Chicotadas psicológicas ensombram Girabola Zap
As sete jornadas até agora disputadas, não revelaram sequer, um terço das emoções que o Girabola Zap reserva aos adeptos, no capítulo desportivo. Incógnitas como a capacidade do campeão defender o seu título, as possibilidades dos recém promovidos vingarem no escalão maior, ou ainda a eventual conquista do ceptro pelo clube mais titulado do país, ficam por responder, até aos derradeiros meses do ano em curso.
No meio destas emocionantes questões, sem resposta imediata, e que aumentam o interesse da prova, um fenómeno tristemente célebre na maior montra do nosso Futebol, continua a ter resposta pronta e garantida, desde as primeiras jornadas: o despedimento dos treinadores.
Entre os que começaram o Girabola Zap, ao comando das equipas, três técnicos deixaram de ser opção para as direcções dos clubes. Antes, Agostinho Tramagal foi substituído por Águas da Silva, no comando técnico do JGM do Huambo, por não ter fechado acordo com a direcção da equipa do Planalto Central. O treinador que dirigiu a equipa, na subida ao escalão maior, era assim repescado, após ter sido preterido em benefício de Tramagal. Num processo frenético de “Rei Morto, Rei posto”, ao espectáculo desportivo que nos é dado a ver no terreno de jogo, junta – se a azáfama da troca de treinadores. Albano César rende Paulo Figueiredo, no Progresso da Lunda Sul. Saídas importantes, terão, seguramente, fragilizado a capacidade competitiva dos lundas, com destaque para a do treinador Kito Ribeiro que levou o clube ao quarto posto na época passada. Da sexta posição, em 2015 e quarta, em 2016, o novo timoneiro encontra o clube no último lugar da tabela classificativa, com apenas um ponto.
A Académica do Lobito dispensou os serviços de António Alegre e está no mercado a procura do seu sucessor. Zeca Amaral volta ao Moxico para substituir João Pintar, apesar da vitória do Maquis, por 3 – 1 diante da Académica do Lobito, numa altura em que já estava decidida a sorte do técnico.
Tendo como referência a edição passada (e anteriores) do Girabola Zap, é possível que a procissão ainda vá no adro. Em sete jornadas do Girabola Zap 2017, estão consumadas metade do número de chicotadas psicológicas que ocorreram em 2016. Maus ventos, no aeroporto, prenunciam que pode estar iminente o quarto despedimento. Com quatro empates e duas derrotas, o técnico João Machado está por um fio, no comando da equipa do ASA.
Na transição para 2017, Beto Bianchi, no Petro de Luanda, Alberto Cardeau, no Recreativo da Caála, Dragan Jovic, no 1º de Agosto e Romeu Filemon, no Kabuscorp, foram dos poucos treinadores que mantiveram os postos de trabalho. Aos quatro, se pode incluir Zeca Amaral que ficou sem emprego, face a desistência do Benfica, de participar no Girabola Zap.
Contas feitas, a maior parte dos treinadores orienta a sua equipa, há poucos meses. Este facto explica, em parte, a pouca consistência da adaptação dos futebolistas aos treinadores e vice – versa. Entre o emaranhado de rotinas técnicas, tácticas e físicas por treinar, sem esquecer a componente psicológica, os técnicos sabem, de certeza, que dificilmente a sua marca fica patente nas equipas, em tão pouco tempo.
Ou seja, o efeito positivo da chicotada pode ser a excepção que confirma a regra. Muitos podem ocorrer, para que a troca de treinadores dê certo. A fraca qualidade da competição, pode trazer essa ilusória conclusão. Podem estar disponíveis jogadores com qualidade acima da média ou elevada capacidade de assimilação. É possível que tal suceda porque o treinador possui competência ímpar e/ou destacável capacidade pedagógica. E, embora muitos não acreditem, pode tudo correr bem, por pura sorte.
O prejuízo resultante da mudança de treinador, não recai somente para este, que fica no desemprego. A entrada de outro líder traz, invariavelmente, mudanças de filosofia e métodos de trabalho. Provoca nova hierarquização dos activos, ou seja, muitas vezes, o jogador tido como indispensável por um treinador pode liderar a lista de dispensas, na óptica de outro. Reconhecendo que as chicotadas psicológicas não beneficiam, em princípio qualquer das partes, convém lembrar que quem despede é precisamente, o mesmo que contrata. Eventualmente o erro começa neste primeiro passo, ao estabelecer objectivos competitivos acima da real capacidade do grupo. Da parte dos treinadores, a ânsia de trabalhar não deve superar o realismo da avaliação que se impõe, antes de entrar para a aventura.
Prescindir do treinador logo no início, ainda que se mascare com a usual expressão de “rescisão amigável”, envolve sempre (pelo menos em parte), o ónus da culpa, da própria direcção, na hora de estabelecer as metas, definir perfil e reunir as condições de trabalho.