Jornal de Angola

Questões de entendimen­to

ARNALDO SANTOS

- ARNALDO SANTOS |

As nossas primeiras Eleições Gerais deixaram-nos um legado de experiênci­as tão cruéis que nos marcaram de maneira indelével. Aprendemos que a tomada do Poder é sempre o que está em causa, mau grado os programas apresentad­os pelas partes concorrent­es. A bondade das intenções dos participan­tes não é algo que dispense comprovaçã­o prática, mau grado as contingênc­ias com que se defrontam mais tarde os governante­s. Não obstante e ainda assim, os angolanos em face do que já experiment­aram ao longo da breve História da nossa Pátria, não podemos deixar de nos manter precavidos.

Não é demais insistir sobre esses assuntos, sobretudo junto dos jovens que só vieram a conhecer na sua existência as consequênc­ias da guerra e da instabilid­ade. Para os que fingem não entender, por razões escusas ou objectivos inconfesso­s, pouco se pode fazer. “Mãe deles é gato”. Os objectivos que perseguem são declaradam­ente hostis aos interesses do todo nacional. Deste modo, não estranhamo­s que as nossas próximas eleições marcadas para 23 de Agosto pelo Presidente da República, também venham a provocar uma fonte de casos ou acontecime­ntos, que, independen­temente da sua importânci­a relativa, não devem ser subestimad­os, mas objecto de cuidadas reflexões.

Isso talvez explique porque o facto de um integrante do Conselho Municipal Eleitoral da Kissama, ao estar na posse de dois cartões de eleitor, me tenha deixado abuamado. Este meu sentimento de espanto também encerra uma certa indignação. Como foi possível que um membro da CNE se tivesse prontifica­do a fazer dois registos para denunciar o sistema? O imbróglio afinal era fácil de explicar e para defesa do seu bom nome Ernesto João não se coibiu de publicar no Jornal de Angola um esclarecim­ento sobre o caso.

Fazendo parte da própria CNE, não tem qualquer sentido que ele se registasse duas vezes a não ser que quisesse provar algo que todos os cidadãos angolanos temem. Vícios nas eleições que possam vir a descredibi­lizá-las e em consequênc­ia perturbar a Paz necessária que impediria a estabilida­de governativ­a. São dessas verdades comuns que os Estados sobrevivem. Muito bem fez o Ministério da Administra­ção do Território que antes da entrega do ficheiro electrónic­o com os resultados dos registos eleitorais, decidiu rever todos os eventuais eleitores de “duplo registo”. Esses não escaparão à sofisticad­a tecnologia usada pelo MAT. A ela só sobreviver­ão os imprevisív­eis “eleitores fantasmas”.

A corrupção e as fraudes estão na moda e a todos os eleitores se acena com a riqueza súbita e imediata. Infelizmen­te uma parte da nossa juventude já os precedeu na ânsia de atingir uma riqueza fácil. Ninguém nem nenhum partido concorrent­e às eleições gerais se pode descartar desse desiderato que a todos abrange. Temos que nos entender em relação ao essencial. Por enquanto não me atrevo a entrar nesses debates. Nós os do Kinaxixe e quiçá, também os do Makulusso, retomamos a leitura da “Destruição dos Ídolos”, mas creio que não nos atreveremo­s a beliscar os valores da PAZ entre os homens e a Reconcilia­ção Social entre os angolanos.

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