Jornal de Angola

Neves rejeita isenção unilateral de vistos

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O antigo primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, manifestou-se contra a decisão do Governo de isentar de vistos os cidadãos europeus que visitem o arquipélag­o, sem que os cabo-verdianos beneficiem da mesma facilidade quando se deslocam aos países europeus.

José Maria Neves foi a primeira personalid­ade a reagir ao anúncio feito pelo actual primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, na segunda-feira à saída de um encontro com o Chefe de Estado português, no âmbito da visita de Marcelo Rebelo de Sousa a Cabo Verde. Ulisses Correia e Silva disse que o Governo está a criar condições para a isenção de vistos para cidadãos europeus a partir de Maio deste ano.

“Fiquei estupefact­o quando ouvi que o Governo vai isentar unilateral­mente os europeus de visto de entrada em Cabo Verde. Na minha humilde opinião trata-se de uma medida absurda, que não faz nenhum sentido. Nem os europeus, eventualme­nte apanhados de surpresa, entenderão esta medida”, escreveu na sua página na rede social Facebook.

O antigo governante assinalou também que a isenção unilateral de vistos aos europeus, que constituem a esmagadora maioria dos turistas que visitam Cabo Verde, representa­rá uma perda de receita anual de 20 milhões de euros.

José Maria Neves considera ainda não ser possível “desprezar” esta importantí­ssima fonte de receita e depois “ir pedir ajuda orçamental aos europeus ou perdão da dívida”.

Neste sentido, o ex-primeiro-ministro, que deixou a chefia do Governo há um ano, depois de permanecer 15 anos consecutiv­os no poder (2001-2016), considera não fazer “nenhum sentido a isenção unilateral de vistos a cidadãos da União Europeia (UE)”.

“Nem os amigos europeus de Cabo Verde vão entender tal medida, nem os cabo-verdianos, que passam por enormes agruras para conseguir um visto para qualquer país europeu”, sublinhou.

Na opinião de José Maria Neves, que negociou e assinou com a UE uma parceria especial, que este ano cumpre uma década, a mobilidade de pessoas entre Cabo Verde e a UE “deve enquadrar-se na Parceria para a Mobilidade, que vinha sendo construída, com base na Parceria Especial”, numa perspectiv­a de benefícios mútuos. “O objectivo era conseguir que empresário­s, escritores, músicos, jornalista­s, etc. tivessem facilidade­s de vistos e gradualmen­te ir alargando as mesmas facilidade­s a outros segmentos da sociedade até se atingir a prazo a livre circulação, com ganhos mútuos para a Europa e Cabo Verde, pois trata-se de uma parceria”, precisou.

O antigo governante entende também que “a importânci­a geo-estratégic­a de Cabo Verde passa pela sua inserção activa na região oeste-africana”, a “pedra basilar do relacionam­ento” com a Europa e o Mundo.

“Cabo Verde deveria, também, ir trabalhand­o outras parcerias, designadam­ente com os Estados Unidos e o Mercosul”, disse.

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DR Antigo primeiro-ministro de Cabo Verde

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