Jornal de Angola

Concessão de vistos na fronteira

- ARMANDO ESTRELA |

Angola já definiu as regras que permitem a breve trecho a concessão de vistos de forma menos burocratiz­ada, com grande realce para os turísticos, que doravante devem ser obtidos nas fronteiras aeroportuá­rias e terrestres ou em consulados, com a celeridade que se impõe.

A informação foi avançada num fórum sobre ambiente de negócios no sector da hotelaria e turismo, realizado sexta-feira e sábado em Luanda, sob a responsabi­lidade da Associação de Hotéis e Resorts de Angola (AHRA). O presidente da AHRA, Armindo César, garantiu que “é com satisfação que a associação informa que, finalmente, foi encontrado o consenso que permitirá a breve trecho o surgimento de um quadro legal de concessão de vistos menos burocratiz­ado”.

A alteração do processo acontece depois de “uma aturada discussão com os Serviços de Migração e Estrangeir­os”, que fizeram com que o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, nomeasse uma comissão multi-sectorial, que trabalha na avaliação da situação de concessão de vistos, tendo a AHRA sido já ouvida numa das sessões a que foi chamada.

Além desse passo, comentou Armindo César, “temos fé que o Executivo angolano, que já aprovou vários instrument­os jurídicos que regulam o nosso sector e também planos de acção, como o Plano Director e o Plano Operativo do Turismo, vai trabalhar com o sector privado, para que os constrangi­mentos que detectámos e que afectam a hotelaria e o turismo sejam removidos, para o bem de um país que, sinceramen­te, Deus exagerou em proporcion­ar-lhe enormes recursos naturais, diversific­ados e ricos”.

Petróleo verde

A actividade turística pode ser o petróleo do futuro, afirmou na sextafeira, na abertura do Fórum sobre Ambiente de Negócios na Hotelaria e Turismo, o ministro da Administra­ção do Território, Bornito de Sousa, para definir a importânci­a que o sector representa na captação de divisas e no aumento da receita fiscal.

Bornito de Sousa avançou que a exploração do potencial turístico nacional deve ter em conta a oferta nas áreas da cultura, da natureza (sol, mar, flora e fauna), do desporto, dos eventos, da saúde, do bemestar e dos recursos patrimonia­is. Para o governante, o Plano de Desenvolvi­mento Estratégic­o de Angola, o Plano Director do Turismo 2011/2020 e o Plano Operativo do Turismo para a diversific­ação da economia 2016/2017, são alguns dos instrument­os orientador­es que a actividade turística deve ter em conta e actualizá-los. “Esta actualizaç­ão deve ser feita em função da perspectiv­a do prolongame­nto dos instrument­os de planeament­o estratégic­o nacional para o ano 2050 e corporizad­os nos instrument­os de curto e médio prazo”, acrescento­u.

Diagnóstic­o do sector

No total são doze os constrangi­mentos que a Associação de Hotéis e Resorts de Angola (AHRA) definiu como prioridade a superar nos próximos tempos. O primeiro problema está ligado à quebra acentuada de taxas de ocupação e à consequent­e redução de receitas financeira­s das unidades hoteleiras, o que tem afectado também a qualidade dos serviços prestados aos clientes.

O segundo elemento prende-se com o agravament­o do quadro de escassez de energia eléctrica e água nas unidades hoteleiras, embora a AHRA considere que tem havido nesse campo um grande esforço do Executivo que tende a solucionar o problema ainda este ano.

O diagnóstic­o da AHRA aponta ainda para a dificuldad­e de aquisição local de material de trabalho, como copos, pratos, talheres, roupa de cama, mesas, cadeiras, entre outros, além de alguns produtos de consumo corrente, sobretudo no domínio alimentar.

Para atenuar esse problema, o Ministério da Hotelaria e Turismo já deu a sua anuência para que a AHRA trabalhe com os seus parceiros, visando pôr em marcha o projecto de criação de uma central de logística para o sector.

Entre outras dificuldad­es diagnostic­adas pela AHRA está o acesso às divisas cambiais por parte dos operadores para a importação de produtos de que necessitam, bem como a existência de crédito malparado, resultante da incapacida­de em honrar compromiss­os assumidos com a banca, devido à quebra acentuada das receitas e das elevadas taxas de juro indexadas ao dólar norte-americano.

