Uhuru Kenyatta acciona o exército
ONU pede ajuda urgente da comunidade internacional para o leste de África
O Presidente do Quénia ordenou ontem os militares que se deslocassem aos departamentos administrativos de Baringo e Laikipia, para controlar a violência provocada por uma seca que afecta cerca de metade do país. Uhuru Kenyatta autorizou a deslocação imediata das Forças de Defesa do Quénia para apoiar a acção da polícia.
Pelo menos 21 pessoas foram mortas durante os confrontos entre pastores no condado de Baringo desde o início de Fevereiro, dos quais 13 só esta semana. E no de Laikipia, um rancheiro britânico foi morto este mês por pastores que invadiram ranchos em busca de pasto e água.
Os militares quenianos têm sido acusados de abusos de direitos humanos, incluindo torturas e execuções, em várias acções de segurança interna. Porém, a força policial tem sofrido os ataques mais mortíferos da sua história às mãos dos pastores. Pelo menos 42 polícias foram mortos em Novembro de 2012, quando procuravam perseguir pastores que tinham roubado gado a uma comunidade rival.
Em Novembro de 2014, 21 agentes policiais foram mortos quando perseguiam pastores Pokot em Kapedo, nos limites dos condados de Turkana e Baringo.
Catástrofe na Somália
Na região leste de África, além do Quénia, também a Somália declarou uma situação de desastre nacional devido à seca. O SecretárioGeral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, tinha
Fenómeno da seca afecta vários países da região leste de África onde pessoas e animais acabam por morrer devido à falta de água
apelado aos países ricos para que se mobilizassem contra uma seca severa no leste de África.
No início deste mês, o novo Presidente somali, Mohamed Abdullahi Mohamed (Farmajo), decretou, em Mogadíscio, como “catástrofe nacional” a grave seca que assola o seu país e, que segundo as agências humanitárias internacionais, a fome ameaça pelo menos três milhões de pessoas.
O Presidente apelou à comunidade internacional a reagir com urgência face à catástrofe, afim de ajudar as famílias a se recuperarem dos efeitos da seca para evitar uma tragédia humanitária, segundo um comunicado da Presidência somali.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) advertia, ao mesmo tempo, que a Somália corria o risco de conhecer uma terceira situação de fome em 25 anos.
A última crise foi registada na Somália em 2011, resultado de uma anterior grave seca no Corno de África, agravada pelo conflito com a insurreição islamita shebab.
A Organização Mundial da Saúde estima que na Somália mais de 6,2 milhões de pessoas, ou seja a metade da população, necessita de uma ajuda humanitária de urgência, incluindo quase três milhões de pessoas que sofrem de fome.
De acordo com a agência das Nações Unidas, mais de 363 mil crianças estão gravemente malnutridas, entre as 70 mil gravemente desnutridas, necessitam com urgência uma ajuda vital. O fenómeno da seca, que compromete a produção de alimentos, afecta também países como o Iémen, a Nigéria e o Sudão do Sul, onde a fome atinge 100 mil pessoas. Mais de 20 milhões de pessoas correm o risco de morrer de fome nestes países.
O Governo do Canadá anunciou uma ajuda financeira de 120 milhões de dólares canadianos (84 milhões de euros) para dar resposta às necessidades das populações afectadas pela crise alimentar na Nigéria, na Somália, no Sudão do Sul e no Iémen.
“A situação deteriorou-se a tal ponto que se tornou uma tragédia humana, porque mais de 20 milhões de pessoas são vítimas da fome”, estimou a ministra do Desenvolvimento Internacional, MarieClaude Bibeau.
Os três países africanos e o Iémen, confrontados com conflitos armados, foram identificados pela Organização das Nações Unidas (ONU) como necessitando de uma mobilização urgente da comunidade internacional para reunir 4,4 mil milhões de dólares dos EUA até Julho, para “evitar uma catástrofe”.
A participação do Canadá “vai permitir dar uma ajuda vital às populações afectadas pela crise nestes países”, em particular às crianças, indicou o Ministério canadiano do Desenvolvimento.