Indústria térmica renasce no Kikuxi
Localizada no Kikuxi a indústria de tubos flexíveis de ventilação
A aposta na substituição das importações, desafio acelerado pela crise financeira causada pela queda do preço do petróleo, abriu espaço ao surgimento em Angola de projectos ousados, alguns dos quais de elevada complexidade e exigência técnica, como é o caso de uma unidade fabril especializada em sistemas AVAC (aquecimento, ventilação e ar condicionado), um dos principais campos de actividade de engenharia mecânica.
Em funcionamento há dois anos, na área do Kikuxi, em Viana, a empresa Ramos Ferreira Angola produz equipamentos de aquecimento, ventilação e ar condicionado, responsáveis pelo conforto de grandes superfícies, como hotéis, hospitais, escolas, edifícios comerciais, industriais, escritórios e habitação.
Com duas linhas de montagem, a fábrica produz essencialmente condutas rectangulares e circulares, tecnicamente conhecidas por “tubo spiro”. Os equipamentos servem para o escoamento de ar dos sistemas de ventilação. Em 2016 a empresa colocou no mercado cerca de 100 toneladas dessas condutas.
A AVAC é particularmente importante no projecto de edifícios industriais e de serviços de média ou grande dimensão, bem como nas instalações com ambientes especiais, como aquários e laboratórios. Estes locais obrigam a um estrito controlo das condições ambientais, especialmente em termos de temperatura, humidade e renovação do ar.
Também designado em inglês por Heating, Ventilation, and Air Conditioning (HVAC), a AVAC refere-se às quatro funções base destinadas ao conforto e qualidade do ar interior, que permitem o controlo e parametrização dos valores interiores de temperatura, humidade, qualidade do ar e a sua renovação.
Os sistemas AVAC englobam uma variedade de conceitos da Engenharia Mecânica, tais como os princípios da Mecânica dos Fluidos, Transferência de Calor e Termodinâmica e são constituídos por equipamentos mecânicos (ventiladores, bombas, tubagem, condutas) e eléctricos (motores, variadores de velocidade e frequência, reguladores, sensores).
Um dos critérios mais importantes nos sistemas AVAC incide no conforto dos ocupantes de instalações, através do aquecimento ou arrefecimento e ventilação, com reflexos na temperatura e na humidade, na qualidade do ar interior e renovação horária do ar, no caudal e velocidade do ar, no clima local e nas questões de segurança.
Os sistemas AVAC têm na sua constituição uma variedade de equipamentos e componentes que interagem entre si, de modo a atingir o seu propósito na climatização de um edifício. Os equipamentos primários AVAC de produção de energia térmica encontram-se, regra geral, na denominada zona técnica ou em coberturas no exterior do edifício e são responsáveis pela obtenção das condições necessárias ao fluido primário de operação. Estes equipamentos também podem situar-se na zona a climatizar no caso de se tratar de um sistema individual ou modular. Na generalidade, os equipamentos primários podem ser do tipo expansão directa ou do tipo de água, como acontece com uma unidade de produção de água refrigerada (UPAR), uma unidade de produção de água quente (UPAQ) ou colector solar.
Elevar a capacidade produtiva
Estimulada pela aceitação dos seus produtos no mercado, revela a administradora da Ramos Ferreira Angola, a empresa tem em vista um investimento adicional de um milhão de dólares para elevar a capacidade de produção de 100 para 200 toneladas de condutas por ano. Carla Ferreira lembrou que o investimento inicial foi de três milhões de dólares.
Com o novo investimento, previsto para este ano, a fábrica, que ocupa um espaço de 600 metros quadrados, vai expandir para mil metros quadrados a sua área de produção. A empresa definiu como meta para o triénio 2017/2019 um volume de negócios na ordem dos 25 milhões de dólares anuais. Para esse período, prevê ainda estender a actividade à área da agro-indústria
O sucesso da Ramos Ferreira, como reconheceu a administradora da empresa, deve-se em grande medida à estratégia de apoio à indústria angolana, articulada pelo ministério de tutela, o Banco Nacional de Angola (BNA) e o Ministério das Finanças, que tem permitido aos industriais o acesso a divisas para a aquisição de matérias-primas e equipamentos.
