Os fazedores de opinião pública
A comunicação social em tempo de eleições está no centro das atenções. É através dos órgãos de informação que as acções das instituições ligadas às eleições se manifestam perante o grande público.
Os jornalistas e outros profissionais de comunicação social são responsabilizados por tudo que ocorre na transmissão de dados sobre as eleições. Mas a missão de comunicar é complementada ainda pelos fazedores de opinião. As rádios, as televisões e os jornais dispõem de espaços próprios onde estes emitem as suas opiniões sobre diversos fenómenos sociais, económicos, culturais, políticos.
Em Angola, o espaço público é animado nas redes sociais, rádios, televisões e até mesmo nos jornais impressos. Em tempo de eleições, o espaço reservado aos nossos comentadores, nos órgãos de comunicação social, já começa a ter um forte impacto.
Mas, a qualidade das opiniões de muitos comentadores deixa a desejar. Em primeiro lugar, existe no nosso espaço público, nas televisões (estatal e privada) espaços privilegiados semanalmente onde vários fazedores de opinião aparecem a debitar as suas ideais. Isto é positivo. O negativo da presença de muitos destes fazedores de opinião é o facto de não trazerem nada de novo. Os nossos famosos analistas políticos, sociais e até económicos, limitam-se a comentar lugares comuns. Muitos repetem as notícias que os jornalistas emitem e agarram-se ali como se tivessem descoberto a pólvora.
Outros aparecem nos ecrãs de televisão e à frente dos microfones de rádios a repetir o óbvio. Não surpreendem quem está do outro lado a acompanhá-los. O pior disto tudo é quando vimos fazedores de opinião que não se apresentam pela área de formação. Uns dizem que são jornalistas e que o facto de serem técnicos da informação podem comentar tudo o que lhes convier.
Os fazedores de opinião que se propõem a analisar o que a comunicação social retrata, em primeiro lugar, deveriam ser especialistas em análise dos discursos mediáticos com conhecimentos que se adquirem em sede das Ciências de Comunicação. Um analista dos discursos mediáticos não faz juízo de valor do posicionamento deste ou daquele partido, porque afinal isso é política.
E política é mesmo uma questão de opção. Um analista dos discursos mediáticos deve apresentar as suas ideias sobre a forma como os políticos apresentam os seus posicionamentos através da comunicação social com base na ciência iluminada pela razão. Um analista dos discursos mediáticos nunca é tendencioso, mesmo que queira ajudar este ou aquele tem de o fazer com alguma inteligência e classe. O pior dos nossos comentadores, sobretudo nas televisões e rádios, é que ocupam lugares que não lhes pertencem. Ou melhor, os comentadores vão aos debates vestidos das camisolas dos seus “clubes” e não conseguem dar a opinião necessária para o consumo público.
Alguém que nunca fez enfermagem e muito menos medicina não se pode aventurar em fazer análises clínicas sobre a oftalmologia ou cardiologia. Os resultados serão nefastos. O mesmo aplica-se aos nossos fazedores de opinião, que utilizam os microfones de rádios e ecrãs de televisões com pretexto de contribuir na formação da opinião pública, mas com uma evidência para a autopromoção condenada à falência.
Nos últimos dias acompanhei um painel de fazedores de opinião num canal televisivo onde falavam sobre a pré-campanha dos partidos políticos. Um dos comentadores, ao fazer a referência a um partido, exigia que os dirigentes daquele partido explicassem, no comício, ao pormenor, o que iriam fazer se por acaso ganharem as eleições. Ora, este comentador, no mínimo, não sabe o que é um acto de massas ou um comício.
Como é que é possível um partido político explicar, pormenorizadamente, os meandros técnicos da concretização da política de governação no sector da educação, saúde, indústria, comércio, justiça, etc. O comentador não sabe que o comício serve para passar as ideias principais e galvanizar os eleitores. O discurso para um comício não se compadece com o linguajar técnico de elaboração de um plano de governação que envolve questões técnicas nos domínios de economia, planeamento e jurídico, entre outros elementos.
Os nossos fazedores de opinião, muitos deles, não acrescentam mais nada naquilo que os jornalistas publicam, repetem os lugares comuns. Muitos deles sentem-se confortados por estarem sozinhos para comentar um assunto de interesse nacional e sem contraditório.
Até pedem aos jornalistas para não fazerem perguntas cujas respostas não dominam, num assunto a que se propõem falar. Outros, usam termos como “a minha cábula”, designando os rascunhos de papel onde escrevem as ideias para reforçar a sua memorização de forma descontraída. A cábula, para já, é um crime grave. Nas escolas todos sabemos que quem usa cábula é gravemente censurado.
Então, um fazedor de opinião que utiliza estes termos estará em condições de nos ajudar a formar de facto uma opinião? Os nossos fazedores de opinião, em tempo de eleições, devem trazer novidades que ajudem os actores políticos a decidir. Devem trazer novidades que surpreendem quem os ouve e vê.
Devem trazer novidades que ajudem a complementar, de facto, o trabalho dos jornalistas. Um fazedor de opinião, de fato e gravata, que repete o que está na internet e exibe livros como se os tivesse lido todos, nem serve para ocupar um espaço nobre numa televisão ou rádio.