E se Donald Trump foi ajudado pelos russos ?
Quando se pensava que tinham terminado todas as cogitações sobre uma eventual interferência russa nas eleições que transformaram o magnata do imobiliário nova-iorquino, Donald Trump, no 45 º Presidente dos Estados Unidos, parece que a procissão anda ainda pelo adro. Embora Donald Trump diga várias vezes que se tratam de “falsas notícias” que vinculam a sua vitória a uma eventual interferência russa, na verdade, persistem evidências, umas discutíveis, outras mais razoáveis, razão pela qual há muito ainda por se escrutinar. Cada vez mais, reforça-se a presunção de que os sinais que despontam podem não ser unicamente “fumo sem fogo”, na medida em que quer os contactos que a equipa de transição da nova administração alegadamente manteve com entidades diplomáticas e emissários russos, quer os laços de negócios, entre outros, sustentam várias hipóteses.
Segundo a imprensa americana, em Janeiro, as agências de inteligência americanas concluíram que o Presidente Vladimir Putin da Rússia tinha alegadamente ordenado pessoalmente um conjunto de operações para prejudicar as oportunidades de Hillary Clinton e ajudar Donald Trump a vencer as eleições.
De acordo com o jornal The New York Times, citando fontes das agências de inteligência, entre as acções que supostamente ajudariam o republicano a vencer as eleições constavam a pirataria informática contra alvos políticos identificados, incluindo todo o Comité Nacional Democrata, bem como a publicação de correio electrónico com conteúdo embaraçoso através do site WikiLeaks para prejudicar a candidatura democrata. Tratava-se, já naquela altura, de revelações muito comprometedoras que, com mais investigação por parte da comunidade de inteligência e do FBI, o assunto pode ganhar contornos judiciais graves.
O anúncio recente de James Comey, director da CIA, perante um comité da Câmara dos Representantes, segundo o qual a sua instituição vai investigar se os membros da equipa de Donald Trump terão conspirado ou não com os russos para influenciar os resultados eleitorais, chegou como uma bomba. O número um da famosa agência de inteligência disse aos legisladores que o FBI investiga a natureza dos contactos entre indivíduos associados à equipa de campanha de Donald Trump e o Governo russo e se houve alguma coordenação entre as duas partes.
E a pergunta que não cessa de ser formulada a todos os momentos passa pelo seguinte: e se porventura Donald Trump foi ajudado pelos russos para chegar a Presidente dos Estados Unidos?
E o problema que envolve estas e outras interrogações não é para menos, sobretudo quando se sabe que colaboradores mais próximos do então candidato republicano acabaram forçados a renunciar, mal se tornou público contactos com os serviços diplomáticos e de inteligência russos antes e durante as eleições. Foi assim com Michael Flinn, o ex-militar que tinha sido sondado por Donald Trump para conselheiro para a Segurança Nacional, que se viu envolvido num dito por não dito, relativamente aos contactos que manteve com o embaixador russo, Sergei Kislyak, durante o processo de transição. Em Julho do ano passado, quando o site WikiLeaks começou a publicar os “correios electrónicos pirateados”, Carter Page, conselheiro de Trump para Política Externa, tinha visitado a Rússia e, na altura, levantaram-se questões sobre a agenda da visita e contactos que manteve. O mesmo declinou sempre a descrição daqueles pormenores, alegando apenas que manteve contactos de natureza académica na capital russa.
Está a ser difícil para a Administração Trump provar que os contactos que os elementos da sua equipa mantiveram com entidades russas não tinham nenhuma conexão com as eleições presidenciais americanas. A demissão do general Michael Flinn, o conselheiro para a Segurança Nacional, a seu pedido, chegou a ser interpretada como um gesto para “limpar” a Administração Trump.
Por isso, a revista Foreign Policy avança que todos estes problemas estão apenas a começar, numa altura em que o director da CIA, James Comey, e o director da Agência Nacional de Segurança, Michael Rogers, defendem que as acusações do Presidente Trump contra o seu antecessor são manobras de distracção do debate público. Na media, nas redes sociais e na comunidade de inteligência predomina um tema que todo o americano pretende ver esclarecido e que, embora seja cedo, pode custar a Presidência a Donald Trump: as ligações com a Rússia.
As investigações já começaram há algum tempo, mas há menos de uma semana, com o testemunho do director da CIA perante a Câmara Baixa do Congresso, o assunto tornou-se oficial e, doravante, uma espécie de contagem decrescente parece ter começado.
Para muitos legisladores, é possível que todas essas alegadas evidências que ligam a equipa da campanha de Trump aos russos sejam mera coincidência, mas é igualmente possível que não tenham sido simples acaso e que os vínculos não estejam desligados do que se cogita agora. Daí a pergunta, e se Donald Trump foi ajudado pelos russos para chegar a Presidente dos Estados Unidos?