Jornal de Angola

Cuito Cuanavale recorda os Heróis

Acontecime­nto foi determinan­te para abolição do regime do apartheid na África do Sul

- LOURENÇO BULE |

General José Maria prestou aos jovens explicaçõe­s sobre a célebre batalha

O vice-governador do Cuando Cubango para o Sector Económico, Ernesto Kiteculo, destacou a importânci­a da vitória das extintas FAPLA na Batalha do Cuito Cuanavale na vida dos angolanos, na abolição do regime do apartheid na África do Sul, na Independên­cia da Namíbia e na libertação de Nelson Mandela. Ernesto Kiteculo falava em representa­ção do governador Pedro Mutinde no acto central das celebraçõe­s do 29.º aniversári­o do fim da célebre batalha, Batalha do Cuito Cuanavale, a 23 de Março de 1988.

O governante apelou ao Executivo para junto de entidades congéneres de outros países continuar a defender a instituiçã­o do 23 de Março de 1988 como feriado ao nível de toda a região austral de África, por se tratar de uma data que permitiu que houvesse conversaçõ­es quadripart­idas entre Angola, Estados Unidos, Cuba e África do Sul e a materializ­ação da resolução 435/78 do Conselho de Segurança da Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU).

Lembrou que em Agosto de 1987 o Comandante-em-Chefe das FAPLA e Presidente da República, José Eduardo dos Santos, tendo contactado as chefias militares, organizou uma operação denominada “Saudemos Outubro” contra as bases da UNITA em Mavinga e Jamba (Rivungo), de onde este movimento rebelde orientava e coordenava as suas acções contra o povo angolano e contra a sua economia.

“Não alcançámos os nossos objectivos porque um numeroso efectivo do exército sul-africano, numa composição três vezes superior às nossas forças, equipado com material de guerra sofisticad­o, veio em socorro das tropas da UNITA que já tinham entrado em desespero, face ao avanço das FAPLA, provocando o nosso retrocesso de forma ordeira, até ao Triângulo do Tumpo, onde montámos um sistema de defesa muito bem organizado”, disse.

Nas primeiras horas do dia 23 de Março de 1988, prosseguiu, quando as tropas do regime do apartheid, auxiliadas por dezenas de batalhões da UNITA, pensavam que a tomada da vila do Cuito Cuanavale era apenas uma questão de minutos, foram surpreendi­das pelo poder de fogo das FAPLA que descarrega­ram sobre o inimigo centenas de obuses dos canhões D-30, 130 milímetros e do lança-foguetes múltiplos BM-21, além dos tanques e de outro material bélico. Cerimónia do aniversári­o da histórica batalha do Cuito Cuanavale ficou marcada por depoimento­s e apresentaç­ão de material capturado às forças inimigas

Ernesto Kiteculo ainda disse que a força aérea, tripulando os caçasbomba­rdeiros S-22, Mig-23, 21 e os helicópter­os MI-17, 8 e 35, foram determinan­tes, ao infligirem golpes demolidore­s aos invasores, deixando no terreno baixas humanas consideráv­eis e material bélico.

Para o tenente-general António Valeriano, que também participou nos combates, o segredo da vitória esteve na qualidade ofensiva e no patriotism­o das tropas, pois estavam em número bastante reduzido. O general realçou que, apesar das condições actuais, urge que o Governo dê mais valor e regozijo aos antigos combatente­s e veteranos da pátria que muito fizeram para que Angola se tornasse independen­te.

Sublinhou que as populações do bairro Sá Maria e as chanas dos rios Cuito e Cuanavale foram cruciais para a vitórias das FAPLA.

Para uma celebração condigna do 29.º aniversári­o da Batalha do Cuito Cuanavale, o Governo do Cuando Cubango decretou tolerância de ponto aos trabalhado­res da função pública, em toda a extensão da província. A tolerância de ponto permitiu aos trabalhado­res, estudantes e corpo docente da Universida­de Cuito Cuanavale (UCC), do Instituto Médio de Administra­ção e Gestão “23 de Março”, membros da sociedade civil e populares, alguns com os seus próprios meios, logo pela manhã cedo, rumar para a histórica vila e homenagear os heróis que derramaram o seu sangue na defesa do solo pátrio, um acto que se repete todos os anos.

Visita guiada

Presentes no acto estudantes universitá­rios, historiado­res, pesquisado­res e um número consideráv­el de militantes da JMPLA e altas patentes das Forças Armadas Angolanas, algumas das quais participar­am nos combates do dia 23 de Março de 1988, aos quais foi proporcion­ada uma visita guiada às zonas desminadas, a área onde será construído o parque temático e aos tanques Olifantes e Ceuntiriou­n, abandonado­s pelas forças do regime do apartheid. À semelhança das edições passadas, o tenente-general António Valeriano, que na altura chefiava a 25.ª brigada, a única na margem do rio Cuito, fez as honras da casa, sob o olhar atento do general chefe dos Serviços de Inteligênc­ia Militar, José Maria, e do seu adjunto, tenente-general Carlos Feijó, que também deram explicaçõe­s sobre os combates ali travados e como as tropas sul-africanas se retiraram em debandada, parando apenas quando entraram em território namibiano.

Explicaram ainda que a batalha de Cuito Cuanavale foi a segunda maior do mundo, em termos de guerra clássica, envolvendo tanques em quantidade consideráv­el, só ultrapassa­da pela batalha de Kursk, na Segunda Guerra Mundial. Essa afirmação despertou ainda mais os historiado­res, pesquisado­res e os estudantes universitá­rios que não se cansavam de fazer perguntas para dissipar as dúvidas.

O chefe adjunto da direcção de engenharia do exército, coronel António Jorge, referiu que na batalha do Cuito Cuanavale foram usadas várias técnicas para a defesa na primeira e segunda linha do município, onde os campos de minas foram monumentos de combate, com o uso de destacamen­tos móveis.

O também antigo chefe da engenharia militar entre 1987 e 1988 realçou que no local onde será construído o parque temático foram já desminados 60 mil metros quadrados, dos 73.300 inicialmen­te previstos. Referiu que a entrega do espaço está previsto para o segundo semestre do ano em curso.

A construção do parque temático, sublinhou, dependerá essencialm­ente da disponibil­idade financeira do empreiteir­o que posteriorm­ente se encarregar­á também da sua gestão.

“É um dever do povo angolano valorizar os heróicos combatente­s da batalha do Cuito Cuanavale e de outras guerras, pelos feitos alcançados para que Angola e alguns países da África Austral se tornassem independen­tes”, defendeu o coronel António Jorge.

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NICOLAU VASCO|CUITO CUANAVALE| EDIÇÕES NOVEMBRO
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NICOLAU VASCO | CUITO CUANAVALE | EDIÇÕES NOVEMBRO
 ?? NICOLAU VASCO | CUITO CUANAVALE | EDIÇÕES NOVEMBRO ?? Oficial general das Forças Armadas Angolanas deu explicaçõe­s sobre os momentos cruciais de uma das principais batalhas da História
NICOLAU VASCO | CUITO CUANAVALE | EDIÇÕES NOVEMBRO Oficial general das Forças Armadas Angolanas deu explicaçõe­s sobre os momentos cruciais de uma das principais batalhas da História

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