Liga Árabe vai analisar hoje as guerras na Síria e na Líbia
Reunião ocorre com milhões de pessoas a passarem fome em África e no Próximo Oriente
As guerras na Síria, Iémen e Líbia são, ao lado do conflito israelo-palestino, os temas de destaque na cimeira anual dos Chefes de Estado e de Governo da Liga Árabe, que decorre hoje na Jordânia, sem a presença do Governo de Damasco, suspenso da organização desde 2011.
Quem o diz é o secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Abul Gheit, que exorta os governos árabes a fazerem mais para resolver o conflito na Síria. “Na minha opinião, não é correcto que os governos árabes fiquem de fora da maior crise da história moderna da região”, disse Ahmed Abul Gheit sobre a Síria.
Além da Síria, os conflitos no Iémen e na Líbia “representam uma séria ameaça para a segurança árabe”, afirmou ontem o líder da Liga Árabe ao fazer o balanço das actividades preparatórias do encontro.
Na cimeira, prosseguiu, os Chefes de Estado e de Governo dos países que integram a organização devem reafirmar no encontro a Iniciativa de Paz Árabe, plano liderado pela Arábia Saudita e proposto em 2002, que prevê o estabelecimento de relações de Estados árabes e muçulmanos com Israel em troca da sua retirada das terras palestinianas ocupadas desde 1967.
A Jordânia, com uma numerosa população palestiniana e a custódia da Esplanada das Mesquitas em Jerusalém, quer que a questão figure na agenda da cimeira. “Defendemos firmemente a Iniciativa de Paz Árabe. Queremos estabelecer a solução de dois Estados. Queremos justiça para o povo palestiniano”, disse no domingo o porta-voz do Governo jordano, Mohammed Momani.
Mahmoud Abbas, Presidente da Autoridade Nacional Palestiniana, participa na cimeira, ao lado do Rei Salman da Arábia Saudita, e do Presidente egípcio Abdel Fattah alSissi. O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, o enviado da ONU e da Liga Árabe para a Síria, Staffan de Mistura, e representantes dos EUA e da Rússia participam igualmente na reunião em que também participa o Presidente sudanês, Omar al-Bashir, alvo de mandados de detenção do Tribunal Penal Internacional (TPI) alegadamente por genocídio no Darfur. O chefe da diplomacia sudanesa, que anunciou a deslocação domingo aos meios de comunicação sociais sudaneses, acrescentou que o Rei Abdallah II da Jordânia “insistiu” para o Presidente al-Bashir participar na 28ª cimeira da Liga Árabe.
Damasco e Tripoli
O Governo de Damasco não foi convidado para a cimeira. A Liga Árabe suspendeu a Síria no final de 2011, depois de manifestações anti regime terem sido reprimidas.
Em Fevereiro, Abul Gheit disse que o regresso da Síria depende dos restantes 21 países membros e que a questão só é levantada quando for considerado “um acordo político” para acabar com a guerra que já matou 320.000 pessoas.
Na Líbia, a Companhia Nacional Líbia de Petróleo criticou num comunicado a decisão do Conselho Presidencial sobre a retirada dos seus poderes “a fim de a subjugar”. A NOC refere no documento que “esta decisão não tem nenhum valor e não presta para nada”, foi instituída em conformidade com as leis que a regem e definem os seus poderes e que ninguém lhe pode tomar estes poderes ou reduzi-los, pois, é referido no documento, trata-se dum segredo da força da companhia que exorta todas as partes líbias em causa a darem prioridade ao interesse nacional sem agravarem as coisas.
A crise síria, que piorou entre 2015 e 2016, é mencionada pelo responsável que lembra que mais de metade da população precisa de ajuda alimentar. O conflito fez com que 4,8 milhões sírios procurassem refúgio, na sua maioria em países vizinhos. O Iémen representa a outra situação crítica porque aumentam a insegurança alimentar e os deslocados internos.
Milhões com fome
A 28ª cimeira da Liga Árabe acontece após um relatório da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) divulgado na segunda-feira revelar que entre 2014 e 2015 na região do Próximo Oriente e Norte de África pelo menos 9,5 por cento dos adultos, cerca de 30 milhões de pessoas, enfrentavam insegurança alimentar.
Ao apresentar o relatório, Abdessalam Ould Ahmed, director-geral adjunto da FAO e representante da FAO no Próximo Oriente e Norte de África, disse que a região enfrenta desafios sem precedentes pelos riscos provocados por conflitos, falta de água e alterações do clima e recomendou aos países da região que implementem uma gestão sustentável e duradoura de água para acabar com a fome até 2030, uma das metas dos objectivos de desenvolvimento sustentável.
É importante, referiu, que os países criem uma base sólida para avaliar o impacto das alterações climáticas na segurança alimentar e definir medidas de adaptação flexíveis e políticas agrícolas. Outro apelo é que seja reforçada a colaboração regional para enfrentar a escassez de água e as mudanças climáticas.