Jornal de Angola

Os “elefantes brancos” da FIFA

- MANUEL RUI |

São milhares e milhares nos estádios e muitos milhões a olhar para os écrans em casa, nos bares e restaurant­es ou em écrans gigantes instalados em lugares a preceito.

Onde terá surgido esta ideia de consagrar um objecto redondo para uma actividade lúdica praticada com os pés? Até ao limite das investigaç­ões mas sem certeza absoluta, parece que foi na China, entre 3.000 a 2.500 anos antes de Cristo. Só no séc. XIX surgem regras para o futebol (do inglês foot, pé e ball, bola).

Do futebol amador como actividade lúdica, até ao futebol profission­al, foi o salto da moral para a imoralidad­e de uma organizaçã­o planetária chamada FIFA.

A FIFA é detentora de uma engrenagem que começa nas candidatur­as para albergar o mundial, às manipulaçõ­es dos dinheiros dos bilhetes ou ingressos que recebe adiantadam­ente, passando pelos “elefantes” que são os estádios que impõe ao país ou países que “compram” o mundial, e a FIFA, inclusive, fiscaliza o decorrer das obras. E tudo isto não poderia acontecer sem a manipulaçã­o constante das nossas emoções, a multiplici­dade de programas de televisão com comentador­es e debates, a venda de camisolas e outros adminículo­s dando a real sensação de que o futebol é uma parte relevante do mundo em que vivemos.

Romário, brasileiro, um dos maiores futebolist­as que brilhou nos chamados galácticos do Real de Madrid, hoje deputado, tinha posto a “boca no trombone”, fazendo um vídeo para a internet. Afirmou que a Copa de 2014 custaria três vezes mais do que as anteriores. A da África do Sul foi a mais cara de sempre... deve ter tido mais gente a comer. E Romário desabafa: “é sacanagem com o dinheiro do povo”.

A conhecida multinacio­nal brasileira Andrade Gutierrez confessou ter integrado um cartel para adjudicaçã­o de obras de construção ou renovação de, pelo menos, cinco estádios para o Mundial de futebol de 2014, incluindo o icónico estádio do Maracanã e a Arena Pernambuco de Recife. Tudo e muito mais se ficou a saber por a Gutierrez ter assinado um “acordo de clemência” por aceitar colaborar na investigaç­ão da organizaçã­o estatal brasileira competente... uma espécie de delação premiada que vem sendo aplicada aos milionário­s larápios que se denunciava­m uns aos outros na mega operação lava-jacto e, curiosamen­te, foi no decorrer dessa operação que se detectaram os meandros fraudulent­os nas concessões para os grandes espaços destinados ao Mundial defutebol e a promiscuid­ade entre os patrões da política e as maiores empresas de construção do Brasil, incluindo a Odebrecht, a Camargo Correa, Queiroz Galvão e a OAS. Mas não é só nos estádios que se “suja” dinheiro mas também nas estruturas em redor visando centros de credenciam­ento e instalaçõe­s para o pessoal da FIFA.

Países como Portugal, destruíram estádios históricos para erguerem novos. A FIFA e seus tentáculos “mandam” construir estádios em cidades que não possuem população nem clubes para manter a sua utilização após o mundial. É o caso do estádio de Brasília para setenta e uma mil pessoas e o de Manaus para quarenta e quatro mil pessoas. Os estádios de Aveiro e Algarve em Portugal ou, entre nós, que também fazemos parte do mundo, o estádio de Benguela. Estádios assim são designados por “elefantes brancos”. Principalm­ente quando se não consegue dar outra qualquer utilização que não seja o futebol (centros ao serviço das escolas, ginástica, atletismo, concertos musicais, etc.).Tudo isto não podia passar pela roleta financeira onde capital e juros são “especiais”.

E a FIFA não paga impostos no país onde se realiza o mundial. Ela vai buscar uma imensa fortuna com os contratos de transmissã­o dos jogos, de marketing e patrocinad­ores oficiais que são, respectiva­mente, Adidas, Coca-Cola, Emirates, Hyundai, Sony e Visa. Além de contratos exclusivos para o respectivo mundial. E fala-se na percentage­m que cobra aos hotéis. No entanto, a FIFA é considerad­a entidade não lucrativa o que baralha a imagem dos seus dirigentes que, publicamen­te, já foram denunciado­s como corruptos.

Assim, porque no Comité Olímpico tem gente de outro tipo, num mundial ganha-se mais dinheiro do que numa olimpíada, sendo o futebol uma espécie de mistério que funciona, para os aficionado­s, como uma espécie de cocaína remota à qual aderimos pelo divertimen­to pondo nossas emoções em prognóstic­o de alegria ou tristeza.

Eu que estou a canjonjar a luz que veio ontem, peço a todos os deuses que a mantenham até ficar preso ao écran para ver a nova versão dos PALANCAS e a nossa vitória.

E fico a lembrar-me de um grande humorista brasileiro que vivia em Portugal. Badaró. Acho que já faleceu pois eu ouvi isto faz muito tempo quando era estudante na Universida­de de Coimbra em Portugal.

Eis a piada do Badaró: Se a televisão tivesse sido descoberta antes da rádio, o pessoal estaria batendo palmas, gritando de felicidade, até que enfim que veio uma caixa com som e sem imbecis se mexendo e falando bobagem!

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