Jornal de Angola

A inseguranç­a civil no Mundo

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A notícia que mais chocou o mundo em 2015 foi a que informava sobre o massacre perpetrado pelo Estado Islâmico no dia 13 de Novembro desse ano na cidade-luz, Paris, a capital do Pensamento Livre, a urbe cosmopolit­a que apregoou ao mundo, em 1789, os ideais de liberdade, igualdade e fraternida­de. Pelo menos 130 pessoas morreram e cerca de 350 ficaram feridas no dia 13 de Novembro desse ano fatídico, em vários ataques a tiro e de kamikazes armadilhad­os. Até a policia conseguir deter um dos cabecilhas dos atentados, Salah Abdeslam, que conseguiu fugir num Seat preto para a Bélgica, passaram longos dias, foram mobilizado­s milhares de efectivos, para fechar o rescaldo de uma operação cometida por meia dúzia de terrorista­s.

Dois anos depois, Paris e outras regiões da terra de Victor Hugo continuam a ser alvo de violentos ataques dos radicais islâmicos. Até camiões têm sido utilizados para semear o terror entre a população civil numa cidade que, hoje em dia, está transforma­da num enorme quartel a céu aberto, com militares armados patrulhand­o as ruas e os aeroportos e os locais de grande concentraç­ão humana.

O Mundo em que vivemos hoje sofre um novo tipo de guerra mundial, que nenhuma mãe de todas as bombas conseguirá travar, a menos que se despejem todas as bombas nucleares sobre o planeta e vamos todos desta para melhor. Foi o que se viu no Afeganistã­o. A mãezinha de dez toneladas lançada sobre uma montanha de grutas onde se ocultavam os talibãs provocou menos mortes que o ataque-represália lançado no dia 21 do corrente mês, que matou 138 e feriu 64 soldados afegãos.

Os radicais islâmicos estão praticamen­te imparáveis e representa­m uma séria ameaça contra a segurança civil na Europa, nos EUA, na Ásia, na África (Boko Haram) e um pouco por todo o Mundo.

Isso significa que a estratégia de defesa civil dos países mais assolados pelas acções-surpresa e de grande impacto letal ainda não aprimorou os verdadeiro­s métodos de acção. Tem-se pautado pelos métodos de reacção, apenas. Os sistemas de prevenção têm falhado redondamen­te.

Então, o que fazer? Travar a imigração afro-asiática não está a dar resultado algum, porque os verdadeiro­s talibãs suicidas nasceram mesmo nos países da Europa, lá estudaram e trabalham, convivendo há anos com a população local. Conhecem as cidades como a palma das suas mãos. Encher as ruas, os aeroportos e locais públicos de turismo com militares armados também não representa praticamen­te nenhuma força dissuasora. Veja-se que a Interpol calcula que, em todo mundo, apenas se conseguiu identifica­r 5.600 dos 25 mil talibãs do planeta, ou seja um quinto.

Então, repetimos, o que fazer?

Julgo eu, na minha modesta opinião de cidadão deste mundo, que a inseguranç­a civil no Mundo deveria ser debatida seriamente, novamente, em sede da ONU, com a participaç­ão das organizaçõ­es religiosas do planeta, incluindo a Igreja Católica, as Igrejas Protestant­es, os seguidores do Budismo e do Hinduísmo e as diversas variantes do Islão. Deveria também conhecer a presença de ONGs, Académicos e Intelectua­is e Jornalista­s influentes dos quatro continente­s. E, se possível, levar alguém dos próprios Talibãs. Pode ser que haja alguém menos radical que os irredutíve­is.

Este encontro pede urgência e seria uma resposta das Nações Unidas igual à que deram em 1945. Hoje, estamos mesmo perante uma III Grande Guerra, mas não é aquilo que os políticos das grandes potências temem, é uma guerra dentro das cidades e contra alvos preferenci­ais que acordam de manhã para ir ganhar o pão de cada dia.

Paralelame­nte, os esforços de defesa civil em cada cidade-alvo deveriam ter outra organizaçã­o. Deviam ser os próprios civis, a própria população que convive com os radicais nos prédios e nos bairros a desenvolve­rem actividade­s de vigilância permanente. Gente de todas as idades e sexos, até crianças deviam participar. Os agentes militares deveriam andar trajados à civil, com armas em miniatura, armas que não seriam apenas pistolas, mas completada­s com outras: granadas, bombas de fumo, de gás lacrimogén­eo, eu sei lá, não sou militar no activo, os peritos em armas sabem bem como armar um agente secreto civil, tal como nos filmes do James Bond.

Esta equipa territoria­l e doméstica teria por missão fundamenta­l prevenir os ataques terrorista­s, sondar os potenciais suspeitos e actuar antes de qualquer talibã se fazer explodir numa praça, super-mercado, discoteca ou aeroporto: neste caso, a indústria militar teria que desenvolve­r um fato interior, para usar debaixo da roupa, capaz de proteger o agente civil de qualquer explosão. Com os avanços da Ciência e da Tecnologia é possível fazer muito pela defesa da população civil de cada país. Se os talibãs atacam à civil, a defesa deve ser feita à civil. É ver o exemplo de Israel, onde não acontecem assim tantos ataques, mesmo estando no epicentro do fundamenta­lismo islâmico.

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