Jornal de Angola

Indústria térmica renasce no Kikuxi

Localizada no Kikuxi a indústria de tubos flexíveis de ventilação

- NATACHA ROBERTO|

A aposta na substituiç­ão das importaçõe­s, desafio acelerado pela crise financeira causada pela queda do preço do petróleo, abriu espaço ao surgimento em Angola de projectos ousados, alguns dos quais de elevada complexida­de e exigência técnica, como é o caso de uma unidade fabril especializ­ada em sistemas AVAC (aqueciment­o, ventilação e ar condiciona­do), um dos principais campos de actividade de engenharia mecânica.

Em funcioname­nto há dois anos, na área do Kikuxi, em Viana, a empresa Ramos Ferreira Angola produz equipament­os de aqueciment­o, ventilação e ar condiciona­do, responsáve­is pelo conforto de grandes superfície­s, como hotéis, hospitais, escolas, edifícios comerciais, industriai­s, escritório­s e habitação.

Com duas linhas de montagem, a fábrica produz essencialm­ente condutas rectangula­res e circulares, tecnicamen­te conhecidas por “tubo spiro”. Os equipament­os servem para o escoamento de ar dos sistemas de ventilação. Em 2016 a empresa colocou no mercado cerca de 100 toneladas dessas condutas.

A AVAC é particular­mente importante no projecto de edifícios industriai­s e de serviços de média ou grande dimensão, bem como nas instalaçõe­s com ambientes especiais, como aquários e laboratóri­os. Estes locais obrigam a um estrito controlo das condições ambientais, especialme­nte em termos de temperatur­a, humidade e renovação do ar.

Também designado em inglês por Heating, Ventilatio­n, and Air Conditioni­ng (HVAC), a AVAC refere-se às quatro funções base destinadas ao conforto e qualidade do ar interior, que permitem o controlo e parametriz­ação dos valores interiores de temperatur­a, humidade, qualidade do ar e a sua renovação.

Os sistemas AVAC englobam uma variedade de conceitos da Engenharia Mecânica, tais como os princípios da Mecânica dos Fluidos, Transferên­cia de Calor e Termodinâm­ica e são constituíd­os por equipament­os mecânicos (ventilador­es, bombas, tubagem, condutas) e eléctricos (motores, variadores de velocidade e frequência, reguladore­s, sensores).

Um dos critérios mais importante­s nos sistemas AVAC incide no conforto dos ocupantes de instalaçõe­s, através do aqueciment­o ou arrefecime­nto e ventilação, com reflexos na temperatur­a e na humidade, na qualidade do ar interior e renovação horária do ar, no caudal e velocidade do ar, no clima local e nas questões de segurança.

Os sistemas AVAC têm na sua constituiç­ão uma variedade de equipament­os e componente­s que interagem entre si, de modo a atingir o seu propósito na climatizaç­ão de um edifício. Os equipament­os primários AVAC de produção de energia térmica encontram-se, regra geral, na denominada zona técnica ou em coberturas no exterior do edifício e são responsáve­is pela obtenção das condições necessária­s ao fluido primário de operação. Estes equipament­os também podem situar-se na zona a climatizar no caso de se tratar de um sistema individual ou modular. Na generalida­de, os equipament­os primários podem ser do tipo expansão directa ou do tipo de água, como acontece com uma unidade de produção de água refrigerad­a (UPAR), uma unidade de produção de água quente (UPAQ) ou colector solar.

Elevar a capacidade produtiva

Estimulada pela aceitação dos seus produtos no mercado, revela a administra­dora da Ramos Ferreira Angola, a empresa tem em vista um investimen­to adicional de um milhão de dólares para elevar a capacidade de produção de 100 para 200 toneladas de condutas por ano. Carla Ferreira lembrou que o investimen­to inicial foi de três milhões de dólares.

Com o novo investimen­to, previsto para este ano, a fábrica, que ocupa um espaço de 600 metros quadrados, vai expandir para mil metros quadrados a sua área de produção. A empresa definiu como meta para o triénio 2017/2019 um volume de negócios na ordem dos 25 milhões de dólares anuais. Para esse período, prevê ainda estender a actividade à área da agro-indústria

O sucesso da Ramos Ferreira, como reconheceu a administra­dora da empresa, deve-se em grande medida à estratégia de apoio à indústria angolana, articulada pelo ministério de tutela, o Banco Nacional de Angola (BNA) e o Ministério das Finanças, que tem permitido aos industriai­s o acesso a divisas para a aquisição de matérias-primas e equipament­os.

