Um ataque à liberdade de imprensa
O cenário político nacional começa a estar ao rubro. O MPLA tomou a dianteira, mas os outros partidos políticos, finalmente, começaram a colocar as suas máquinas eleitorais em marcha. A UNITA esteve sábado último em Viana, ao passo que a CASA-CE esteve no corredor Benguela-Lobito.
A UNITA usou como pretexto para a realização do seu acto de massas em Viana a celebração do seu 51º aniversário. O partido liderado por Isaías Samakuva juntou os seus militantes em torno dos ideais do projecto Muangai, de que temos triste memória. Isaías Samakuva que assumiu a liderança da UNITA desde 2002, sucedendo ao seu fundador, não percebeu os ventos da história, mantendo o partido associado ao passado belicista. O que se viu foi um partido fracturado numa manta de retalhos, da qual a prova mais evidente é a saída de Abel Chivukuvuku. Nem mesmo o facto de partilharem a mesma ideologia os tornou conciliáveis.
Mas as dissidências na UNITA não ficaram por aí. Continuamos a ouvir, aqui e acolá, militantes da UNITA que abandonam as hostes do seu partido e é importante que se saiba de facto o que se passa neste partido e qual a explicação para tantas deserções. Serão questões ideológicas? Questões de liderança? Questões organizacionais? Interferências externas? Qual é a matriz do divisionismo e dissidências na UNITA? A última delas foi protagonizada por Fernando Heitor.
Como seria de esperar, a UNITA minimizou a saída, das suas hostes, do economista Fernando Heitor que assim mostrou-se como um novo cabo da sociedade civil. Fernando Heitor acenou ao MPLA e manifestou-se disponível para integrar o seu governo.
A postura da UNITA não é surpreendente e procura não revelar as debilidades que se criam para o partido numa altura em que é expectável que venha a apresentar a sua lista e o seu programa de Governo. Partindo deste axioma, e sabendo que Fernando Heitor foi a peça principal das nuances económicas do programa da UNITA, rapidamente percebemos o impacto da sua saída. Ele que já foi vice-ministro das Finanças durante alguns anos do Governo de Unidade e Reconciliação Nacional (GURN), sempre revelou ter algum conhecimento técnico e domínio dos contornos da gestão macroeconómica na Mutamba. Um partido como a UNITA, que pretende assumir-se como tendo dimensão governativa, não se pode permitir estar constantemente a perder quadros e militantes para outras formações políticas, especialmente para o MPLA e a CASA-CE.
Por outro lado, a actividade da UNITA, em Viana, ficou ainda manchada pelo linchamento dos seus militantes aos jornalistas da TPA e da Rádio Nacional, que estavam no local para a cobertura política da actividade. É assustador vermos essa postura por parte da UNITA, ou se quisermos dos seus militantes, uma vez que estes arrogamse como grandes defensores da liberdade de imprensa. Então, que liberdade de imprensa é esta que molesta jornalistas em cobertura?
Como jornalistas e como pessoas não podemos pactuar com isso e assusta-nos o silêncio cúmplice dos dirigentes do partido do galo negro que se mostram ávidos em condicionar o trabalho dos jornalistas em vez de tudo fazerem por uma imprensa independente e plural.
Abel Chivukuvuku levou a sua mensagem aos benguelenses. Percorreu o interior de alguns bairros e não poupou críticas à governação. Apelou também ao registo eleitoral porque percebeu finalmente que para atingir os seus propósitos, tornar-se na segunda maior força política em Angola, é necessário que haja votação do eleitorado. É necessário que o povo participe no registo eleitoral para que esteja habilitado a votar.
O que a nossa oposição não reconhece é o trabalho que está a ser feito no sentido de se electrificar Angola. Existem vários projectos estruturantes, em curso, ao nível do sector energético, com destaque para o aproveitamento hidroeléctrico de Laúca e a Central do Ciclo Combinado do Soyo, entre outros mais.
Percebendo o sentido estratégico destes projectos e o seu impacto económico e social, o Executivo em momento algum cedeu face às circunstâncias conjunturais ligadas ao quadro macroeconómico. Afinal, como todos sabemos, nem mesmo as dificuldades financeiras do Estado ofuscaram o objectivo. Assim, em 2017, o cenário de electrificação das cidades de Angola irá mudar drasticamente. Teremos cidades mais iluminadas, menos cortes e maior capacidade de abastecimento que satisfaça as nossas demandas para a economia, mormente para a agricultura, indústria, serviços e infra-estruturas de transporte urbano.
É verdade que estas obras, por si só, não significam que estejamos numa situação de autossuficiência energética. São, todavia, um passo importante nesta direcção e é justo que haja este reconhecimento ao Executivo liderado pelo Presidente José Eduardo dos Santos.
Parece-nos então que a oposição finalmente despertou para o trabalho político que é necessário fazer para conquistar o eleitorado. Despertou tarde pois o MPLA tem já a sua máquina oleada em marcha. Nunca é tarde, como soe dizer-se.