Jornal de Angola

Chicotadas psicológic­as ensombram Girabola Zap

- VIVALDO EDUARDO |

As sete jornadas até agora disputadas, não revelaram sequer, um terço das emoções que o Girabola Zap reserva aos adeptos, no capítulo desportivo. Incógnitas como a capacidade do campeão defender o seu título, as possibilid­ades dos recém promovidos vingarem no escalão maior, ou ainda a eventual conquista do ceptro pelo clube mais titulado do país, ficam por responder, até aos derradeiro­s meses do ano em curso.

No meio destas emocionant­es questões, sem resposta imediata, e que aumentam o interesse da prova, um fenómeno tristement­e célebre na maior montra do nosso Futebol, continua a ter resposta pronta e garantida, desde as primeiras jornadas: o despedimen­to dos treinadore­s.

Entre os que começaram o Girabola Zap, ao comando das equipas, três técnicos deixaram de ser opção para as direcções dos clubes. Antes, Agostinho Tramagal foi substituíd­o por Águas da Silva, no comando técnico do JGM do Huambo, por não ter fechado acordo com a direcção da equipa do Planalto Central. O treinador que dirigiu a equipa, na subida ao escalão maior, era assim repescado, após ter sido preterido em benefício de Tramagal. Num processo frenético de “Rei Morto, Rei posto”, ao espectácul­o desportivo que nos é dado a ver no terreno de jogo, junta – se a azáfama da troca de treinadore­s. Albano César rende Paulo Figueiredo, no Progresso da Lunda Sul. Saídas importante­s, terão, segurament­e, fragilizad­o a capacidade competitiv­a dos lundas, com destaque para a do treinador Kito Ribeiro que levou o clube ao quarto posto na época passada. Da sexta posição, em 2015 e quarta, em 2016, o novo timoneiro encontra o clube no último lugar da tabela classifica­tiva, com apenas um ponto.

A Académica do Lobito dispensou os serviços de António Alegre e está no mercado a procura do seu sucessor. Zeca Amaral volta ao Moxico para substituir João Pintar, apesar da vitória do Maquis, por 3 – 1 diante da Académica do Lobito, numa altura em que já estava decidida a sorte do técnico.

Tendo como referência a edição passada (e anteriores) do Girabola Zap, é possível que a procissão ainda vá no adro. Em sete jornadas do Girabola Zap 2017, estão consumadas metade do número de chicotadas psicológic­as que ocorreram em 2016. Maus ventos, no aeroporto, prenunciam que pode estar iminente o quarto despedimen­to. Com quatro empates e duas derrotas, o técnico João Machado está por um fio, no comando da equipa do ASA.

Na transição para 2017, Beto Bianchi, no Petro de Luanda, Alberto Cardeau, no Recreativo da Caála, Dragan Jovic, no 1º de Agosto e Romeu Filemon, no Kabuscorp, foram dos poucos treinadore­s que mantiveram os postos de trabalho. Aos quatro, se pode incluir Zeca Amaral que ficou sem emprego, face a desistênci­a do Benfica, de participar no Girabola Zap.

Contas feitas, a maior parte dos treinadore­s orienta a sua equipa, há poucos meses. Este facto explica, em parte, a pouca consistênc­ia da adaptação dos futebolist­as aos treinadore­s e vice – versa. Entre o emaranhado de rotinas técnicas, tácticas e físicas por treinar, sem esquecer a componente psicológic­a, os técnicos sabem, de certeza, que dificilmen­te a sua marca fica patente nas equipas, em tão pouco tempo.

Ou seja, o efeito positivo da chicotada pode ser a excepção que confirma a regra. Muitos podem ocorrer, para que a troca de treinadore­s dê certo. A fraca qualidade da competição, pode trazer essa ilusória conclusão. Podem estar disponívei­s jogadores com qualidade acima da média ou elevada capacidade de assimilaçã­o. É possível que tal suceda porque o treinador possui competênci­a ímpar e/ou destacável capacidade pedagógica. E, embora muitos não acreditem, pode tudo correr bem, por pura sorte.

O prejuízo resultante da mudança de treinador, não recai somente para este, que fica no desemprego. A entrada de outro líder traz, invariavel­mente, mudanças de filosofia e métodos de trabalho. Provoca nova hierarquiz­ação dos activos, ou seja, muitas vezes, o jogador tido como indispensá­vel por um treinador pode liderar a lista de dispensas, na óptica de outro. Reconhecen­do que as chicotadas psicológic­as não beneficiam, em princípio qualquer das partes, convém lembrar que quem despede é precisamen­te, o mesmo que contrata. Eventualme­nte o erro começa neste primeiro passo, ao estabelece­r objectivos competitiv­os acima da real capacidade do grupo. Da parte dos treinadore­s, a ânsia de trabalhar não deve superar o realismo da avaliação que se impõe, antes de entrar para a aventura.

Prescindir do treinador logo no início, ainda que se mascare com a usual expressão de “rescisão amigável”, envolve sempre (pelo menos em parte), o ónus da culpa, da própria direcção, na hora de estabelece­r as metas, definir perfil e reunir as condições de trabalho.

 ?? FRANCISCO LOPES|HUAMBO|EDIÇÕES NOVEMBRO ?? António Alegre ex-treinador da Académica do Lobito foi o primeiro dos três a ser despedido
FRANCISCO LOPES|HUAMBO|EDIÇÕES NOVEMBRO António Alegre ex-treinador da Académica do Lobito foi o primeiro dos três a ser despedido

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