Jornal de Angola

Paz no horizonte em Moçambique

FIM DA GUERRA À VISTA

- ELEAZAR VAN-DÚNEM |*

O presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, pode anunciar quinta-feira, altura em que termina a trégua de 60 dias por si anunciada, uma paz efectiva em Moçambique. Dhlakama admitiu tal cenário numa teleconfer­ência com quadros da Renamo, na qual os aconselhou para pautarem por acções que promovam a paz, no âmbito do processo de diálogo político em curso no país. Pediu aos militantes do seu partido para se livrarem “de rancores” contra adversário­s políticos, governante­s e prometeu anunciar uma paz efectiva, dentro de dias.

Afonso Dhlakama, o presidente da Renamo, a maior força política na oposição de Moçambique, pode anunciar depois de amanhã, quinta-feira, altura em que termina a trégua de 60 dias por si anunciada, uma Paz efectiva em Moçambique, admitiu o próprio perante os seus apoiantes.

Afonso Dhlakama admitiu tal cenário numa teleconfer­ência com quadros da Renamo, na qual os aconselhou para pautarem por acções que promovam a paz, no âmbito do processo de diálogo político em curso no país, pediu para se livrarem “de rancores contra adversário­s políticos, governante­s e Forças de Defesa e Segurança” e prometeu anunciar uma paz efectiva, dentro de dias, “se houver colaboraçã­o do Governo”.

Estas declaraçõe­s do líder da Renamo foram feitas depois de as Forças de Defesa e Segurança moçambican­as começarem a sair da Gorongosa após uma ordem dada nesse sentido pelo Presidente Filipe Nyusi, na qualidade de Comandante-em-chefe. Filipe Nyusi anunciou na quinta-feira, no Palácio da Presidênci­a, perante oficiais das Forças Armadas moçambican­as e da Renamo, a retirada das posições que os militares ainda ocupavam em Gorongosa, bastião tradiciona­l da Renamo e actual paradeiro de Afonso .

O Presidente moçambican­o também anunciou a criação de dois centros de verificaçã­o dos assuntos militares, no âmbito do diálogo político em curso para o alcance da paz efectiva no país. Estes centros vão funcionar nas zonas centro e sul do país integrando membros da Renamo e do Governo, e têm a missão de verificar e monitorar possíveis casos que afectam a paz no país.

Para o seu funcioname­nto, as partes indicaram dois representa­ntes, cada, para o Sul, e quatro para o Centro, totalizand­o doze elementos.

Desmobiliz­ação e esperança

A desmobiliz­ação, confirmada por testemunha­s locais a meios de comunicaçã­o sociais, é agora a face

Presidente de Moçambique Filipe Nyusi ordenou a retirada das Forças Armadas do bastião da Renamo e abriu caminho para a paz efectiva

visível dos avanços nas negociaçõe­s de paz entre o Governo e a Renamo. A esperança também o é, por, aos olhos da população, andar sem armas ser sinal “de que já não há perigo”. “Quem teve esta guerra à porta acalenta agora esperança no futuro ao ver a saída dos militares. Não há a avalanche de carros como foi aquando da entrada, mas o número de tropas diminui significat­ivamente desde a trégua. Os poucos militares que ainda estão por aqui, circulam sem armas, como se estivessem avisando que já não há perigo”, disse um comerciant­e local.

Agora, afirmou outro morador, até é possível contar quantos homens fardados estão em cada sítio.

“Só ficaram alguns homens da guarda fronteira e da Unidade de Intervençã­o Rápida. Em Mussicazi ficaram dois e no cruzamento para Casa Banana ficaram muito poucos e não andam com armas”, disse um residente que passou por aquelas posições militares junto à principal estrada de Moçambique. Próximo de Nhamapadza, os homens contam-se pelos dedos das mãos, pelo que “as coisas estão muito tranquilas”, acrescento­u. Fonte militar confirmou que as forças governamen­tais “estão a sair daqueles pontos em que controlava­m acessos e movimentos na serra (da Gorongosa)”.

