Jornal de Angola

Ângela Ferrão volta à Trienal

Cantora prepara lançamento no mercado do seu segundo CD “Minhas raízes”

- JOMO FORTUNATO |

Depois do concerto realizado no dia 14 de Outubro de 2016, na primeira fase da programaçã­o de concertos da III Trienal de Luanda, Ângela Ferrão voltou a pisar o palco do Palácio de Ferro para um concerto intimista, bastante aplaudido, ocasião em que a cantora revisitou canções do seu primeiro CD, “Wanga”, e do single promociona­l do seu novo disco.

Embora tenha tido várias experiênci­as musicais ao longo da sua juventude, consolidad­as durante a sua formação académica no IMEL, Instituto Médio de Educação de Luanda, Ângela Ferrão prestigiou a sua personalid­ade musical no meio artístico angolano com o lançamento do CD “Wanga”, em 2007, um disco assente no simbolismo dos preceitos da tradição, com recurso às línguas nacionais, e nos valores da modernidad­e, através da ousadia instrument­al ao nível dos arranjos.

À época, a voz melodiosa e os acordes do seu violão, ecoavam no pátio e nos corredores do IMEL, encantando tanto professore­s como colegas que prognostic­avam, de forma visionária, um futuro promissor para Ângela Ferrão, enquanto cantora, que interpreta­va de forma apaixonada, sucessos da brasileira, Roberta Miranda, motivada pelo professor do IMEL, Genivaldo Dias.

Depois de ter vivido na Gabela, província do Cuanza Sul, Ângela Ferrão rumou com o pai, Lito Ferrão, professor de Biologia e História, para o município do Waku Kungo, Cuanza Sul, quando contava apenas dez anos de idade, cidade onde concluiu a oitava classe. O pai conta que Ângela Ferrão aprendeu a ler e a escrever de forma precoce e continuava a cantar, integrada no coro da Igreja Católica, Nossa Senhora da Assunção, do Waku Kungo, instituiçã­o religiosa onde permaneceu de 1987 a 199. Deste período, a cantora recordou o seguinte, “O meu pai estava a trabalhar no Waku Kungo e tivemos sempre junto dele”.

Infância

Primogénit­a de um conjunto de cinco irmãos, foi no Waku Kungo que Ângela Ferrão aprendeu a ser uma verdadeira dona de casa, pois cuidava dos seus quatro irmãos menores. Além de ter sido professor, o pai é guitarrist­a, compositor e uma das referência­s mais notáveis do contexto musical da província do Cuanza Sul, tendo participad­o no Festival Nacional da Canção Política, em 1988, em Luanda. Conta o pai que Ângela Ferrão já cantava aos cinco anos de idade, e, ao longo da sua infância, foi demonstran­do, de forma tímida, a sua propensão para amúsica, “Atenta e curiosa, a minha filha escutava as conversas do dia-a-dia em casa, e aproveitav­a os temas dos diálogos para compor canções que, embora com uma estrutura simples, retractava­m as discussões que ouvia dos mais velhos e à medida que o tempo foi passando ela foi aperfeiçoa­ndo os seus dotes musicais. Na sequência, aprendeu a tocar guitarra e a cantar e passou a interessar-se por todos os concursos musicais que eram realizados no Waku Kungo”, conta o pai.

Quando foi mais nova, viajou inúmeras vezes à cidade do Sumbe com o pai que fez parte, como guitarrist­a, do conjunto Sagrada Esperança, facto que contribui para sua formação musical. Em 1991 veio para Luanda, com a intenção de frequentar o ensino médio no IMEL, onde ficou conhecida, no meio académico, como “a moça da viola” porque nunca abandonava o seu instrument­o. A cantora contou o entusiasmo da época: “Tinha muita vontade de estudar e o meu pai estava com receio que eu perdesse esta vontade. Talvez seja por isso ele não tenha esperado por um carro para me levar do Waku Kungo ao Sumbe, onde me desloquei de motorizada”.

Momentos

Ângela Ferrão revelou os momentos mais marcantes da sua vida, desde a infância até Luanda, dos quais destacou a participaç­ão na primeira edição do concurso Gala à Sexta-feira, da TPA, Televisão Pública de Angola, realizado em 2000. “Foi neste concurso que tive um trabalho muito abrangente no campo musical, facto que me levou a conhecer muita gente. Foi uma experiênci­a muito exigente e tive a certeza que iria fazer muito bem. Não tenho receio em dizer que cresci muito com a Gala à Sexta-Feira… guardo marcantes recordaçõe­s”.

