Bombardeamentos dos EUA matam dezenas de civis sírios
Força aérea disparou contra aviões israelitas que realizavam acções no seu território
A coligação liderada pelos Estados Unidos da América (EUA) realizou uma série de ataques contra alvos localizados em território sírio deixando um rasto de sangue na população civil, com um saldo de mais de 40 mortos.
As operações foram intensificadas no território sírio para acompanhar a ofensiva desenvolvida no Iraque. Os EUA enviaram reforços para combater os extremistas em Raqqa.
As forças norte-americanas apoiam a ofensiva árabe-curda para retomar a represa estratégica de Tabqa, próximo de Raqqa, da posse do grupo “Estado Islâmico” (“EI”), segundo o Pentágono (Ministério da Defesa dos EUA).
O secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, reforçou os comentários sobre a morte do chefe do “EI”, Abu Bakr al-Baghdadi, ao receber em Washington representantes de 67 países-membros da coligação que luta contra o grupo na Síria e no Iraque.
A nova ronda de negociações de paz para a Síria sob a supervisão da ONU dá poucas esperanças à possibilidade de encontrar uma saída para o conflito que causou mais de 320.000 mortos em seis anos.
A coligação internacional matou outros 33 civis na terça-feira, ao bombardear uma escola que servia como centro de acolhimento de deslocados em Raqqa, indicou o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).
A escola fica a sul de Al-Mansora, uma cidade nas mãos do “EI”, que costuma ser alvo dos ataques da coligação. “Podemos confirmar que 33 pessoas morreram. Eram deslocados de Raqqa, Aleppo e Homs”, afirmou o director da OSDH, Rami Abdel Rahman. “Ainda estão a retirar corpos dos escombros. Apenas duas pessoas foram resgatadas com vida do brutal ataque”, pontualizou.
O OSDH, que conta com uma ampla rede de informações e de fontes médicas na Síria, indicou a partir da sua sede em Londres que pode determinar quem foi o responsável pelo ataque, o tipo de avião utilizado, a sua localização e munição empregada. A página da Internet “Raqa is Being Slaughtered Silently”, que divulga informações da cidade, confirmou o bombardeamento contra a escola que, segundo estimativas, abrigava 50 famílias deslocadas. Na província de Raqqa, controlada na sua maioria pelo “EI”, oito civis morreram na quarta-feira e 15 ficaram feridos em ataques da coligação”, indicou o OSDH. “Os ataques atingiram uma padaria e mercados próximos da cidade de Tabqa controlada pelo ‘EI’. Há pessoas desaparecidas e talvez mortos sob os escombros”, acrescentou.
Aniquilar os extremistas
As Forças Democráticas Sírias (FDS), uma aliança árabe-curda apoiada pela coligação internacional, realizam uma ofensiva para reconquistar Raqqa. O “Estado Islâmico” sofreu inúmeros reveses nos últimos meses na sequência de três ofensivas das FDS, do Exército sírio apoiado pela Rússia e dos rebeldes ajudados pela Turquia.
Segundo o Pentágono, os extremistas islâmicos perderam 65 por cento dos territórios que possuíam no período de maior domínio, em 2014. A coligação internacional, que também ataca os extremistas islâmicos no Iraque, admitiu no início de Março que provocou a morte de 220 civis desde 2014 nos dois países.
Alguns especialistas suspeitam que o número seja muito maior. Os 68 países da coligação reuniram-se em Washington na quarta-feira, onde o Presidente norte-americano, Donald Trump, prometeu destruir os extremistas islâmicos apesar das divergências estratégicas que enfraquecem a aliança. s rebeldes e os seus aliados extremistas da Fatah al-Sham combatiam pelo quarto dia consecutivo as tropas do Governo sírio no leste de Damasco.
Os confrontos, que se concentram nos bairros de Jobar e Qabun, são os mais violentos na capital em dois anos. No centro do país, outros grupos rebeldes e seus aliados avançavam na província de Hama, onde lançaram na terça-feira uma nova ofensiva contra forças do Governo. Esta aliança conquistou vários povoados desde então, assim como a localidade estratégica de Suran, onde se situa uma das primeiras linhas de defesa do Exército na província de Idleb.
Aviões israelitas
Aviões da Força Aérea israelita, em número não especificado, foram atacados por mísseis anti-aéreos na Síria. O especialista militar Nikolai Surkov afirmou que desta forma o Exército sírio deu um sinal claro ao Governo de Israel. O incidente ocorreu na madrugada de 17 de Março, mas só agora foi tornado público pelas autoridades sírias, num claro sinal de que não vão ser admitidas mais incursões no seu espaço aéreo.
Os pilotos israelitas atacaram vários alvos no território sírio. Sistemas de defesa anti-mísseis de Israel não conseguiram interceptar um dos foguetes disparados.
“Em nenhuma das fases, a segurança dos cidadãos israelitas ou aeronaves da Força Aérea foram ameaçados”, disse o especialista militar. De acordo com uma estação de televisão russa, os aviões foram atacados pelo sistema de mísseis anti-aéreo S-200.
O professor do departamento de Estudos Orientais do Instituto Estatal de Relações Internacionais de Moscovo, Nikolai Surkov, acredita que o Exército sírio enviou um sinal claro aos israelitas.
“Não é a primeira vez que Israel realiza ataques aéreos sobre o território sírio. Eles estão à procura de combatentes do Hezbollah [aliado do Governo da Síria], tentando, em suas palavras, atrapalhar o fornecimento de armas”, assinalou.
Durante toda a crise síria, Damasco e arredores foram atacados periodicamente, bem como os pontos militares na costa. A defesa aérea síria conseguiu reagir, em particular em 2013, quando caíram sobre Damasco mísseis de cruzeiro israelitas. Divisões do grupo extremista libanês Hezbollah participaram na libertação de Palmira e os israelitas tentam capturar ou abater comandantes que actuam na Síria.
O Exército da Síria disse que abateu um avião da Força Aérea israelita, que, de acordo com as suas informações, violou o espaço aéreo do país. Em comunicado, o comando militar sírio afirmou que o objectivo da aviação israelita estaria focado em instalações do Exército sírio na área de Palmira. O comando do Exército refere que as actividades das forças dos paízes vizinhos são aceites dentro do programa de defesa do Governo sírio.