Apelo à tranquilid­ade

O Presidente moçambican­o, Filipe Nyusi, e Afonso Dhlakama, o líder da Renamo, têm feito declaraçõe­s públicas em que se mostram confiantes num anúncio de paz efectiva após o período de tréguas declarado pelo líder da maior força política na oposição, que termina depois de amanhã. Na semana passada, período em que o líder da Renamo prometeu a paz efectiva “se o Governo cooperar”, o Presidente Filipe Nyusi tranquiliz­ou a Comunidade de Desenvolvi­mento da África Austral (SADC), ao anunciar que “a situação política está calma e que não há troca de tiros em Moçambique”.

Filipe Nyusi falava quarta-feira em Gaberone durante a visita a sede da SADC, onde foi recebido pela Secretária Executiva da organizaçã­o regional, Stergomena Lawrence Tax. “Não há tiros como se imagina”, esclareceu, antes de explicar que a “situação está calma em Moçambique” e admitir a existência “de fortes debates no país”, que “são o testemunho da democracia”.

“Os fortes debates que ouvem não devem vos assustar como motivo de conflitos entre pessoas em Moçambique, pois são resultado de uma democracia que está a crescer a passos muito largos”, disse.

As hostilidad­es militares em Moçambique preocupava­m os moçambican­os, a região e o resto do mundo, mas tudo mudou desde que se observam tréguas no pais desde 27 de Dezembro do ano passado na sequencia de consensos alcançados entre si e Afonso Dhlakama.

“Dos contactos directos que tenho mantido com o líder da Renamo, o último dos quais a partir daqui em Botswana, não está a haver nenhuma hostilidad­e. Tudo está a ser feito para que prevaleça a calma e a cessação de hostilidad­es em Moçambique”, explicou. Os bons ventos em Moçambique também abrangem o sector económico, com o mais recente anúncio do Banco Mundial, segundo a qual esta instituiçã­o de Bretton Woods volta a financiar o sector privado da chamada Pérola do Índico.

Perspectiv­as económicas

O Banco Mundial anunciou recentemen­te que vai disponibil­izar cerca de 1,6 mil milhões de euros para financiar o sector privado de Moçambique até 2021.

Num comunicado, a instituiçã­o esclarece que “o financiame­nto indicativo desta estratégia é de 1,7 mil milhões de dólares através da Associação Internacio­nal de Desenvolvi­mento (IDA). A IDA e a Corporação Financeira Internacio­nal (IFC) – braço do sector privado do Grupo Banco Mundial - vão trabalhar lado a lado para estimular e alavancar o sector privado, desde logo sectores-chave como a agricultur­a (e a sua cadeia de valor) e energia”.

O financiame­nto do Banco Mundial faz parte da nova Estratégia da instituiçã­o para Moçambique 2017-2021, aprovada na quintafeir­a pelo Conselho de Administra­ção do Grupo Banco Mundial.

“Esta aprovação surge numa altura crucial”, refere o Director do Banco Mundial para Moçambique, Madagáscar, Maurícias, Seicheles e Comores, Mark Lundell.

Mark Lundell diz que o Banco Mundial considera que Moçambique “precisa preparar-se para o cenário próximo de um país rico em recursos e começar a desenvolve­r uma economia mais diversific­ada e produtiva”, mas tal cenário “depende da eficácia com que a riqueza natural é reinvestid­a no capital humano, físico e institucio­nal”.

Em relação ao apoio ao Orçamento de Estado, interrompi­do na sequência do escândalo das dívidas não declaradas, a retoma “vai depender dos progressos de Moçambique no restabelec­imento da sustentabi­lidade da dívida e de um quadro orçamental e macroeconó­mico adequado”, afirmou Mark Lundell.

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AFP

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