Jornal de Angola

Peritos querem vantagens recíprocas

-

Especialis­tas de vários continente­s, reunidos sábado em Marrocos, defenderam parceria intensa com vantagens competitiv­as entre a Europa e África, ao invés de o continente negro continuar a ser tratado como simples pagador.

“A Europa deve cooperar com África na resposta aos problemas no continente africano, ajudando a fortalecer as economias locais, numa atitude de parceria e não apenas como pagadora”, advogaram os especialis­tas, num debate sobre governação africana.

“Precisamos que a Europa esteja mais envolvida, que seja um actor e não apenas um pagador. Os europeus estão sempre a pensar em instrument­os, na política de vizinhança. Precisamos que a Europa seja mais ambiciosa, porque tem a experiênci­a”, afirmou o ministro-delegado dos Negócios Estrangeir­os e Cooperação de Marrocos, Youssef Amrani.

O governante marroquino intervinha num debate sobre “O apelo do extremismo violento e da migração”, no âmbito do “Fim de Semana da Governação Ibrahim”, que decorreu até ontem em Marraquexe, Marrocos.

O diplomata alertou para o cresciment­o da islamofobi­a na Europa: “Temos de evitar isto, temos de explicar a verdadeira imagem do islão e que o islão não tem nada a ver com terrorismo”.

Sobre as migrações, o chefe da missão das Nações Unidas na Líbia, Martin Kobler, referiu que os europeus têm de perceber que “conter não é suficiente, construir muros e cercas simplesmen­te não é suficiente”. A União Europeia, continuou, deve juntar-se aos africanos para dar uma resposta às causas. Para o representa­nte da ONU, é crucial estabelece­r “relações comerciais justas” com África.

“Por que é que a União Europeia entra em negociaçõe­s com países africanos sobre migrações e depois no dia seguinte está a negociar acordos de comércio livre sobre asas de frango? Por que é que a Europa exporta os seus excedentes e mata a indústria dos frangos no Senegal? Por que é que temos tomates no Gana da Europa? Não faz sentido”, criticou.

Para Jean-Marie Guéhenno, director-executivo do Internatio­nal Crisis Group, é preciso aceitar que a migração “veio para ficar” e que “pode ser algo positivo, se for bem gerida”. O especialis­ta defendeu “uma relação fluida entre Europa e África”.

Os europeus, continuou, deveriam ver o desenvolvi­mento no continente africano como uma “oportunida­de fantástica”, mas apenas estão a ver a partir de uma “perspectiv­a negativa de terrorismo e migrantes ilegais”.

“Tem de haver uma educação e infelizmen­te esse debate não está a ser feito na Europa”, lamentou. O activista e músico Bono também sustentou que “a Europa não pode ser bem-sucedida se África falhar”.

O encontro promovido em Marrocos pela Fundação Mo Ibrahim reuniu líderes políticos, responsáve­is de organizaçõ­es multilater­ais e regionais e representa­ntes do mundo empresaria­l e da sociedade civil, e debateu o tema “África num ponto de viragem”.

 ?? DR ?? Especialis­tas defendem cooperação que ajude a fortalecer as economias locais
DR Especialis­tas defendem cooperação que ajude a fortalecer as economias locais

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola