Emmanuel Macron pede votos aos apoiantes de Fillon e Hamon
Candidato liberal defende em discurso um país reconciliado e forte depois das eleições
O candidato liberal à Presidência da França, Emmanuel Macron, pediu na quinta-feira o voto dos eleitores que na primeira volta apoiaram o conservador François Fillon, o aspirante da extrema esquerda, Jean-Luc Mélenchon e o socialista Benoît Hamon.
“Sei que não votaram em mim na primeira volta. (...) Não considero o seu voto um cheque em branco. E pergunto aos eleitores de Fillon: Vocês se reconhecem nos valores defendidos por [Marine] Le Pen?”, questionou o candidato em entrevista à emissora de televisão TF1.
Emmanuel Macron, favorito para vencer a segunda volta de 7 de Maio frente à líder de extrema direita, segundo as sondagens, disse estar consciente que os eleitores de Benoît Hamon e Jean-Luc Mélenchon não compartilham o seu programa.
“Mas no meu projecto há respostas a problemáticas que são suas em termos de poder de aquisição ou ecologia. Preciso de ter a maior força possível para construir esse campo progressista que terá que enfrentar a Frente Nacional (FN), projecto contra projecto, valores contra valores”, disse Emmanuel Macron.
O ex-ministro da Economia do Presidente da República, François Hollande, entre 2014 e 2016, considerou seu dever “reconciliar uma França fracturada” por esse partido de extrema direita e pediu à população que “assuma as suas responsabilidades” na hora de derrotar a FN no próximo dia 7 de Maio.
Críticas de Le Pen
A candidata da extrema direita à Presidência da França, Marine Le Pen, não poupou críticas ao seu adversário na segunda volta do pleito, o político liberal Emmanuel Macron, 39 anos, que aparece em primeiro lugar em todas as pesquisas de opinião e a quem disse querer “desmascarar”.
Num comício de campanha realizado na quinta-feira em Nice, o primeiro entre as duas voltas das eleições, Marine Le Pen disse que Emmanuel Macron é um “piromaníaco que se faz passar por bombeiro” e que o seu projecto de Governo, o qual classificou como “ultra-europeísta e individualista”, é a antítese do seu. “A vitória final, a que conduzirá o povo ao Palácio do Eliseu (sede da Presidência), vamos construir mostrando o quão destrutivo é [o projecto de Emmanuel Macron], contrário aos valores do país”, declarou a candidata da Frente Nacional (FN), num discurso muito aplaudido pelos seus apoiantes.
Marine Le Pen disse ainda que estas eleições são “um referendo a favor ou contra a França”.
“Eu insisto que escolham a França”, realçou a candidata anti-imigração, que se afastou temporariamente da presidência da Frente Nacional para se focar na campanha da corrida ao Palácio do Eliseu.
A filha do ex-candidato à Presidência da República, Jean-Marie Le Pen, reiterou com ironia que o seu concorrente trabalhou no mercado financeiro “com todas as boas qualidades” para esse trabalho.
“Tem o carácter, a insensibilidade necessária, a capacidade de tomar decisões com o único objectivo de acumular dinheiro sem se preocupar com as consequências humanas”, afirmou. Já ela própria, conforme disse no discurso, fala “a todos os cidadãos franceses, sem excepções e sem olhar para a sua origem, religião ou cor da pele”, e pretende “dar oxigénio às famílias que sofreram tanto nestes últimos anos”.
Apelo de François Hollande
O Chefe de Estado francês, François Hollande, fez ontem um apelo contra o nacionalismo, numa altura em que o país está mobilizado em campanhas para a segunda volta das eleições presidenciais do dia 7 de Maio, em que se vão enfrentar a candidata de extrema direita Marine Le Pen e o liberal Emmanuel Macron, para quem pediu o voto. François Hollande, em visita a região de Belle-Ile, no noroeste do país, fez uma parábola para se referir à situação política, sem citar directamente os candidatos ao Palácio do Eliseu. “Deve-se expulsar os ventos maus. Deve-se ir mar adentro, sem nunca se perder”, disse.
O Presidente francês considerou que os ventos maus “são sempre os mesmos, os ventos do nacionalismo, os ventos da retirada em ordem de tropas, os ventos do medo”. “Para isso, deve-se aceitar abrir, ir mar adentro”, concluiu. O Chefe de Estado acrescentou que isso não significa aceitar tudo, mas, pelo contrário, significa poder “analisar a sorte do Mundo, o futuro da Europa, para decidir o futuro da França. Não é voltar a um passado que nunca existiu”.
Durante a campanha da primeira volta, o Presidente em fim de mandato percorreu várias cidades de França para alertar contra o avanço do extremismo, num ano em que o fenómeno ressurgiu com força na Europa e depois das eleições presidenciais de Novembro nos Estados Unidos da América.