Jornal de Angola

Sanções da África Ocidental assustam políticos guineenses

Ultimato do bloco regional da África Ocidental pode causar afastament­o do primeiro-ministro

- ELEAZAR VAN-DÚNEM |

O ultimato dado pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) aos dirigentes políticos guineenses, segundo o qual têm até 25 de Maio para aplicar o Acordo de Conacri, sob pena de serem sancionado­s, pode levar o Presidente José Mário Vaz a demitir o quinto primeiro-ministro em pouco mais de dois anos na Guiné-Bissau antes desta data.

O Acordo de Conacri, assinado em Outubro do ano passado pelo Chefe de Estado, por todas as forças políticas com assento parlamenta­r, pelo líder do Parlamento daquele país, por representa­ntes da sociedade civil e pelos deputados dissidente­s do PAIGC, partido com maioria parlamenta­r mas impedido de governar, prevê a nomeação de um primeiro-ministro de consenso e a constituiç­ão de um Governo de Unidade Nacional na Guiné-Bissau.

Entretanto, quatro dos cinco partidos com assento parlamenta­r que contestam a nomeação, pelo Presidente José Mário Vaz, de Umaro Embaló para o cargo de primeiromi­nistro, recusam fazer parte do actual Executivo, que está longe de ser “de consenso e de unidade nacional”, e exigem a demissão de Embaló por considerar­em que viola o Acordo de Conacri.

O primeiro-ministro contestado já garantiu que não se demite e o Chefe de Estado, José Mário Vaz, também já afirmou publicamen­te que não o demite. O mais novo posicionam­ento da CEDEAO, entretanto, pode alterar este cenário. Numcomunic­adodivulga­do em 25 deAbril, a CEDEAO recomendou aos Chefes de Estado e de Governo que a organizaçã­o sub-regional aplique “sanções adequadas” a todos os políticos guineenses que colocarem entraves “à implementa­ção harmoniosa do Acordo de Conacri”.

A missão avaliou a aplicação do Acordo de Conacri, instrument­o patrocinad­o pela CEDEAO e assinado em Outubro do ano passado por diferentes políticos guineenses para acabar com a crise no país. E após consultas com líderes políticos, sociedade civil e confissões religiosas guineenses, concluiu que “o Acordo de Conacri não foi cumprido na sua totalidade”.

O comunicado final da missão recomenda “a aplicação de sanções adequadas a todos os que colocarem entraves à implementa­ção harmoniosa do referido acordo” e dava 30 dias, iniciados no dia 25 de Abril, para aplicarem as directrize­s do Acordo de Conacri, que no essencial prevê a formação de um Governo consensual integrado por todos os partidos representa­dos no Parlamento.

A ameaça da CEDEAO parece ter produzido efeitos, como demonstra o facto de o Presidente da Guiné-Bissau iniciar um périplo a vários países do bloco regional da África Ocidental, destinado a abordar a situação política guineense.

Mário Vaz saiu de Bissau para a República do Congo, onde se encontrou com o homólogo Denis Sassou Nguesso. De seguida, viajou até à Libéria onde foi recebido pela homóloga Ellen Johnson Sirleaf. Da Libéria, seguiu para Abidjan, na Costa do Marfim, para um encontro com o Presidente costamarfi­nense, Alassane Ouattara, antes de terminar o périplo em Conacri, após ser recebido pelo Presidente Alpha Condé. Não foi divulgado o teor das conversas do Presidente guineense, cujo périplo ocorreu dias depois de a CEDEAO ter dado um ultimato aos políticos da Guiné-Bissau para cumprirem um acordo internacio­nal para acabar com a crise política que já dura há cerca de dois anos. PAIGC, PCD, PND e UM, os quatro partidos que rejeitam o actual Governo, enviaram após o ultimato da CEDEAO uma carta ao Chefe de Estado na qual instam José Mário Vaz “a adoptar de imediato disposiçõe­s indispensá­veis à urgente implementa­ção do Acordo de Conacri, respeitand­o a letra e o espírito do mesmo” e que “proceda à nomeação do Dr. Augusto Olivais, nome de consenso obtido em Conacri, no sentido de dar início à plena implementa­ção do Acordo de Conacri e assim garantir o normal funcioname­nto das instituiçõ­es da República”.

No mesmo documento reiteram “toda a disponibil­idade em contribuir na busca de uma solução definitiva para a crise que assola o país”. Por sua vez, o PRS, até então aliado incondicio­nal do actual primeiro-ministro guineense, agora diz que apoia “qualquer solução benéfica para a saída da crise”. O líder da segunda força política da Guiné-Bissau, Alberto Nambeia, manifestou apoio a “qualquer solução benéfica para o fim da crise política no país” num encontro com a população de Mansoa, na quartafeir­a, no qual falou sobre os últimos desenvolvi­mentos políticos à luz do ultimato que a CEDEAO deu aos políticos guineenses para respeitare­m o Acordo de Conacri.

Alberto Nambeia salientou que os mediadores da CEDEAO também têm desentendi­mentos políticos nos seus países, mas “sentamse na mesma mesa e resolvem os seus problemas internamen­te”. “Porque é que nós não fazemos a mesma coisa?”, questionou.

Diante da cada vez mais acentuada perda de apoios, o primeiromi­nistro guineense parece ter-se antecipado e partido para o ataque. Umaro Embaló tem-se insurgido contra o mediador eleito pela CEDEAO e afirmou numa entrevista a uma rádio internacio­nal que não quer o Presidente da Guiné-Conacri a mediar a crise política na Guiné-Bissau porque Alpha Condé, da etnia mandinga, “não gosta de mim por ser da etnia fula”.

O Presidente da Guiné-Conacri, Alpha Condé, é o mediador da crise institucio­nal guineense proposto pela CEDEAO, que tem tentado, há cerca de dois anos, ajudar os políticos guineenses a entenderem-se. Os próximos vinte dias, por conseguint­e, parecem ser cruciais para o futuro imediato da Guiné-Bissau.

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A ISSOUF SANOGO| AFP Presidente José Mário Vaz sofre pressão para demitir o Governo de Umaro Sissoco Embaló

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