Uma “escola” profissional
A empresa emprega 250 trabalhadores, mais de 200 dos quais são angolanos. Os poucos colaboradores expatriados, cerca de cinco por cento do total, de acordo com a administradora da fábrica, apoiam a formação e especialização dos técnicos angolanos em várias áreas de engenharia.
A política de formação de quadros da Ramos Ferreira Angola inclui o envio de trabalhadores ao estrangeiro, onde são submetidos a cursos de superação e especialização. A aposta da empresa é dotar os angolanos de competências para liderarem projectos de engenharia em Angola. Pedro Eduardo, um dos profissionais que beneficiou de formação em Portugal durante três meses, exerce já, aos 37 anos de idade, a função de técnico de frio. Eduardo contou-nos que, com os rendimentos que aufere, já realizou o sonho de casa própria.
Fernando Félix, encarregado de obra, trabalha na empresa há sete anos. Começou na área administrativa, mas pouco depois passou para área técnica. Hoje, é responsável por uma equipa de 30 electricistas, envolvidos na construção das Torres da Cidadela, onde estão a ser montados 1.226 escritórios.
Sanda Massala, da área de aquecimento e ar condicionado, foi enquadrado em 2011 como ajudante de climatização. Os conhecimentos acumulados permitemlhe agora participar na formação dos colegas mais novos. “Encaro esta empresa como uma escola e ensino os meus colegas para lhes ver profissionalmente capacitados como eu”, conta.
Pedro Mandala, outro trabalhador da Ramos Ferreira Angola, destacado num projecto de construção de um edifício de 80 apartamentos em Luanda e com sete anos de casa, acumulou rendimentos que lhe permitiram comprar carro e casa.
A empresa congrega no seu quadro de pessoal um número significativo de jovens. É o caso de Rosa Capitango e de Marcelina Gaspar. As duas, na faixa dos 20 anos, trabalham há cinco anos na área administrativa. Entre elas, é notório o espírito de equipa e de entreajuda.
Adilson Bezerra, responsável da área de produção de condutas de ar, deu-nos explicações técnicas sobre a fábrica. Adilson revelu que a chapa é a principal matéria-prima utilizada no fabrico das condutas. Há três anos na fábrica, Adilson beneficiou de formação que lhe permite dominar os meandros da fábrica.
Carteira de obras invejável
O fabrico de equipamentos de aquecimento, ventilação e ar condicionado é um segmento de mercado para o qual a Ramos Ferreira embarcou há dois anos, mas a empresa está presente em Angola desde 2010, com intervenções em outras áreas . Em sete anos, participou em 50 projectos de engenharia civil.
Entre os empreendimentos em que participou estão os emblemáticos edifícios Dolce Vita, Torre Cidadela, Torres Escom, Olympus, Torre Vitória, Shopping Avenida, Rosa Linda (11 blocos de habitação), supermercados Maxi e Kero, Hospital Psiquiátrico do Lubango e o Hospital da Casa Militar da Presidência da República. Nas obras de
Com duas linhas de montagem a fábrica produz condutas rectangulares e circulares tecnicamente designadas por “tubo spiro”. Os equipamentos servem para o escoamento de ar dos sistemas de ventilação. Em 2016 a empresa colocou no mercado cerca de 100 toneladas de condutas do género.
Em funcionamento em Angola, há dois anos, a Ramos Ferreira tem em carteira um investimento de um milhão de dólares destinado a alargar a produção e a sua carteira de negócios.
construção, a empresa ocupa-se do trabalho de engenharia, electricidade, ventilação e frio industrial.
A ministra da Indústria, Bernarda Martins, disse há dias que o Executivo tem em marcha um programa de apoio às empresas privadas para facilitar o acesso às divisas. “O Estado tem contribuido com medidas que visam facilitar os industriais a desenvolverem a sua produção”, afirmou, reconhecendo, no entanto, as dificuldades que muitos empresários ainda enfrentam para manterem as suas unidades em funcionamento.
