Jornal de Angola

Berlim e Paris com campanhas difíceis

- ALTINO MATOS |

Nos Estados Unidos ainda decorrem as tentativas conduzidas pelo FBI de provar as influência­s negativas nas eleições de Novembro que determinar­am a escolha em Donald Trump, mas o fantasma, como chamaram alguns críticos a esta “onda”, chegou à Europa, e, desta vez, assombra a campanha eleitoral na Alemanha e em França.

Berlim e Paris, juntas, procuram meios técnicos e políticos para travar uma influência que se conhece apenas de nome, mas que está longe de ser palpável, a julgar pela incapacida­de material de se reunir provas. Do Palácio do Eliseu chegam sinais fortes de que foram considerad­as medidas pontuais para impedir que aconteça o mesmo que nos Estados Unidos, onde a confusão está instalada mesmo antes de o novo Presidente ter sido eleito.

Em França, o tempo é ocupado, agora, não apenas em saber quem vence as presidenci­ais de Abril, mas como vence, isto é, com que apoios políticos, ou se vence num cenário altamente manipulado, em que a palavra corrupção passou a ser encarada como maior ameaça à transparên­cia no sufrágio.

A candidata da extrema direita Marine Le Pen que surpreende­u o seu eleitorado com simpatias a governos fora da Europa, quer aplicar algumas das estretégia­s em França, caso vença as presidenci­ais de Abril, mas a sua intenção provocou a irá de certa classe política na França e mereceu da parte de figuras influentes no contexto ocidental com comentário­s asquerosos.

Alguns analistas acreditam que influência­s fortes podem determinar o curso das eleições, mas os políticos e os partidos devem ser mais astutos para contornar a situação e concentrar os eleitores em assuntos de grande interesse nacional e internacio­nal, desde que os mesmos tenham a ver com a sua vida. O resultado das eleições em França e na Alemanha estão longe de ser desenhados, consideran­do as dificuldad­es que o sector da esquerda e da direita moderada estão a enfrentar, perante o trabalho demonstrad­o na campanha pelos partidos extremista­s.

O chefe do Serviço de Inteligênc­ia Federal da Alemanha (BND), Bruno Kahl, também não descartou a possibilid­ade de interferên­cias perigosas na campanha eleitoral e queixou-se de ataques informátic­os isolados contra os servidores do Bundestag alemão, sem no entanto avançar a origem.

A chanceler alemã, Angela Merkel, é de opinião que os meios políticos e de inteligênc­ia estão atentos e preparados para contornar toda forma de ataque às instituiçõ­es do país e, no caso de divulgação de informação sigilosa, com a intenção de dividir ou afastar os eleitores das suas primeiras escolhas, vão ser despoletad­os meios à altura da situação para controlar o espaço e outros procedimen­tos técnicos. A campanha eleitoral na Alemanha é de importânci­a maior porque Berlim tem grande influência no curso da União Europeia, e qualquer oscilação ou mudança de rumo pode prejudicar as políticas postas em andamento para consagrar uma Europa a quatro velocidade­s, conduzida por, além de Berlim, Paris e Madrid.

Reforço da Defesa

A candidata da extrema direita Marine Le Pen promete, caso vença as presidenci­ais, impulsiona­r as despesas de defesa da França para três por cento do PIB até 2022.

Le Pen destacou que a França representa uma força que realmente combate o terrorismo, e, segundo a candidata, os países devem reforçar a cooperação nesse sentido. Le Pen diz que a França tem de assumir os compromiss­os como um Estado forte, estabelece­r as suas escolhas políticas e opções técnicas operaciona­is, sem depender da relação que mantém com qualquer bloco ou país, referindo-se obviamente a Nato e a União Europeia.

Marine Le Pen anunciou, no seu programa para a governação, que vai desenvolve­r esforços para retirar a França da União Europeia, por, justificou, o “país estar muito prejudicad­o na sua soberania”.

Retórica anti-extremista

Um dos favoritos nas eleições presidenci­ais em França apela à retórica anti-extremista. Emmanuel Mcron passou a conduzir a sua campanha com discursos contra aqueles que querem prejudicar a unidade, acusando-os de ignorância em matéria de Estado e cooperação internacio­nal, principalm­ente nos assuntos em que a França está focada. “A França não deve se aproximar de países que pretendem manipular a sua independên­cia na política externa”, disse o candidato francês, Emmanuel Macron, apontado pela crítica como provável vencedor das eleições. “Temos uma longa história com os Estados Unidos. Juntos fomos construind­o a paz no planeta. Hoje eu gostaria de propor mais independên­cia”, referiu Macron durante um debate presidenci­al, transmitid­o ontem pela TF1, onde enfatizou a necessidad­e de cooperar com os países europeus.

Cinco candidatos presidenci­ais, incluindo Macron, a líder do partido Frente Nacional, Marine Le Pen, o candidato republican­o, François Fillon, o líder socialista, Benoit Hamon, e o líder do movimento político de esquerda La France Insoumise, JeanLuc Melenchon, participar­am do primeiro dos três debates televisivo­s que antecedem a primeira volta das eleições presidenci­ais de 23 de Abril.

Os decisores de Bruxelas acreditam que tanto em França coma na Alemanha os eleitores vão saber separar as insuficiên­cias sociais das promessas oportunist­as da extrema direita, que defendem a saída dos seus países da União Europeia.

As campanhas eleitorais estão a ser afectadas por sucessivos escândalos de corrupção que retiraram a confiança política em candidatos e instituiçõ­es, o que levou a chanceler Angela Merkel e o Presidente Fronçois Hollande a realizar demarches políticas de concertaçã­o nas últimas semanas, para alertarem alemães e franceses das vantagens de os países manterem a Europa unida, numa altura em que o futuro das relações internacio­nais é bastante incerto, segundo analistas citados na imprensa ocidental. A partir de Abril, altura em que as coisas vão estar mais claras em matéria de governação com o resultado das eleições de “Paris” e de “Berlim”, a Europa vai começar um novo ciclo virado para os seus países membros, na visão dos que acreditam na vitória de políticos a favor da manutenção da União Europeia.

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GEOFFROY VAN DER HASSELT|AFP Candidatos às eleições presidenci­ais francesas estão preocupado­s com a perda de confiança na política e nas instituiçõ­es

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