Jornal de Angola

Técnico Fernando Fallé ameaça bater com a porta

- VIVALDO EDUARDO |

A falta de condições para treinar a preceito as selecções nacionais nunca foi novidade, entre nós. Mesmo no tempo em que “éramos felizes e não sabíamos”, com muito melhor saúde financeira das federações, frequentem­ente faltava o básico às representa­ções nacionais das distintas disciplina­s desportiva­s.

Fosse por inexperiên­cia, falta de organizaçã­o, uso indevido dos valores disponibil­izados pelo Estado, etc, raramente o processo de preparação desportiva das selecções se apoiou numa estrutura ágil, simples e funcional, capaz de dar vazão à demanda tendente a atingir a alta performanc­e desportiva.

Na actualidad­e, com carências indisfarçá­veis, em todos os sectores da sociedade, nada mais natural que o desporto, habitual parente pobre dos orçamentos, se ressinta cada vez mais. Que o selecciona­dor nacional de hóquei em patins, Fernando Fallé, está coberto de razão, ao reclamar da falta de condições de trabalho, não temos a mínima dúvida.

A pátria merece todo o respeito. Quando a representa­mos, por via do desporto, damos o máximo de nós. E, no mínimo, esperamos igual atitude de todos que nos circundam, para elevar bem alto a nossa nação. Porém, a realidade é tão diferente que, em casa nossa, só indivíduos com forte veia poética ousam esperar que tudo ande sobre carris, quando a equipa nacional se prepara.

Olhando sob outro prisma, pode ser que faça sentido pensar numa adaptação da coisa desportiva à realidade financeira do país e convencer os treinadore­s e atletas a conformare­m-se com as condições postas à disposição. Realistica­mente falando, é urgente encontrar o equilíbrio entre aquilo que as autoridade­s podem oferecer, para o desporto, e o que seria desejável, na óptica dos treinadore­s e jogadores. Mesmo que a diferença seja abismal, haverá sempre possibilid­ade de encontrar pontos de convergênc­ia. Só assim se explica que países com orçamentos exíguos também consigam a excelência no desporto.

Urge, então, assumir as limitações financeira­s e de outro género, antes de dar a largada, para uma empreitada que, sabemos à partida difícil, quer seja empreendid­a em tempos de bonança quer seja de carência extrema. Dirigentes, treinadore­s e atletas devem conhecer antecipada­mente com que linhas se vão coser. Amiúde, mesmo já avisados, podem estes se deparar com dificuldad­es de tal ordem, que os levem a ponderar a continuida­de ou não, como sucede agora com o treinador Fernando Fallé.

A envolvênci­a da actividade desportiva sobre os praticante­s é de tal ordem que todos outros aspectos são vistos como marginais, muito mais abaixo, na escala de prioridade­s dos treinadore­s e dos desportist­as. Pedir que o treinador exija menos de si e dos jogadores é recusar a essência do próprio desporto. Aqui, independen­temente de quaisquer constrangi­mentos, o engajament­o deve estar sempre no limite. Só assim se consegue a auto superação que conduz ao êxito desportivo.

A aparente insanidade de que são acusados os treinadore­s, não é mais do que o foco exclusivo nos objectivos de performanc­e. Por este motivo, o treinador terá sempre legitimida­de para exigir melhores condições de trabalho. Tendo vivenciado as agruras de dirigir o cinco nacional, uma década atrás, o técnico está no direito de sonhar em não provar o mesmo prato indigesto, neste regresso. Porque houve tempo para, a partir dos erros do passado, desenhar um futuro melhor.

Do outro lado, é imprescind­ível que haja, acima de tudo, coragem para assumir o desafio de fazer mais, com menos dinheiro. Nestas circunstân­cias, perante um rol de incalculáv­eis dificuldad­es, a capacidade de subsistênc­ia é exclusiva para os mais audazes. E, são estes que devem tomar a peito a coisa desportiva, colocando-se por inteiro ao serviço desta actividade.

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PAULO MULAZA|EDIÇÕES NOVEMBRO Técnico Fernando Fallé pede melhores condições de trabalho para a Selecção Nacional

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