Mostra de cinema promove realizadoras angolanas
“ELAS NO ECRÔ Iniciativa ajuda a conhecer os trabalhos cinematográficos produzidos por mulheres
A criação de incentivos e dar mais oportunidades aos filmes produzidos por realizadoras angolanas e brasileiras é o principal objectivo da mostra de cinema “Elas no Ecrã”, que vai decorrer de 20 a 24 deste mês no auditório do Centro Cultural BrasilAngola (CCBA), em Luanda.
Essa garantia foi dada, ontem em Luanda, durante numa conferência de imprensa pela directora do CCBA, Nidia Klein, tendo avançado que a iniciativa visa essencialmente promover as cineastas angolanas, pelo facto de existirem poucas mulheres na produção de filmes nacionais no país.
A responsável lamentou o facto e mostrou-se preocupada com a falta de um ciclo comercial, no sentido de ajudar a promover e divulgar mais os filmes angolanos produzidos por mulheres.
A questão da desigualdade no género e financiamentos dos projectos cinematográficos, explica, é um problema universal e não apenas de Angola, razão pela qual acredita que, para uma maior produção cinematográfica, devem ser melhoradas as políticas nacionais de incentivo à criação nacional.
Referiu que, no próximo ano, o CCBA pretende trazer ao país a realizadora brasileira Anna Muylaert, que se mostrou indisponível para este ano, por estar neste momento engajada um projecto cinematográfico.
A chefe de departamento e divulgação da Cinemateca Nacional, Ana Maria, disse que a iniciativa, numa parceria com a Associação de Associação Angolana dos Profissionais de Cinema e Audiovisual (Aprocima) e o CCBA, vai ajudar a promover e permitir que os espectadores possam conhecer melhor os trabalhos produzidos pelas realizadoras angolanas e brasileiras. Apelou às mulheres para apostarem na carreira de realizadoras, por reconhecer nelas qualidade, capacidade e dedicação nos desafios que se propõem fazer. “Queremos ver mais mulheres a se dedicarem à produção de filmes nacionais e dar o seu contributo para o crescimento e desenvolvimento do cinema no país.”
Registos de filmes
Outra preocupação, disse, é o pouco registo de filmes produzidos por realizadoras angolanas no depósito da Cinemateca. “É importante que se faça o depósito dos filmes e assim termos um base de dados de tudo aquilo que está a ser feito em termos de produção feminina e criar formas de promover com maior intensidade os filmes nacionais.” Para o secretário-geral da Associação Angolana dos Profissionais de Cinema e Audiovisual (Aprocima), Francisco Keth, um dos principais objectivos da mostra “Elas no Ecrã” é promover os poucos trabalhos existentes no país, produzidos por realizadoras nacionais.
A formação com a realização permanente de seminários e oficinas sobre o cinema, garante, pode ser um dos caminhos para se motivar o aparecimento de mais mulheres realizadoras. “A produção cinematográfica exige o engajamento de muitas áreas, o que não acontece com muitas outras disciplinas artísticas.”
Explicou que está previsto, para breve, o arranque do projecto “Camba do cinema”, que deve ser realizado todas às primeiras quintas-feiras de cada mês, no auditório do Centro Cultural Brasil-Angola.
Durante a mostra, foram propostos filmes que abordam a realidade africana, onde se inclui os filmes angolanos “Na cidade vazia”, de Maria João Ganga, “Um passeio inesquecível”, de Analtina Dias, “Os pais gritam socorro”, de Albertina Kapitango, e os filmes brasileiros “Ori”, um documentário de Raquel Gerber, e “Que horas ela volta”, ficção de Ana Muylaert.
“Elas no Ecrã” resulta de uma parceria entre o Centro Cultural Brasil-Angola com a Cinemateca Nacional e a Associação Angolana dos Profissionais de Cinema e Audiovisual (Aprocima).
A partir do dia 20, realizam-se duas exibições diárias, sendo a primeira das 16h00 às 18h00 e a segunda das 19h00 às 21h00. A mostra, para maiores de 13 anos, a primeira do género, tem como objectivo destacar obras realizadas por mulheres, com vista a homenagear as realizadoras. A mostra assinala, também, o arranque da parceria entre o CCBA e a Aprocima.
Produção feminina
O filme “Os pais gritam socorro”, de Albertina Kapitango, gira em torno de uma jovem, Lilí, “oferecida” pela mãe a uma família rica que ao invés de lhe assegurar a formação, como pretendiam os parentes biológicos, faz dela uma empregada de quem se cobra trabalho duro.
Com o tempo, a mesma conhece um jovem pobre com quem passa a viver, mas, por causa da ambição, troca-o por um cidadão rico que lhe dá casamento, sem conhecer a sua verdadeira origem e a condição social.
Já o filme realizado por Analtina Dias, apresentadora da Televisão Pública de Angola, “Contador de histórias - um passeio inesquecível”, retrata a vida de duas famílias da classe média que resolvem fazer um passeio no fim-de-semana. Escolhem uma zona cheia de mitos e tradições. Entre comes e bebes e muita conversa, esquecem-se de prestar atenção às filhas que na brincadeira se afastam, uma situação que muda para sempre a vida dos casais.
O filme “Na cidade vazia” é um longa-metragem cinematográfico rodado na cidade de Luanda, baseado num guião escrito em 1990, que retrata o drama das crianças angolanas, como consequência da guerra, tendo como actores principais adolescentes não profissionais.