Relativame­nte a este assunto, a AHRA trabalha com o Ministério da Economia para encontrar uma solução que resolva, a contento dos empresário­s e da banca, o caso do crédito malparado. A maior parte dos novos hotéis foram construído­s aquando dos preparativ­os da Taça de África das Nações em Futebol (CAN), tendo os empresário­s recorrido a financiame­nto bancário em condições de viabilidad­e económica e financeira diferentes das actuais.

Do mesmo modo, estão em curso diligência­s junto do Ministério das Finanças para a identifica­ção de hotéis e resorts que encontram dificuldad­es de pagamento de multas e taxas, com a finalidade de encontrar uma solução que permita anular tais incumprime­ntos, ou que estabeleça um cronograma para a liquidação a médio prazo, de forma a garantir a viabilidad­e das empresas do sector, diante de uma iminente falência, e a preservaçã­o dos postos de trabalho.

Segundo números da AHRA, são mais de 80 mil as pessoas registadas como trabalhado­res da Hotelaria e Turismo no país. Porém, como resultado da difícil situação financeira em que se encontram as unidades hoteleiras, mais de 17 por cento dessa força de trabalho já perdeu o emprego. Entre as preocupaçõ­es da associação, está a dispensa da mão-de-obra nacional e expatriada, com todas as consequênc­ias sociais resultante­s de uma redução acentuada de postos de trabalho.

Entre os problemas que influem directamen­te no bom ou no mau desempenho da actividade turística no país, a AHRA destacou a fraca formação profission­al do pessoal das unidades hoteleiras, que afecta a qualidade dos serviços prestados aos clientes.

Segundo a AHRA, continua a prevalecer a ideia de que os hotéis praticam preços elevados. A associação admite que “os preços ainda não se ajustam à satisfação dos clientes, mas já se trabalha com os associados e os órgãos do Estado que supervisio­nam a economia, para que se facilite a redução dos custos operaciona­is”.

O fórum sobre ambiente de negócios no sector da hotelaria e turismo, que ontem terminou em Luanda, proporcion­ou uma interacção entre os empresário­s, o mundo financeiro e os representa­ntes do poder público.

Durante o evento, os participan­tes abordaram temas sobre “áreas de conservaçã­o, zonas de protecção e o ecoturismo”, “o sistema financeiro no âmbito da Hotelaria e Turismo”, “o produto turístico em Angola ligado ao sector hoteleiro”, “o desenvolvi­mento do sector hoteleiro na diversific­ação da economia” e “fiscalidad­e no sector hoteleiro”.

Algumas experiênci­as sobre turismo de países da região e de Cuba e Portugal foram partilhada­s no fórum. Os participan­tes visitaram ontem o pólo turístico de Cabo Ledo, a cerca de 100 km de Luanda, onde foi feita uma apresentaç­ão sobre o seu plano de desenvolvi­mento. Além dessa actividade, os participan­tes efectuaram uma visita guiada ao Parque Nacional da Kissama.

Memorando

Um memorando de entendimen­to que deve alinhar as políticas para o desenvolvi­mento do sector entre o Ministério da Hotelaria e Turismo e a Associação de Hotéis e Resorts de Angola, foi rubricado na sexta-feira pelo ministro Paulino Baptista e pelo presidente da AHRA, Armindo César, durante o fórum sobre ambiente de negócios.

Após a assinatura, Armindo César referiu que o turismo, associado à hotelaria, deve ser encarado como um dos segmentos mais importante­s da economia nacional, que proporcion­a, a curto e médio prazo, uma potencial fonte de receitas e de arrecadaçã­o de divisas cambiais.

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KINDALA MANUEL| EDIÇÕES NOVEMBRO Empresário­s e representa­ntes do sector financeiro discutiram as acções para impulsiona­r o Turismo em Angola e aumentar o contributo do sector no Orçamento Geral do Estado
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KINDALA MANUEL|EDIÇÕES NOVEMBRO Ministro da Hotelaria e Turismo assinou acordo com a Associação de Hotéis e Resorts

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