Alemães alertados sobre viagens
Troca de acusações sobre apoio a terroristas belisca relações entre Berlim e Ancara
A Alemanha actualizou as suas recomendações de viagem para a Turquia por causa da tensão entre os dois países e advertiu os viajantes sobre possíveis protestos que podem também visar os alemães.
O Ministério alemão dos Negócios Estrangeiros refere, na sua página de Internet, que em 16 de Abril a Turquia realiza um referendo com o qual o Presidente do país, Recep Tayyip Erdogan, quer avançar rumo a um sistema presidencialista.
“Em relação à campanha eleitoral, é preciso contar com um aumento das tensões políticas e protestos, que também podem estar dirigidos contra a Alemanha. Em casos isolados, viajantes alemães na Turquia também podem ser afectados”, advertiu o ministério alemão.
O Governo germânico lembrou que, desde o princípio de Fevereiro, houve casos de cidadãos alemães cujos pedidos de entrada na Turquia foram negados, sem que recebessem qualquer explicação, e que tiveram que regressar à Alemanha após várias horas de detenção.
Apesar do direito legal dos cidadãos alemães à assistência dos seus consulados, “não é possível garantir protecção consular em cada caso, frente a medidas soberanas do Governo turco e das suas autoridades”, quando o atingido possui também a cidadania turca, ressaltou o Governo alemão.
O ministério recorda também o estado de excepção imposto após a tentativa de golpe de Estado em Julho do ano passado e que está vigente, pelo menos, até 19 de Abril. Assim, as autoridades podem decretar num curto prazo de tempo recolher obrigatório, realizar diligências e, em geral, controlos de identidade em qualquer momento e as pessoas que respondem a um processo penal na Turquia, em particular em relação com a tentativa fracassada de golpe, poderão ver a sua saída do país vetada.
As medidas também “podem voltar-se contra pessoas que não possuem nacionalidade turca”, advertiu o ministério alemão. A pasta de Relações Exteriores também alerta que não podem ser descartados atentados terroristas, em particular contra estrangeiros, como os que estão a ser cometidos desde meados de 2015.
A actualização das recomendações de viagem foram publicadas quase em simultâneo com as acusações feitas na segunda-feira por Erdogan contra a chanceler alemã, Angela Merkel, a quem acusou de “apoiar o terrorismo”, em referência à guerrilha curda do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).
Este novo ataque aconteceu durante uma entrevista do Presidente Erdogan, depois do cancelamento de actos eleitorais de ministros turcos na Alemanha nos últimos dias. As relações bilaterais já tinham sido afectadas pelo encarceramento na Turquia do jornalista alemãoturco Deniz Yücel, correspondente do jornal alemão “Die Welt”.
Noutra frente, o Presidente da Turquia anunciou ontem que o seu país vai adoptar “novas medidas” contra a Holanda, país que acusou de “terrorismo de Estado” por ter impedido a participação de dois ministros turcos em comícios da comunidade turca, informou a AFP.
Erdogan disse ainda que a vitória do “Sim" no referendo constitucional de 16 de Abril era a melhor resposta aos “inimigos” da Turquia.