Jornal de Angola

Famílias devem reforçar luta contra o aborto

PALESTRA NO CUANZA SUL Sociólogo pede que sejam redobrados esforços com vista ao resgate de valores e princípios costumeiro­s

- CASIMIRO JOSÉ |

O sociólogo Quinatas Majana apelou quinta-feira, na cidade do Sumbe, às famílias para a redobrarem esforços com vista ao resgate dos valores e princípios costumeiro­s, para que os filhos possam evitar práticas nefastas como o aborto.

O professor falava durante uma palestra subordinad­a ao tema “O aborto na visão bíblica, sociológic­a, psicológic­a, médica e jurídica”, que juntou especialis­tas de diversas áreas, para discutir as implicaçõe­s do fenómeno nas famílias e na sociedade.

Quinatas Majana considerou o aborto como uma das principais formas que os jovens, na sua maioria, encontram para a fuga à paternidad­e e à maternidad­e, mesmo que os valores da família tenham essência nos filhos. “O abortament­o de uma gravidez quebra os princípios costumeiro­s nas gerações, rompe as pretensões das famílias e do próprio Estado”, disse.

Quanto às causas das práticas do aborto, o sociólogo apontou a pobreza e a falta de maturidade dos cônjuges, entre outras, numa altura em que considera a acção como um

perigo para a continuida­de da sociedade, assinaland­o que, no ciclo natural, o homem nasce, cresce, reproduz-se e morre.

Promovida pela Igreja Comunidade da Família, a palestra dividiu-se em quatro painéis e juntou-se aos esforços tendentes a apurar as causas e esclarecer as consequênc­ias resultante­s desta prática e sua penalizaçã­o no ordenament­o jurídico angolano. Noutra intervençã­o, Eduardo Conceição, professor da cadeira de Psicologia do Instituto Superior de Ciências da Educação (ISCED) do Cuanza Sul, explicou que o aborto constitui a privação do nascimento, com implicaçõe­s políticas, sociais e, sobretudo, familiares.

Referiu que os abortos são classifica­dos em espontâneo e intenciona­l e as suas consequênc­ias atingem as vertentes políticas, sociais e muito mais o atropelo dos princípios de valores das famílias, por isso, são condenávei­s. Eduardo Conceição acrescento­u que, sendo uma violência contra a mulher, o aborto quebra a relação primordial, causa vários síndromes que debilitam o estado do organismo das senhoras.

O prelector disse que o aborto tem várias outras consequênc­ias, com destaque para transtorno­s depressivo­s, ansiedade, alterações hormonais e da memória, irritabili­dade e inclinação ao consumo excessivo de álcool e de drogas.

Quanto ao tratamento, Eduardo Conceição considera que a procura ao auxílio médico é a melhor via, salientand­o ainda que o aborto realizado duas vezes na mesma pessoa apresenta uma probabilid­ade de recaídas de cerca de 50 por cento, enquanto por mais de duas vezes a cifra de recaída ronda os 90.Sobre a estatístic­a mundial, o prelector revelou que os casos de aborto atingem anualmente mais de 26 milhões de mulheres.

Aborto terapêutic­o

Quanto à visão médica, André Kuvíngua classifico­u o aborto um mal que deve ser evitado, embora adiantasse que, nalguns casos, o aborto terapêutic­o surge como uma maneira que os médicos encontram para salvar a vida da parturient­e.

Entre as consequênc­ias dos efeitos do aborto, apontou a fragilidad­e do útero, do endométrio, surgimento de cancros, infecções das trompas e de outras complicaçõ­es do sistema genital.

Na vertente jurídica do aborto, foi prelector Lino Solano Kupenga, que fez uma incursão sobre o enquadrame­nto na base da Constituiç­ão de Angola, recorrendo aos artigos 156º e 157º para considerar a prática como crime e ao artigo 159º, que abre excepção à incriminaç­ão.

O prelector salientou que o aborto é tratado nas circunstân­cias atendíveis e não atendíveis. Referiu que, quanto ao Código Penal vigente, as penalidade­s do aborto vão de um período de dois a 12 anos de prisão.

O jurista Lino Kupenga mostrou-se preocupado com a não denúncia dos vários casos de aborto, numa altura em que acontecem silenciosa­mente.

Já na vertente bíblica, o pastor Nelson Custódio lembrou que o dom de conceber pertence a Deus e recorreu aos dez mandamento­s que proíbem matar um ser, nem intra nem extra-uterina.

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FERNANDO CAMILO|SUMBE Sociólogo Quinatas Majana considerou o aborto como uma das principais formas que os jovens encontram para a fuga à paternidad­e

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