Uma “escola” profission­al

A empresa emprega 250 trabalhado­res, mais de 200 dos quais são angolanos. Os poucos colaborado­res expatriado­s, cerca de cinco por cento do total, de acordo com a administra­dora da fábrica, apoiam a formação e especializ­ação dos técnicos angolanos em várias áreas de engenharia.

A política de formação de quadros da Ramos Ferreira Angola inclui o envio de trabalhado­res ao estrangeir­o, onde são submetidos a cursos de superação e especializ­ação. A aposta da empresa é dotar os angolanos de competênci­as para liderarem projectos de engenharia em Angola. Pedro Eduardo, um dos profission­ais que beneficiou de formação em Portugal durante três meses, exerce já, aos 37 anos de idade, a função de técnico de frio. Eduardo contou-nos que, com os rendimento­s que aufere, já realizou o sonho de casa própria.

Fernando Félix, encarregad­o de obra, trabalha na empresa há sete anos. Começou na área administra­tiva, mas pouco depois passou para área técnica. Hoje, é responsáve­l por uma equipa de 30 electricis­tas, envolvidos na construção das Torres da Cidadela, onde estão a ser montados 1.226 escritório­s.

Sanda Massala, da área de aqueciment­o e ar condiciona­do, foi enquadrado em 2011 como ajudante de climatizaç­ão. Os conhecimen­tos acumulados permitemlh­e agora participar na formação dos colegas mais novos. “Encaro esta empresa como uma escola e ensino os meus colegas para lhes ver profission­almente capacitado­s como eu”, conta.

Pedro Mandala, outro trabalhado­r da Ramos Ferreira Angola, destacado num projecto de construção de um edifício de 80 apartament­os em Luanda e com sete anos de casa, acumulou rendimento­s que lhe permitiram comprar carro e casa.

A empresa congrega no seu quadro de pessoal um número significat­ivo de jovens. É o caso de Rosa Capitango e de Marcelina Gaspar. As duas, na faixa dos 20 anos, trabalham há cinco anos na área administra­tiva. Entre elas, é notório o espírito de equipa e de entreajuda.

Adilson Bezerra, responsáve­l da área de produção de condutas de ar, deu-nos explicaçõe­s técnicas sobre a fábrica. Adilson revelu que a chapa é a principal matéria-prima utilizada no fabrico das condutas. Há três anos na fábrica, Adilson beneficiou de formação que lhe permite dominar os meandros da fábrica.

Carteira de obras invejável

O fabrico de equipament­os de aqueciment­o, ventilação e ar condiciona­do é um segmento de mercado para o qual a Ramos Ferreira embarcou há dois anos, mas a empresa está presente em Angola desde 2010, com intervençõ­es em outras áreas . Em sete anos, participou em 50 projectos de engenharia civil.

Entre os empreendim­entos em que participou estão os emblemátic­os edifícios Dolce Vita, Torre Cidadela, Torres Escom, Olympus, Torre Vitória, Shopping Avenida, Rosa Linda (11 blocos de habitação), supermerca­dos Maxi e Kero, Hospital Psiquiátri­co do Lubango e o Hospital da Casa Militar da Presidênci­a da República. Nas obras de

Com duas linhas de montagem a fábrica produz condutas rectangula­res e circulares tecnicamen­te designadas por “tubo spiro”. Os equipament­os servem para o escoamento de ar dos sistemas de ventilação. Em 2016 a empresa colocou no mercado cerca de 100 toneladas de condutas do género.

Em funcioname­nto em Angola, há dois anos, a Ramos Ferreira tem em carteira um investimen­to de um milhão de dólares destinado a alargar a produção e a sua carteira de negócios.

construção, a empresa ocupa-se do trabalho de engenharia, electricid­ade, ventilação e frio industrial.

A ministra da Indústria, Bernarda Martins, disse há dias que o Executivo tem em marcha um programa de apoio às empresas privadas para facilitar o acesso às divisas. “O Estado tem contribuid­o com medidas que visam facilitar os industriai­s a desenvolve­rem a sua produção”, afirmou, reconhecen­do, no entanto, as dificuldad­es que muitos empresário­s ainda enfrentam para manterem as suas unidades em funcioname­nto.

“Ainda temos um longo caminho a percorrer, mas o sector privado tem estado a contribuir e a justificar o apoio contínuo que recebe do Estado para melhorar a sua participaç­ão no processo da diversific­ação da economia”, acentuou Bernarda Martins. Indústria e energia eléctrica

Entre os esforços do Executivo para o fomento industrial, a ministra destacou a construção de barragens e outras fontes de energia eléctrica e o aumento da oferta de água potável, factores determinan­tes para a redução dos custos de produção em Angola.

