Percussionista homenageado
JOÃOZINHO MORGADO HOMENAGEADO Diversidade de tambores faz vibrar espectadores da III Trienal de Luanda
O percussionista Joãozinho Morgado defendeu na sexta-feira, em Luanda, a necessidade da preservação dos ritmos que caracterizam a música popular angolana, em particular o semba, por constituir uma referência.
Homenageado em concerto realizado no Palácio de Ferro, no âmbito da III Trienal de Luanda, o percussionista falou também sobre a importância do batuque, instrumento que toca há mais de trinta anos, e mostrou-se preocupado com a passagem de testemunho à nova geração.
Na sua óptica, o batuque está ligado à essência do semba, um dos motivos para que sejam criadas, com urgência, condições que permitam divulgar a arte da percussão, um meio importante para a produção musical. “Para mim, o semba está associado directamente à existência do batuque e é impensável compor bem uma música nesse estilo sem a utilização do batuque, daí que se torne pertinente passar o legado, por forma a eternizar-se”, defendeu o artista.
Durante a homenagem, Joãozinho Morgado actuou acompanhado por Correia Miguel, Chico Santos, Yasmane Santos e Raúl Tolingas, entre outros percussionistas. Joãozinho Morgado nasceu em Luanda, no bairro Operário, em 1947. Começou a marcar, com apenas 10 anos, o compasso rítmico das tumbas.
Em 1957, integrou a turma do Santo Rosa e o tocador de tambor Lúpi Lumbi Yaya, palmilhando as ruas do bairro nos períodos de festa, em especial no Carnaval.
Com 14 anos, ajuda a fundar uma pequena formação musical com Carlos Geovetti (chocalho), Franco (bate-bate), Domingos Infeliz (recoreco), João da Sparta (caixa), embrião dos Negoleiros do Ritmo, já com Dionísio Rocha, na condição de principal vocalista e compositor.
Em 1964, a convite do promotor musical Luís Montez, os Negoleiros do Ritmo, com Nando Cunha (dikanza), Jajão (viola), Dionísio Rocha (voz) e Joãozinho Morgado (tumbas), gravam o single “Ai Compadre” em Portugal, para onde viajaram integrados numa caravana artística que incluía a cantora e dançarina Alba Clintgon, Mestre Geraldo, quatro bailarinas e uma selecção de marimbeiros de Malange.
Mestre Geraldo, pai de Joãozinho Morgado e figura emblemática da massemba, também designada rebita, foi acordeonista, compositor, professor de dança e dinamizador cultural, estando na origem dos Novatos da Ilha e Feijoeiros do Ngola Kimbanda, grupos referenciais do antigo Carnaval luandense. O avô materno de Joãozinho Morgado, João diá Nguma, tocava tambores, e a mãe, Antónia João Martins (Antonica diá Geraldo), utilizava tambores nas sessões de adivinhação e “calundús”. Estes percussionistas exerceram em Joãozinho Morgado uma forte influência na formação da personalidade cultural e gosto pela música popular.
Joãozinho Morgado permaneceu nos Negoleiros do Ritmo até 1974, tendo participado na gravação dos principais clássicos do grupo, “Mukonda diá Lemba”, “Riquita” e “Minha Cidade”, interpretados por Dionísio Rocha. Convidado por Carlitos Vieira Dias, integrou a primeira formação dos Merengues, grupo afecto à Companhia de Discos de Angola (CDA), de Sebastião Coelho e Fernando Morais. Carlitos Vieira Dias (baixo), também accionista da CDA, Zé Keno (viola ritmo), Gregório Mulato (bongós), Vate Costa (dikanza) e Zeca Tyrilene (viola ritmo) são os músicos fundadores. Na fase de maior qualidade produtiva dos Merengues, 19751977, Joãozinho Morgado participou nas principais gravações discográficas da música popular angolana. Referência incontornável do semba, o artista herdou o talento do pai, Mestre Geraldo, que foi comandante de rebita, compositor e criador de grupos carnavalescos.
A III Trienal de Luanda teve início em Novembro de 2015 e vai até finais de Agosto do corrente ano, sobre o tema “Da utopia à realidade”. Esta iniciativa cultural visa recuperar, preservar e divulgar as obras e os criadores nacionais.
Tem ainda como objectivo valorizar os artistas pelo contributo dado à expansão da cultura angolana.