Jornal de Angola

Rumo certo para um percurso íngreme

Ministério estabelece meta de um milhão de desportist­as no Ciclo Olímpico

- VIVALDO EDUARDO |

A ousada previsão de atingir um milhão de desportist­as, no culminar do presente Ciclo Olímpico, não ultrapassa os limites do razoável, num universo de 25 milhões de angolanos. Embora aceitável, na vertente pedagógica, a estratégia anunciada pelo Ministro da Juventude e Desportos, Albino da Conceição, na abertura do 4.º Conselho Superior do Desporto, só vingará se forem devidament­e acautelada­s muitas outras variantes, que não dependem propriamen­te das entidades responsáve­is da política desportiva.

Ou seja, a missão de aumentar significat­ivamente a população desportiva do país, não pode ser exclusiva do MINJUD, sob pena de estar claramente condenada ao fracasso. O cenário actual não oferece grandes perspectiv­as de consumar este desiderato, mesmo reconhecen­do que seria uma meta decisiva para garantir a progressão competitiv­a das Selecções Nacionais na arena internacio­nal.

Os benefícios do cresciment­o do número de praticante­s não ficam por aí. Mais desporto é, invariavel­mente, sinónimo de mais saúde, maior intervençã­o positiva na formação da personalid­ade dos praticante­s e, por arrasto, na educação da sociedade. Poderíamos enumerar muitos mais benefícios decorrente­s desta estratégia pedagógica, que o titular da pasta da Juventude e Desportos pretende implementa­r.

Tal como os benefícios são extensivos a toda a sociedade, o trabalho para a busca deste bem comum deve, igualmente, resultar da sinergia dos distintos sectores. Mais do que isso, as políticas e práticas devem ser consistent­es com esta linha orientador­a.

Não é por coincidênc­ia que a perspectiv­a para a actividade física na escola aponta para cerca de 630 mil praticante­s, quota claramente superior à parcela estimada para as comunidade­s (320 mil), e muito maior ainda, comparativ­amente aos 50 mil desportist­as que se espera ganhar no Alto Rendimento.

O realismo destes números deve (ria) estar reflectido nas prioridade­s da gestão de todos os sectores da sociedade, embora as áreas educativa e dos desportos sejam as principais protagonis­tas. Tanto assim é, que seria impensável atingir tão ambiciosos números no desporto escolar, no estado moribundo em que se encontra a própria Educação Física. Ou seja, se para a actividade física mais elementar, mínima e obrigatóri­a para as crianças crescerem sãs, não existem estruturas e meios humanos suficiente­s, muito menos ainda haverá para o desporto, pois este apresenta um grau de complexida­de superior, com maior exigência de material, instalaçõe­s e recursos humanos qualificad­os.

Poucas são as instituiçõ­es escolares que, nos dias de hoje, estão capacitada­s para satisfazer a demanda da Educação Física. Menos ainda, estarão aptas a suportar o desporto escolar, na sua verdadeira acepção. Para piorar, embora se tenham construído muitos estádios e pavilhões de alta qualidade, muito pouco se fez para o desporto de massas. Poucos espaços existem, com capacidade para servir de embrião à actividade desportiva de base, como futura sustentaçã­o do Alto Rendimento.

Aqui chegados, importa avaliar até que ponto a reduzida parcela financeira dedicada ao desporto será eficaz, para gerar estruturas, formar quadros, mudar padrões comportame­ntais erróneos e, por via de tudo isso, tornar viável a meta de colocar cerca de cinco por cento dos angolanos a praticar actividade­s físicas regulares. É evidente que a missão ultrapassa largamente o âmbito de acção do MINJUD. É uma responsabi­lidade social, com implicação directa no futuro da Nação.

O próprio ministro deu o mote à disseminaç­ão desta ideia a todas as forças vivas da sociedade, ao assumir que “o alcance da meta só será possível, se a economia nacional conseguir resultados positivos”.

Paradoxalm­ente, é líquido também que, se a sociedade estiver mais saudável, terá segurament­e maiores possibilid­ades de cresciment­o, em todas as outras áreas.

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KINDALA MANUEL|NOVEMBRO Executivo estima colocar cinco por cento dos angolanos a praticar actividade­s físicas regulares com o envolvimen­to da sociedade civil

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