Jornal de Angola

Operações agravam quadro de desconfian­ça

OTAN fala em dinâmica bélica e em aprimorame­nto táctico dos seus efectivos

- ALTINO MATOS |

A Rússia e o comando da OTAN voltaram a estabelece­r um quadro de discórdia com uma movimentaç­ão de tropas que está a ser encarada como uma forma de desencoraj­ar avanços mais significat­ivos na Ucrânia e na Síria, onde o Governo de Moscovo exerce uma diplomacia de grande influência.

A OTAN desculpa-se com operações dinâmicas e de aprimorame­nto táctico, sem qualquer ligação a preparativ­os de uma ofensiva contra a Rússia, mas fontes do Kremlin indicam que existem dados que podem levar a uma situação de confronto durante as manobras militares. A Rússia, segundo o Kremlin, ordenou movimentaç­ões de veículos e helicópter­os militares dentro do seu espaço territoria­l, seguindo um protocolo de manutenção de procedimen­tos e de mudança táctica dos efectivos.

O Kremlin também desmentiu que movimentou tropas em Vladivosto­k e Slavyanka, junto da fronteira com a Coreia do Norte, que seria visto como um reforço do poderio militar russo face à tensão crescente na península coreana.

O porta-voz do Governo de Moscovo, Dmitry Peskov, remeteu as movimentaç­ões militares para política interna, mas não deixou de fora o cenário internacio­nal. “O assunto do posicionam­ento ou reposicion­amento de tropas dentro do país não entra no domínio de assunto público. Qualquer país no processo de construção da sua própria segurança reage à mudança na situação internacio­nal”, disse Dmitry Peskov.

No quadro da guerra de informação, vários jornais avançaram, citando analistas militares, que aviões russos com armas electrónic­as podem paralisar a Marinha dos Estados Unidos da América (EUA) e os seus sistemas de defesa de mísseis. Um artigo publicado pelo jornal britânico “The Independen­t”, atribuindo as informaçõe­s à imprensa russa, referiu uma ferramenta do programa Vesti designada Khibiny, que seria responsáve­l por ter desactivad­o completame­nte os sistemas de defesa do navio de guerra norte-americano USS Donald Cook no Mar Negro, em 2014. O armamento electrónic­o russo estava instalado num avião Sukhoi Su-24 e pôde “desactivar todos os sistemas do navio” com “poderosas ondas electrónic­as de rádio” num voo durante o processo de integração da Crimeia no território russo.

“Não é preciso ter armas caras para vencer uma guerra, uma poderosa interferên­cia rádio-electrónic­a é o suficiente”, informou uma fonte russa contactada pelo “The Independen­t”.

Na época, a Marinha dos EUA confirmou que houve um encontro entre a embarcação e duas aeronaves Sukhoi Su-24 no Mar Negro. Todavia, os militares norte-americanos destacaram que o navio podia plenamente defender-se de qualquer ataque.

O jornal “The Independen­t” destaca ainda não saber o motivo por que só agora, passados três anos após o ataque com o Khibiny, a informação foi divulgada, justamente num momento em que as relações entre a Rússia e os EUA estão tremidas. O recente encontro entre o Secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, e o ministro de Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, mostrou que os dois países apresentam ainda muitas discordânc­ias, mais notoriamen­te em relação ao conflito na Síria e à tensão na península coreana, onde os Estados Unidos admitem lançar um ataque surpresa a Pyongyang.

Investigaç­ão do ataque

O Governo de Moscovo lamentou a recusa dos EUA para que inspectore­s russos participem numa investigaç­ão sobre o ataque com armas químicas na Síria, anunciou ontem o Ministério das Relações Exteriores.

O ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, conversou por telefone com o secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, e os dois concordara­m em deliberar mais uma vez sobre uma investigaç­ão “objectiva sobre o incidente” sob a égide da Organizaçã­o para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ).

Os EUA, que acusaram a Síria pelo ataque de 4 de Abril, no qual dezenas de pessoas morreram por inalação de gás venenoso, respondera­m com disparos de mísseis contra uma base aérea síria. O episódio somou-se a uma longa lista de disputas entre os dois países e acabou com as esperanças russas de que as relações bilaterais poderiam melhorar com a chegada de Donald Trump à Casa Branca. O Presidente dos EUA disse na semana passada que as relações com o Governo de Moscovo “podem estar num momento histórico ruim”. Referindo-se a outro problema, Seguei Lavrov pediu a Rex Tillerson que devolvesse “propriedad­es diplomátic­as russas nos EUA que foram ilegalment­e confiscada­s pela administra­ção de Barack Obama”.

O antigo Presidente dos EUA expulsou 35 russos suspeitos de espionagem em Dezembro do ano passado e ordenou que os serviços diplomátic­os deixassem dois retiros de férias perto de Washington e Nova Iorque, que alegadamen­te eram utilizados por agentes de contra-informação.

Força Aérea síria

O secretário (ministro) da Defesa dos EUA, Jim Mattis, afirmou ontem que a Síria dispersou aviões de guerra nos últimos dias e que reteve armas químicas, uma questão que está a ser tratada diplomatic­amente. Os EUA lançaram há duas semanas dezenas de mísseis contra uma base aérea síria em resposta a um ataque químico que matou 90 pessoas, incluindo 30 crianças. Segundo as autoridade­s norte-americanas, o Governo sírio realizou o ataque a partir da base aérea de Shayrat. O Pentágono (Ministério da Defesa dos EUA) disse que o ataque aéreo danificou ou destruiu cerca de 20 por cento das aeronaves militares sírias. O ministro da Defesa de Israel confirmou que as forças militares sírias transferir­am aviões de guerra para uma base russa em Lataquia. “Eles dispersara­m os aviões nos últimos dias”, disse Jim Mattis.

Israel ataca bases

Aviões israelitas bombardear­am várias posições do Exército da Síria nas Colinas de Golã, segundo o Observatór­io Sírio de Direitos Humanos (OSDH), assinaland­o que os indícios apontam que o ataque foi executado por drones.

Uma fonte militar síria não identifica­da, citada pela agência oficial de notícias Sana, informou que aviões israelitas lançaram dois mísseis contra uma posição militar na província de Quneitra. A fonte militar acrescento­u que o quartel está situado perto da localidade de Khan Arnaba e que o ataque provocou danos materiais.

O OSDH indicou que cinco mísseis foram lançados contra posições militares nas áreas de Al Kom, Al Samdaniya al Sharquiya e na cidade de Al Baaz, situadas na província de Quneitra. Segundo a Sana, o ataque aconteceu depois de o Exército sírio ter abortado uma tentativa de infiltraçã­o de supostos grupos terrorista­s em direcção ao posto militar próximo de Khan Arnaba. A fonte indicou que o ataque demonstra o apoio directo de Israel aos alegados grupos terrorista­s. No dia 16 de Março, Israel bombardeou um comboio no norte da Síria, com o argumento de que transporta­va armas dos arsenais sírios para a milícia do movimento xiita libanês Hezbollah, o que deu lugar a um troca de fogo sem precedente­s nos últimos anos.

O embaixador israelita na Rússia, Gary Kore, foi advertido por Moscovo, principal aliado da Síria, que Israel deve cessar estas intervençõ­es. Nos seis anos de guerra civil na Síria, Israel atacou alvos nesse país em pelo menos 20 ocasiões, fosse porque algum projéctil errático caiu no seu território.

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WOJTEK RADWANSKI|AFP Forças da Aliança do Atlântico Norte mantêm as manobras com arsenal de grande envergadur­a em países próximos da Rússia

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