Dívida de Portugal já é insustentável
Estudo chancelado pela Comissão Europeia antevê um cenário financeiro de dificuldades
Portugal vai ter muitas dificuldades em baixar o rácio da dívida pública nos próximos dez anos se não cortar mais no défice de forma estrutural e não crescer muito mais do que se perspectiva, noticiou ontem a imprensa local. Os jornais, que citam um estudo da Comissão Europeia, refere que, apesar da conjuntura favorável em que o país cresce ligeiramente mais até 2027, o fardo só cai para cerca de 117 por cento do PIB.
Portugal vai ter muitas dificuldades em baixar o rácio da dívida pública nos próximos dez anos se não cortar mais no défice de forma estrutural e não crescer muito mais do que se perspectiva, noticiou ontem a imprensa local.
Os jornais, que citam um estudo com a chancela da Comissão Europeia, mas que não vincula a instituição como um todo, refere que, apesar da conjunta favorável em que o país cresce ligeiramente mais até 2027, o fardo só cai para cerca de 117 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), indica o “estudo institucional” intitulado Monitor da Sustentabilidade da Dívida do ano passado.
Num cenário mais hostil (em que a economia cresce uns magros 0,4 por cento ao ano até 2027 e os juros ficam 0,5 pontos acima das taxas do cenário de base, fazendo com que a taxa implícita de toda a dívida suba para 5,0 por cento), o endividamento sobe e em 2027 ultrapassa 131 por cento do Produto Interno Bruto.
Num cenário de base (central), que assume a manutenção das políticas e medidas já aprovadas ou prestes a serem-no por parte da maioria que apoia o governo, as perspectivas não são propriamente animadoras. A nível do crescimento médio real da economia, os próximos dez anos vão ser um género de década quase perdida, com o PIB a crescer em torno dos 0,9 por cento ao ano. Mesmo assim, é melhor do que os 0,3 por cento que foi a média dos últimos 15 anos, mostram os economistas. O rácio da dívida baixa, claro, mas fica-se pelos 124 por cento em 2027. O governo discorda das leituras por acreditar que vai conseguir pôr o país a crescer muito mais e a criar emprego de forma vigorosa. Para o Ministério das Finanças, a Comissão Europeia “reconhece que a dívida pública vai diminuir de forma sustentável ao longo dos próximos anos”, que “entrará numa trajectória descendente”. E reconhece também “o sucesso da estratégia económica do Governo”, disse o ministro Mário Centeno.
O estudo inclui os restantes 27 países da União Europeia. Dos oito países de alto risco, seis (Bélgica, Espanha, França, Itália, Chipre e Portugal) “estão sob risco elevado ao nível da análise à sustentabilidade da dívida devido ao alto nível de dívida medido em percentagem do PIB (acima de 90 por cento) num cenário de base de não alteração de políticas orçamentais (que, claro, conduz a rácios de dívida ainda mais altos quando se fazem testes de sensibilidade negativa)”.
Os economistas avisam que, com dívida alta, “o impacto de choques nas taxas de juro passa a ser particularmente grande em Itália, Espanha e Portugal”. Se a taxa média de toda a dívida subir um ponto percentual, Itália chega a 2027 com mais 9,0 por cento do PIB em dívida e Portugal com mais 7,0 por cento face ao previsto no cenário de base.
Menos rendimento
Portugal é um dos sete países da União Europeia onde os trabalhadores ganham hoje menos do que há oito anos, aponta um estudo publicado ontem em Bruxelas pela Confederação Europeia de Sindicatos (CES), em colaboração com o Instituto Sindical Europeu.
De acordo com o estudo, entre 2009 e 2016, os salários reais (corrigidos pela inflação) caíram anualmente em média 3,1 por cento na Grécia, um por cento na Croácia, 0,9 por cento na Hungria, 0,7 por cento em Portugal, 0,6 por cento em Chipre, 0,4 por cento no Reino Unido e 0,3 por cento em Itália.
O estudo aponta ainda que em 18 países o crescimento do salário real entre 2009 e 2016 foi mais fraco do que no período entre 2001 e 2008, e apenas três países, Alemanha, Polónia e Bulgária, viram os aumentos dos salários reais nos últimos oito anos ultrapassar aqueles dos oito anos anteriores.
“É uma notícia muito má, não apenas para os trabalhadores e suas famílias, mas também para as empresas”, comentou a secretária-geral da Confederação Europeia de Sindicatos, apontando que “se os trabalhadores têm menos dinheiro para gastar, as empresas também se ressentem”. Segundo Esther Lynch, “o tempo de um verdadeiro relançamento chegou” e “os trabalhadores têm necessidade de um aumento salarial em toda a Europa”.