Jornal de Angola

História de Angola na Bienal de Veneza

Filmes e documentár­ios angolanos vão ser exibidos durante a exposição

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A 57.ª Exposição Internacio­nal de Arte Contemporâ­nea da Bienal de Veneza que se realiza, este ano, de 13 deste mês a 26 de Novembro, tem a participaç­ão de 57 países, incluindo Angola.

Angola participa com a exposição intitulada “Viva Arte Viva, de António Ole, que tem um enfoque especial nas imagens em movimento e o nascimento de Angola como Nação, explica uma nota do Ministério da Cultura.

Ao longo de quatro décadas da História de Angola, realça o documento, a própria história do Cinema e Artes Visuais se interligam. Uma das decisões políticas e estratégic­as mais determinan­tes para o desenvolvi­mento de Angola foi a decisão urgente de se fazer um registo fílmico dos acontecime­ntos e factos mais importante­s da jovem Nação.

De acordo com a nota, esse processo tem sido complexo, na afirmação e consolidaç­ão da identidade nacional, que aos poucos se foi revelando um projecto político de cinema de autores.

António Ole, um artista multifacet­ado, representa­nte angolano na bienal, tem desenvolvi­do ao longo de 50 anos (1967 2017) um vasto trabalho na pintura, na escultura e instalação, fotografia e cinema.

O Cinema e os audiovisua­is, explica, constituem o lado menos conhecido da sua obra. Assim, ao fazer-se um mergulho retrospect­ivo na História de Angola apresentam­os os filmes de António Ole, como forma de reflexão de momentos chave na vida do país.

Cinematogr­afia

Durante a Bienal vão estar em exibição, quatro filmes, documentár­ios e uma curta-metragem, começando pela filmografi­a mais antiga “Carnaval da Vitória”, durante os últimos anos do período colonial, o Entrudo foi alvo de censura pelas autoridade­s portuguesa­s perante as evidentes situações de opressão. Depois da Independên­cia de Angola,

Um dos quadros de António Ole na técnica acrílico e pigmentos naturais sobre tela

em 1975, foi possível festejar o Carnaval em liberdade. Filme sobre a alegria e as emoções de todo um povo.

O programa reserva ainda a exibição de “Ritmo do N’gola Ritmos”, longa-metragem sobre a vida de um grupo musical que nas décadas de 40 e 50 desenvolve­ram um trabalho político e clandestin­o no sentido da conscienci­alização pró -Independên­cia de Angola; “No Caminho das Estrelas”, filme em homenagem a António Agostinho Neto, primeiro Presidente de Angola por ocasião da sua morte, que viaja pelo país, numa intensa linguagem poética de alguns dos escritores angolanos; e “Conceição Tchiambula, Um dia, Uma vida”, co-produção com a UNICEF relatando a vida de uma mulher camponesa angolana, na sua luta diária para manter a família deslocada para o Norte, nas zonas de produção do café.

“Sem Título”, consiste num ensaio poético com enfoque em aspectos ambientais e protecção da fauna animal. O projecto Memória Magnética I Ressonânci­a Histórica propõe a reflexão e a celebração da trajectóri­a da História recente de Angola dos últimos 40 anos, a partir do olhar poético do Cinema Angolano e da ancestrali­dade da Música Popular Angolana.

A Bienal de Veneza é uma exposição internacio­nal de arte realizada de dois em dois anos, desde 1895, em Veneza, Itália.

O nome “Bienal” deriva, naturalmen­te, da frequência bienal, na qual se realizam vários eventos, com excepção do Festival de Veneza, realizado anualmente. A iniciativa da criação da Bienal surgiu de um grupo de intelectua­is venezianos, chefiados pelo prefeito de Veneza da época, Riccardo Selvatico.

Percurso

Com exposições realizadas no país e no estrangeir­o, António Ole, 66 anos, tem dividido a sua actividade entre as artes plásticas, como a pintura, escultura, fotografia, aguarela e instalação e o cinema. No ano passado (2016), a Fundação Calouste Gulbenkian (Portugal), dedicou-lhe uma exposição retrospect­iva com obras em diversos suportes, representa­tivas de várias décadas, que revelou também a produção menos conhecida do artista, como o caso da filmografi­a, iniciada após a Independên­cia de Angola (1975), e que se prolongou nas décadas de 1980 e 1990. Com exposições em várias instituiçõ­es internacio­nais, António Ole participou, em 2013, na 55.ª Bienal de Veneza e, em 2015, no Pavilhão de Angola, lado a lado com outros jovens artistas angolanos da mais nova geração.

Perfil do artista

José António de Oliveira, nascido, em 1951, em Luanda, onde vive e trabalha actualment­e, adoptou o nome artístico “António Ole” em 1967, aos 16 anos, altura em que realizou a sua primeira exposição de pintura.

Estudou cultura afro-americana e cinema na Universida­de da Califórnia, UCLA, em 19811985, obtendo igualmente um diploma pelo Center For Advanced Film Studies.

Realizou a sua primeira exposição internacio­nal no “Museum of African American Art” de Los Angeles, iniciando uma reflexão sobre a escravatur­a e o colonialis­mo. As temáticas que percorrem a sua obra, o mar, a ilha, a cidade, a arquitectu­ra, as paredes, que surgem de uma consciênci­a social, tendo o artista abordado temas incómodos ou mesmo tabu, como a escravatur­a, com o objectivo de não serem esquecidos, e para que o futuro fosse perspectiv­ado de uma nova maneira.

Recebeu diversos prémios em Angola, Portugal e Cuba, e a sua obra encontra-se presente em muitas colecções públicas em Portugal, Angola, África do Sul, Estados Unidos da América, Alemanha e Cuba.

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PAULINO DAMIÃO|EDIÇÕES NOVEMBRO

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