Rumo certo para um percurso íngreme
Ministério estabelece meta de um milhão de desportistas no Ciclo Olímpico
A ousada previsão de atingir um milhão de desportistas, no culminar do presente Ciclo Olímpico, não ultrapassa os limites do razoável, num universo de 25 milhões de angolanos. Embora aceitável, na vertente pedagógica, a estratégia anunciada pelo Ministro da Juventude e Desportos, Albino da Conceição, na abertura do 4.º Conselho Superior do Desporto, só vingará se forem devidamente acauteladas muitas outras variantes, que não dependem propriamente das entidades responsáveis da política desportiva.
Ou seja, a missão de aumentar significativamente a população desportiva do país, não pode ser exclusiva do MINJUD, sob pena de estar claramente condenada ao fracasso. O cenário actual não oferece grandes perspectivas de consumar este desiderato, mesmo reconhecendo que seria uma meta decisiva para garantir a progressão competitiva das Selecções Nacionais na arena internacional.
Os benefícios do crescimento do número de praticantes não ficam por aí. Mais desporto é, invariavelmente, sinónimo de mais saúde, maior intervenção positiva na formação da personalidade dos praticantes e, por arrasto, na educação da sociedade. Poderíamos enumerar muitos mais benefícios decorrentes desta estratégia pedagógica, que o titular da pasta da Juventude e Desportos pretende implementar.
Tal como os benefícios são extensivos a toda a sociedade, o trabalho para a busca deste bem comum deve, igualmente, resultar da sinergia dos distintos sectores. Mais do que isso, as políticas e práticas devem ser consistentes com esta linha orientadora.
Não é por coincidência que a perspectiva para a actividade física na escola aponta para cerca de 630 mil praticantes, quota claramente superior à parcela estimada para as comunidades (320 mil), e muito maior ainda, comparativamente aos 50 mil desportistas que se espera ganhar no Alto Rendimento.
O realismo destes números deve (ria) estar reflectido nas prioridades da gestão de todos os sectores da sociedade, embora as áreas educativa e dos desportos sejam as principais protagonistas. Tanto assim é, que seria impensável atingir tão ambiciosos números no desporto escolar, no estado moribundo em que se encontra a própria Educação Física. Ou seja, se para a actividade física mais elementar, mínima e obrigatória para as crianças crescerem sãs, não existem estruturas e meios humanos suficientes, muito menos ainda haverá para o desporto, pois este apresenta um grau de complexidade superior, com maior exigência de material, instalações e recursos humanos qualificados.
Poucas são as instituições escolares que, nos dias de hoje, estão capacitadas para satisfazer a demanda da Educação Física. Menos ainda, estarão aptas a suportar o desporto escolar, na sua verdadeira acepção. Para piorar, embora se tenham construído muitos estádios e pavilhões de alta qualidade, muito pouco se fez para o desporto de massas. Poucos espaços existem, com capacidade para servir de embrião à actividade desportiva de base, como futura sustentação do Alto Rendimento.
Aqui chegados, importa avaliar até que ponto a reduzida parcela financeira dedicada ao desporto será eficaz, para gerar estruturas, formar quadros, mudar padrões comportamentais erróneos e, por via de tudo isso, tornar viável a meta de colocar cerca de cinco por cento dos angolanos a praticar actividades físicas regulares. É evidente que a missão ultrapassa largamente o âmbito de acção do MINJUD. É uma responsabilidade social, com implicação directa no futuro da Nação.
O próprio ministro deu o mote à disseminação desta ideia a todas as forças vivas da sociedade, ao assumir que “o alcance da meta só será possível, se a economia nacional conseguir resultados positivos”.
Paradoxalmente, é líquido também que, se a sociedade estiver mais saudável, terá seguramente maiores possibilidades de crescimento, em todas as outras áreas.