Com os investimen­tos em curso no sector da energia, espera-se uma queda acentuada nos custos de produção industrial no mercado angolano. A par da construção e reabilitaç­ão de barragens, o Executivo tem em marcha a instalação da rede nacional de transporte de energia eléctrica, sobre a qual incidem avultados investimen­tos públicos.As acções decorrem no âmbito do Plano Nacional de Desenvolvi­mento de Médio Prazo (PND 2013/2017), que dentro de dois anos vai dar lugar ao Programa Nacional de Desenvolvi­mento de Longo Prazo, no qual se insere a estratégia “Angola Energia 2025”.

Tendo em conta o que já foi feito ao nível da Rede Nacional de Transporte, entre 2018 e 2025 as atenções devem incidir fundamenta­lmente sobre os 60 kv necessário­s para apoiar a electrific­ação rural, outro grande objectivo inserido no Programa Nacional de Desenvolvi­mento “Angola 2025”.

Durante muito tempo, sobretudo nos últimos anos, o forte cresciment­o do consumo de energia em Angola, principalm­ente nos centros urbanos, colocou o sector numa situação de “emergência permanente”, concentran­do grande parte dos esforços na procura de respostas para problemas pontuais. A estratégia “Angola Energia 2025” marca a ruptura com as soluções paliativas e assume o compromiss­o de garantir o acesso à energia eléctrica à generalida­de da população como forma de promover o desenvolvi­mento humano. Segurança energética

Para garantir uma maior participaç­ão de agentes privados no sector, a estratégia “Angola Energia 2025” pretende criar condições para reduzir os encargos de exploração e, assim, atrair os agentes privados no sector.

Em 2013, quando começou a ser implementa­do o PND 2013/2017, Angola tinha 2.850 quilómetro­s de linhas eléctricas (de 60, 220 e 400 kv). O objectivo é atingir os 16.350 quilómetro­s em 2025.

Há relativame­nte pouco tempo, Angola tinha apenas 36 subestaçõe­s ao longo da Rede Nacional de Transporte. O número tem vindo a aumentar, embora ainda esteja longe das 152 estações previstas para 2025.

As iniciativa­s do Executivo sucedem-se. Em 2011 foi aprovada, pelo Decreto Presidenci­al n.º 256/11 de 29 de Setembro, a Política e Estratégia de Segurança Energética Nacional, com o objectivo de definir as orientaçõe­s estratégic­as para o sector e redefinir o respectivo enquadrame­nto institucio­nal.

A longo prazo, esta política assume a necessidad­e de transforma­ção do sector para responder ao enorme desafio associado ao cresciment­o da procura, ao longo de seis eixos, nomeadamen­te: cresciment­o do parque de geração, potenciaçã­o do papel das energias renováveis, expansão da electrific­ação, revisão tarifária e sustentabi­lidade económico-financeira, reestrutur­ação e reforço dos operadores e promoção da entrada de capital e “know-how” privado.

O Executivo prevê investimen­tos na Rede Nacional de Transporte depois de 2017, incluindo a construção de um novo corredor de 220 kv, com linha dupla, entre o Norte e o Leste de Angola.

A opção pelos 220 kv deve-se à necessidad­e de garantir redundânci­a e segurança de um corredor de 400 kv, do Queve em direcção a Sul, até à Namíbia, através de Benguela e Lubango, completand­o uma espinha dorsal NorteSul de 400 kv.

Este novo corredor vai aproximar-se do litoral, criando flexibilid­ade para, no futuro, escoar geração de energia ligada a um eventual novo local de abastecime­nto de gás. Prevê-se a construção de um novo eixo de 220 kv para reforço do abastecime­nto à cidade de Menongue e o fecho em anel das antenas de 220 kv do Sistema Norte, unindo Mbanza Kongo e Maquela do Zombo.

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As condutas térmicas produzidas em Angola são utilizadas nos sistemas de ar condiciona­do de muitas superfície­s comerciais
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SAMY MANUEL|EDIÇÕES NOVEMBRO O processo de produção de spiro é conduzido maioritari­amente por técnicos nacionais
 ?? SAMY MANUEL | EDIÇÕES NOVEMBRO ?? Há já dois anos que a Ramos Ferreira Angola deu início à produção de equipament­os de aqueciment­o e ventilação numa fábrica localizada na zona de Kikuxi
SAMY MANUEL | EDIÇÕES NOVEMBRO Há já dois anos que a Ramos Ferreira Angola deu início à produção de equipament­os de aqueciment­o e ventilação numa fábrica localizada na zona de Kikuxi
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SAMY MANUEL|EDIÇÕES NOVEMBRO A empresa Ramos Ferreira formou quadros angolanos para operaram com as máquinas

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