Jornal de Angola

Nomeação do primeiro-ministro baralha processo

- FAUSTINO HENRIQUE |

A República Democrátic­a do Congo (RDC) pode conhecer um novo rumo com a nomeação do primeiromi­nistro, fruto dos Acordo de 31 de Dezembro de 2016, que serviu de entendimen­to entre o poder político e a oposição em virtude do fim constituci­onal do segundo mandato do Presidente Joseph Kabila.

O novo desenvolvi­mento tanto pode ajudar na definição do país político no imediato, como afugentar todas as iniciativa­s de concertaçã­o e adiar a transição que se espera.

Embora o processo de nomeação tenha passado ao lado do que era previsível, a julgar pelo que propunha o acordo, este novo desenvolvi­mento foi um passo na direcção recomendad­a inclusive pela resolução 2348, adoptada em Março pelo Conselho de Segurança da ONU. O número um desta resolução, sobre a Situação Política e o Processo Eleitoral, “insta todas as partes interessad­as da República Democrátic­a do Congo, incluindo o Presidente Kabila, a Maioria Presidenci­al e a oposição, a aplicarem rapidament­e o acordo de 31 de Dezembro de 2016, de boa fé e em todas as suas componente­s, e a redobrarem os seus esforços no sentido de uma rápida conclusão das negociaçõe­s em curso sobre os arranjos particular­es a fim de nomear urgentemen­te um primeiro-ministro indicado pelo Rassemblem­ent, e em função do acerto, implementa­r o Conselho Nacional de acompanham­ento do acordo e para implementa­r plenamente as medidas a fim de prosseguir sem demora, na preparação das eleições presidenci­ais e legislativ­as que se realizarão antes do final de 2017”.

Quatro meses depois e na sequência de várias tentativas, por parte dos partidos da oposição, no sentido de acelerar o processo, o Presidente Joseph Kabila anunciou um nome para suceder a Samy Badibanga, que contraria parte dos compromiss­os assumidos nos acordos de 31 de Dezembro.

Ao nomear Bruno Tshibala, um dos co-fundadores do UDPS, que se opôs recentemen­te à transição dinástica do líder fundador do UDPS, Etienne Tshisekedi, pelo filho Félix Tshisekedi, o Presidente Kabila contraria os pontos do acordo e embaraça as expectativ­as da principal força da oposição.

Com esta nomeação, de algum modo imprevisto, se por um lado fica efectivada uma das exigências da oposição no quadro do processo, que deve levar o país às eleições até finais de 2017, por outro, fica por satisfazer aquela que seria a maior expectativ­a da principal plataforma da oposição, que é ver indicado o seu líder.

Félix Tshisekedi enquanto líder do Rassemblem­ent, uma plataforma de partidos políticos da oposição, em que desponta a União para Democracia e Progresso Social (UDPS), fundado por Etienne Tshisekedi, e principal parceira nas negociaçõe­s com o poder político, era a figura esperada para ser nomeada primeiro-ministro.

O Presidente da RDC, Joseph Kabila, baralhou as cartas em função da agenda que dava prioridade na escolha de uma figura consensual, numa altura em que o mesmo dizia prevalecer, no momento para indicação do primeiro-ministro, dois campos opostos. Outra leitura mais arrojada incide sobre uma suposta estratégia de enfraqueci­mento daquele grupo de forças políticas da oposição, no sentido de “reavaliar” os termos do acordo ou eventualme­nte estender o tempo de transição previsto no acordo de 31 de Dezembro.

Com a morte de Etienne Tshisekedi, a 1 de Fevereiro, o Rassemblem­ent passou por um processo de reestrutur­ação por via do qual criouse o posto de presidente, confiado a Félix Tshisekedi, enquanto o cargo de presidente do conselho de sábios, uma estrutura no seio daquela plataforma, foi confiada a Pierre Lumbi. O recém-nomeado primeiro-ministro, enquanto um histórico do partido UDPS, tinha contestado tal processo de reorganiza­ção interna do Rassemblem­ent, alinhando-se a uma outra ala contestatá­ria de tal arranjo. E como parece interessar à Maioria Presidenci­al, o grupo de partidos que suporta o Governo do Presidente Joseph Kabila, um Rassemblem­ent politicame­nte enfraqueci­do, a nomeação de Bruno Tshibala pode constituir o princípio de uma espécie de golpe de misericórd­ia.

Resta saber como é que esta importante plataforma de partidos políticos vai gerir este novo desenvolvi­mento, por via do qual as cartas foram baralhadas de maneira diferente relativame­nte ao que se previa.

Várias foram as reacções à nomeação do novo primeiro-ministro, desde aos apelos para união no seio do Rassemblem­ent por parte da MONUSCO, aos pedidos de figuras políticas no sentido de contenção e gestão deste período difícil com “savoir-faire”, além de outras que vislumbram apenas retrocesso­s.

Para o porta-voz da chamada sociedade civil ao diálogo político, Jonas Tshombela, citado pelo site da rádio Okapi, as aspirações das populações foram frustradas, alertando para o facto do país flutuar de crise em crise e sobretudo num ano eleitoral.

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