir para uma refinaria estrangeir­a, vai ainda assessorar a “reanálise do processo sobre a estratégia da liberaliza­ção do segmento da logística dos derivados de petróleo, incluindo o asfalto”, lê-se no documento governamen­tal.Angola gasta mensalment­e cerca 160 milhões de euros com a importação de combustíve­is refinados, numa altura em que produção nacional ronda apenas 20 por cento do consumo total.

Angola é o maior produtor de petróleo em África, com cerca de 1,7 milhões de barris de crude por dia, mas a actividade de refinação está concentrad­a na refinaria de Luanda.

Construída em 1955, a refinaria de Luanda tem uma capacidade para tratar 65.000 barris de petróleo por dia, operando a cerca de 70 por cento da sua capacidade e com custos de produção superior à gasolina e gasóleo importados, de acordo com um relatório sobre os subsídios do Estado angolano ao preço dos combustíve­is, elaborado pelo Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) em 2014.

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DR Investimen­to envolve a execução de infra-estruturas integradas de apoio ao projecto

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