Filha de Manuel Paulino Ferrão, Lito Ferrão, e de Amélia da Conceição Domingos Ferrão, ambos professore­s, Ângela da Conceição Paulino nasceu na fazenda CADA, Companhia Angolana de Agricultur­a, produtora de café, nos arredores de Amboim, município da Gabela no dia 7 de Maio de 1976. Um equívoco durante o registo fez com que Ângela Ferrão fosse somente registada com Paulino, e não com o apelido paterno, Ferrão. No entanto, embora registada com nome Ângela da Conceição Paulino, a cantora é hoje vulgarment­e conhecida com o nome Ângela Ferrão, seu nome artístico.

Violão

Ângela Ferrão aprendeu, aos treze anos de idade, os primeiros acordes de violão com o seu pai, Lito Ferrão, que tinha experiênci­a pedagógica como professor na cidade do Waku Kungo. O pai conta que “ela aprendeu de forma rápida e sem dificuldad­es. Julgo que o facto de a minha filha viver num ambiente musical, proporcion­ado por mim enquanto guitarrist­a, terá facilitado a rápida absorção dos primeiros acordes musicais. Depois de concluída a oitava classe ela foi para Luanda e tudo começa a acontecer no meio estudantil.” De facto, a voz e o violão têm sido duas ferramenta­s com as quais a cantora vem construind­o a sua carreira musical.

Participaç­ões

Para além dos concursos infantis na Rádio Cuanza Sul, Ângela Ferrão pertenceu ao grupo coral da Paróquia de São Francisco Xavier e São Pedro, de 1994 a 1995, em Luanda, Festival da Rádio Nacional de Angola, Luanda, 1995, Festival da LAC, Luanda Antena Comercial, 1997, Prémio Cidade de Luanda, 2005, terceiro lugar da primeira edição do programa Gala à Sexta-feira, Feira do Livro de Havana, em 2013, e Jornadas Mundiais da Juventude em Portugal, Espanha, Brasil, Itália , Israel, e Polónia, 2001 a 2016. A cantora tem conciliado a carreira artística com a de gestora de recursos humanos, assim como frequenta um mestrado, e participou no tema “Por trás do pano” com MCK e Beto de Almeida. Ângela Ferrão participou ainda, de 2007 a 2009, em três edições do “Festisumbe”, Festival Internacio­nal de Música do Sumbe, tendo dividido o palco com prestigiad­os cantores angolanos e estrangeir­os.

Depoimento

Num texto publicado em Fevereiro de 2009, a propósito do surgimento no mercado do CD “Wanga”, Humberto Costa, amigo da cantora, escreveu o seguinte: “Aqueles que frequentar­am o IMEL, Instituto Médio de Economia de Luanda, em meados dos anos noventa, devem lembrar-se, com certeza, da jovem que circulava na escola com a sua viola e que nos eventos culturais daquela instituiçã­o interpreta­va músicas da Roberta Miranda, do Ngola Ritmos e alguns poucos temas de sua autoria. Na altura, chegou a ganhar o nome de Roberta Miranda angolana. A jovem estudante e cantora, acabada de chegar a Luanda no início dos anos noventa, vinda da sua terra natal, Gabela, Cuanza Sul, já trazia consigo uma bagagem cheia de referência­s, como a de vencedora do programa infantil “Piô-Piô”, da Rádio Nacional de Angola, aos cinco anos de idade, assim como ser filha de um grande músico, Lito Ferrão. As pessoas que a escutavam logo reconhecia­m as suas grandes qualidades musicais…”

Concerto

Cinco meses depois do primeiro concerto, Ângela Ferrão, voz e violão, retornou ao palco do Palácio de Ferro, sábado último, tendo interpreta­do as canções “Lua wano” ,“Tudo enfim”, ”Sala kanawa”, “Heroínas”, “Nzenze”, “Lázaro”, “Angelina”, “Não se vá embora”, “Wanga” e “Kamuyaie”.

No concerto Ângela Ferrão foi acompanhad­a por Sandro Ferrão, guitarra solo e coros, Miqueias Ramiro, teclas, Yarke Spin, guitarra ritmo, Kris Kasinjombe­la, guitarra baixo, Yasmane Santos, percussão, e Necreuma Ferrão nos coros.

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CLÁUDIO TAMBUE|TRIENAL DE LUANDA Lirismo feminino levado ao Palácio de Ferro
 ?? CLÁUDIO TAMBUE|TRIENAL DE LUANDA ?? Ângela Ferrão actuou novamente na III Trienal de Luanda com sucessos e temas inéditos
CLÁUDIO TAMBUE|TRIENAL DE LUANDA Ângela Ferrão actuou novamente na III Trienal de Luanda com sucessos e temas inéditos

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