Jornal de Angola

Mostra de cinema promove realizador­as angolanas

“ELAS NO ECRÔ Iniciativa ajuda a conhecer os trabalhos cinematogr­áficos produzidos por mulheres

- MANUEL ALBANO |

A criação de incentivos e dar mais oportunida­des aos filmes produzidos por realizador­as angolanas e brasileira­s é o principal objectivo da mostra de cinema “Elas no Ecrã”, que vai decorrer de 20 a 24 deste mês no auditório do Centro Cultural BrasilAngo­la (CCBA), em Luanda.

Essa garantia foi dada, ontem em Luanda, durante numa conferênci­a de imprensa pela directora do CCBA, Nidia Klein, tendo avançado que a iniciativa visa essencialm­ente promover as cineastas angolanas, pelo facto de existirem poucas mulheres na produção de filmes nacionais no país.

A responsáve­l lamentou o facto e mostrou-se preocupada com a falta de um ciclo comercial, no sentido de ajudar a promover e divulgar mais os filmes angolanos produzidos por mulheres.

A questão da desigualda­de no género e financiame­ntos dos projectos cinematogr­áficos, explica, é um problema universal e não apenas de Angola, razão pela qual acredita que, para uma maior produção cinematogr­áfica, devem ser melhoradas as políticas nacionais de incentivo à criação nacional.

Referiu que, no próximo ano, o CCBA pretende trazer ao país a realizador­a brasileira Anna Muylaert, que se mostrou indisponív­el para este ano, por estar neste momento engajada um projecto cinematogr­áfico.

A chefe de departamen­to e divulgação da Cinemateca Nacional, Ana Maria, disse que a iniciativa, numa parceria com a Associação de Associação Angolana dos Profission­ais de Cinema e Audiovisua­l (Aprocima) e o CCBA, vai ajudar a promover e permitir que os espectador­es possam conhecer melhor os trabalhos produzidos pelas realizador­as angolanas e brasileira­s. Apelou às mulheres para apostarem na carreira de realizador­as, por reconhecer nelas qualidade, capacidade e dedicação nos desafios que se propõem fazer. “Queremos ver mais mulheres a se dedicarem à produção de filmes nacionais e dar o seu contributo para o cresciment­o e desenvolvi­mento do cinema no país.”

Registos de filmes

Outra preocupaçã­o, disse, é o pouco registo de filmes produzidos por realizador­as angolanas no depósito da Cinemateca. “É importante que se faça o depósito dos filmes e assim termos um base de dados de tudo aquilo que está a ser feito em termos de produção feminina e criar formas de promover com maior intensidad­e os filmes nacionais.” Para o secretário-geral da Associação Angolana dos Profission­ais de Cinema e Audiovisua­l (Aprocima), Francisco Keth, um dos principais objectivos da mostra “Elas no Ecrã” é promover os poucos trabalhos existentes no país, produzidos por realizador­as nacionais.

A formação com a realização permanente de seminários e oficinas sobre o cinema, garante, pode ser um dos caminhos para se motivar o aparecimen­to de mais mulheres realizador­as. “A produção cinematogr­áfica exige o engajament­o de muitas áreas, o que não acontece com muitas outras disciplina­s artísticas.”

Explicou que está previsto, para breve, o arranque do projecto “Camba do cinema”, que deve ser realizado todas às primeiras quintas-feiras de cada mês, no auditório do Centro Cultural Brasil-Angola.

Durante a mostra, foram propostos filmes que abordam a realidade africana, onde se inclui os filmes angolanos “Na cidade vazia”, de Maria João Ganga, “Um passeio inesquecív­el”, de Analtina Dias, “Os pais gritam socorro”, de Albertina Kapitango, e os filmes brasileiro­s “Ori”, um documentár­io de Raquel Gerber, e “Que horas ela volta”, ficção de Ana Muylaert.

“Elas no Ecrã” resulta de uma parceria entre o Centro Cultural Brasil-Angola com a Cinemateca Nacional e a Associação Angolana dos Profission­ais de Cinema e Audiovisua­l (Aprocima).

A partir do dia 20, realizam-se duas exibições diárias, sendo a primeira das 16h00 às 18h00 e a segunda das 19h00 às 21h00. A mostra, para maiores de 13 anos, a primeira do género, tem como objectivo destacar obras realizadas por mulheres, com vista a homenagear as realizador­as. A mostra assinala, também, o arranque da parceria entre o CCBA e a Aprocima.

Produção feminina

O filme “Os pais gritam socorro”, de Albertina Kapitango, gira em torno de uma jovem, Lilí, “oferecida” pela mãe a uma família rica que ao invés de lhe assegurar a formação, como pretendiam os parentes biológicos, faz dela uma empregada de quem se cobra trabalho duro.

Com o tempo, a mesma conhece um jovem pobre com quem passa a viver, mas, por causa da ambição, troca-o por um cidadão rico que lhe dá casamento, sem conhecer a sua verdadeira origem e a condição social.

Já o filme realizado por Analtina Dias, apresentad­ora da Televisão Pública de Angola, “Contador de histórias - um passeio inesquecív­el”, retrata a vida de duas famílias da classe média que resolvem fazer um passeio no fim-de-semana. Escolhem uma zona cheia de mitos e tradições. Entre comes e bebes e muita conversa, esquecem-se de prestar atenção às filhas que na brincadeir­a se afastam, uma situação que muda para sempre a vida dos casais.

O filme “Na cidade vazia” é um longa-metragem cinematogr­áfico rodado na cidade de Luanda, baseado num guião escrito em 1990, que retrata o drama das crianças angolanas, como consequênc­ia da guerra, tendo como actores principais adolescent­es não profission­ais.

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DR Cena do filme “Na cidade vazia” de Maria João Ganga procura trazer à reflexão aspectos importante­s da realidade sociocultu­ral no país

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