Uma planta com enormes propriedades medicinais
Especialistas em botânica defendem a preservação da planta mutonga-tonga, uma trepadeira que cresce em matas e florestas húmidas, com um arbusto ramificado, cujas hastes podem chegar aos 20 metros de comprimento.
Cientificamente conhecida por ‘phytolacca dodecandra l'hérit’ a mutonga-tonga é uma planta de origem africana e tradicionalmente utilizada em Angola desde o período colonial como detergente. Tem utilidade ecológica, medicinal, alimentar e aplicação na agricultura e na indústria.
Numa palestra realizada em Ndalatando (Cuanza Norte), por iniciativa da Direcção Provincial da Cultura e do Museu Nacional de História Natural, a bióloga Leonor Pedro realçou a importância sociocultural e medicinal da planta detergente.
Leonor Pedro lembrou que a planta é utilizada em Angola para produzir um detergente natural, para lavagem de roupa e higiene corporal, contendo substâncias naturais utilizadas na produção industrial do sabão, daí o nome pelo qual é conhecida.
É uma espécie que, em grandes quantidades, pode ser altamente tóxica e está presente em vários países africanos onde é utilizada no dia-a-dia de uma parte da população local. Leonor Pedro defende que a aposta na produção de sabão a partir da mutonga-tonga permitiria a protecção da planta. “É um processo simples de produção do sabão e poderia travar o desaparecimento de uma planta que faz parte da história de Angola. Era utilizada no tempo colonial como sabão. Depois, com o agravamento do conflito armado, em 1992 e 1993, o único sabão que as pessoas utilizavam em algumas zonas militarmente sitiadas, como o Cuanza Norte, era feito a partir desta planta”, recordou a especialista.
Durante os estudos de campo realizados nos municípios do Cazengo e de Golungo Alto (província do Cuanza Norte), os investigadores constataram que além da sua utilidade como detergente, a planta era também usada pelos mais velhos para tratar conjuntivites, otites, malária, doenças respiratórias, cicatrizações, tumores, epilepsia, oncosercose, hemorróidas, raiva, dores de garganta e reumáticas, entre outras doenças.
“Durante a guerra, a mutongatonga foi utilizada para produzir veneno para apanhar peixes de forma silenciosa”, explicou a bióloga. Leonor Pedro adiantou que na província do Cuanza Norte a raiz da planta é ainda utilizada como isca para matar e caçar corvos, chacais ou aves e cães vadios.
“É uma planta que, pela sua importância científica, sociocultural, na veterinária e na construção civil, urge preservar”, referiu.