“Ainda temos um longo caminho a percorrer, mas o sector privado tem estado a contribuir e a justificar o apoio contínuo que recebe do Estado para melhorar a sua participação no processo da diversificação da economia”, acentuou Bernarda Martins. Indústria e energia eléctrica
Entre os esforços do Executivo para o fomento industrial, a ministra destacou a construção de barragens e outras fontes de energia eléctrica e o aumento da oferta de água potável, factores determinantes para a redução dos custos de produção em Angola.
Com os investimentos em curso no sector da energia, espera-se uma queda acentuada nos custos de produção industrial no mercado angolano. A par da construção e reabilitação de barragens, o Executivo tem em marcha a instalação da rede nacional de transporte de energia eléctrica, sobre a qual incidem avultados investimentos públicos.As acções decorrem no âmbito do Plano Nacional de Desenvolvimento de Médio Prazo (PND 2013/2017), que dentro de dois anos vai dar lugar ao Programa Nacional de Desenvolvimento de Longo Prazo, no qual se insere a estratégia “Angola Energia 2025”.
Tendo em conta o que já foi feito ao nível da Rede Nacional de Transporte, entre 2018 e 2025 as atenções devem incidir fundamentalmente sobre os 60 kv necessários para apoiar a electrificação rural, outro grande objectivo inserido no Programa Nacional de Desenvolvimento “Angola 2025”.
Durante muito tempo, sobretudo nos últimos anos, o forte crescimento do consumo de energia em Angola, principalmente nos centros urbanos, colocou o sector numa situação de “emergência permanente”, concentrando grande parte dos esforços na procura de respostas para problemas pontuais. A estratégia “Angola Energia 2025” marca a ruptura com as soluções paliativas e assume o compromisso de garantir o acesso à energia eléctrica à generalidade da população como forma de promover o desenvolvimento humano. Segurança energética
Para garantir uma maior participação de agentes privados no sector, a estratégia “Angola Energia 2025” pretende criar condições para reduzir os encargos de exploração e, assim, atrair os agentes privados no sector.
Em 2013, quando começou a ser implementado o PND 2013/2017, Angola tinha 2.850 quilómetros de linhas eléctricas (de 60, 220 e 400 kv). O objectivo é atingir os 16.350 quilómetros em 2025.
Há relativamente pouco tempo, Angola tinha apenas 36 subestações ao longo da Rede Nacional de Transporte. O número tem vindo a aumentar, embora ainda esteja longe das 152 estações previstas para 2025.
As iniciativas do Executivo sucedem-se. Em 2011 foi aprovada, pelo Decreto Presidencial n.º 256/11 de 29 de Setembro, a Política e Estratégia de Segurança Energética Nacional, com o objectivo de definir as orientações estratégicas para o sector e redefinir o respectivo enquadramento institucional.
A longo prazo, esta política assume a necessidade de transformação do sector para responder ao enorme desafio associado ao crescimento da procura, ao longo de seis eixos, nomeadamente: crescimento do parque de geração, potenciação do papel das energias renováveis, expansão da electrificação, revisão tarifária e sustentabilidade económico-financeira, reestruturação e reforço dos operadores e promoção da entrada de capital e “know-how” privado.
O Executivo prevê investimentos na Rede Nacional de Transporte depois de 2017, incluindo a construção de um novo corredor de 220 kv, com linha dupla, entre o Norte e o Leste de Angola.
A opção pelos 220 kv deve-se à necessidade de garantir redundância e segurança de um corredor de 400 kv, do Queve em direcção a Sul, até à Namíbia, através de Benguela e Lubango, completando uma espinha dorsal NorteSul de 400 kv.
Este novo corredor vai aproximar-se do litoral, criando flexibilidade para, no futuro, escoar geração de energia ligada a um eventual novo local de abastecimento de gás. Prevê-se a construção de um novo eixo de 220 kv para reforço do abastecimento à cidade de Menongue e o fecho em anel das antenas de 220 kv do Sistema Norte, unindo Mbanza Kongo e Maquela do Zombo.