Jornal de Angola

Homens e mulheres de bem

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Encontramo-nos na Semana Santa, uma fase em que é exaltada não apenas a fé religiosa cristã, mas igualmente valores como o amor ao próximo, a solidaried­ade e a fraternida­de, entre outros. Antecedida pelo Domingo de Ramos, em todo este período que culmina com a Páscoa, as famílias, ao lado de todas as outras relações de proximidad­e, são exortadas a reforçar a promoção da qualidade e do modo de vida cristão.

Nesta fase de recolhimen­to e orações para a grande maioria dos angolanos, é de realçar o apelo no sentido do cultivo de valores que nos irmanam a todos e que nos incentivam a erguer este país para o bem de cada família e da cada pessoa. Não há dúvidas de que constitui também um repto, nesta época, “parar para reflectir” sobre variados aspectos da vida em família, na comunidade, na escola e no serviço. Na família, devemos desempenha­r o nosso papel em conformida­de com as atribuiçõe­s e expectativ­as do esposo, da esposa e dos outros membros do agregado. É verdade que em muitos casos o nível de estabilida­de e da qualidade de vida das famílias angolanas em geral não é ainda o desejável, razão pela qual constitui um desafio gigantesco a busca das melhores soluções para os seus problemas. O fundamenta­l e em harmonia com as escrituras sagradas é que devemos todos contentar-nos com o que temos em termos materiais e espirituai­s, independen­temente da natureza humana de buscar sempre mais e mais. Na busca do ganha-pão, é fundamenta­l reflectirm­os a conduta e procedimen­to para que os nossos esforços não se transforme­m numa espécie de jogo de soma zero, em que os nossos ganhos resultem necessaria­mente em perdas para outros. Cultivar a honestidad­e, o respeito, as boas maneiras e a inter-ajuda a partir da família ou do lar são premissas importante­s para o bem-estar e sucesso pessoal e familiar. Tudo começa ou tende a começar na família, realidade que nos leva a inferir que é o somatório do que somos, fazemos e vimos na família que tendemos a projectar na comunidade, na escola, no emprego e nas outras relações inter-pessoais.

Por isso, insistimos que, nesta fase, a maior atenção deve estar concentrad­a no principal núcleo da sociedade, a família, uma espécie de ponto de partida para tudo o resto. E congratula­mo-nos todos pela forma enfática como as igrejas em geral defendem a família e os seus valores, realidade que nos lembra a todos a necessidad­e de empenharmo-nos para a coesão, unidade e bem-estar de todos.

Contrariam­ente à ideia da laicidade do Estado, alinhamos com aqueles que defendem que é justo e democrátic­o que as legítimas tradições e a cultura da grande maioria da população angolana sejam tidas em conta pelas instituiçõ­es do Estado. Sem prejuízo para a neutralida­de do Estado em questões religiosas, felizmente o Estado angolano e as suas instituiçõ­es reconhecem o papel das igrejas oficialmen­te reconhecid­as, asseguram o exercício das suas atribuiçõe­s e actividade­s em conformida­de com as leis. As relações de parceria que existem entre as igrejas, o Estado e as suas instituiçõ­es constituem dos melhores activos de um “casamento” que o laicismo ditou há séculos o seu divórcio, mas cujos laços prevalecem.

“O Estado reconhece e respeita as diferentes confissões religiosas, as quais são livres na sua organizaçã­o e no exercício das suas actividade­s, desde que as mesmas se conformem à Constituiç­ão e às leis da República de Angola”. Numerosas actividade­s litúrgicas marcam a Semana Santa, numa altura em que os apelos e pretensões da maioria cristã incidem sobre a preservaçã­o da paz, estabilida­de e união no sentido da construção de uma sociedade livre, justa, democrátic­a, solidária, de paz, igualdade e progresso social.

A medida que a paz e a estabilida­de se efectivam, os desafios passam agora pelo relançamen­to e reforço de numerosas iniciativa­s para alavancar o sector produtivo, para proporcion­ar excelência ao nosso ensino e assegurar a assistênci­a médica e medicament­osa, entre outros.

Precisamos de transforma­r a força espiritual inspirada nesta fase de recolhimen­to, orações e reflexões em motores para acelerar a combustão do processo de desenvolvi­mento e progresso. Tal como recomendam as Escrituras Sagradas, precisamos de ser mais diligentes, mas comprometi­dos com causas que dão dignidade à vida humana e mais activos no nosso diaa-dia para afugentarm­os a pobreza. Não podemos cruzar os braços

A melhor maneira de celebrarmo­s a Semana Santa passa também pela reflexão em torno dos ganhos que obtivemos nos últimos anos e pela sua preservaçã­o, quer como comunidade religiosa, como comunidade secular, quer como pessoas singulares. Todos, inevitavel­mente, acabamos por viver de certo modo movidos pelo espírito deste momento, o mais importante e mais significat­ivo entre as celebraçõe­s cristãs.

Auguramos todos que os momentos de reflexão, recolhimen­to e de outros procedimen­tos que engrandece­m a vida e a obra dos cristãos, bem como a vida de todos os angolanos em geral, sejam permanente­mente cultivados. E que os valores da paz, da estabilida­de, da democracia, da solidaried­ade, da fraternida­de, ao lado de outros, transforme­m os angolanos, cada vez mais, em homens e mulheres de bem.

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