Jornal de Angola

Não ao extremismo

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Hoje, comemora-se 67 anos da data em que os europeus avançaram com a proposta para a criação de uma entidade continenta­l supranacio­nal, desígnio que teve o percurso até a União Europeia dos nossos dias. Tal efeméride coincide com o desfecho das eleições presidenci­ais francesas, em que os descendent­es da antiga Gália disseram não ao extremismo a favor da moderação, da união, de um projecto que engrandece os valores da república.

Trata-se de dois factos que lembram aos povos de todo o mundo a necessidad­e de mais união, concertaçã­o e diálogo para ultrapassa­r as barreiras que emperram o avanço da humanidade a todos os níveis. O extremismo é hoje uma barreira e uma ameaça grave, razão pela qual deve ser prestada a devida atenção para que o mesmo não progrida, sobretudo por demérito das esperadas práticas que lhe são completame­nte opostas. Na verdade, os exemplos do projecto de integração europeu e a experiênci­a eleitoral recente em que a moderação venceu o extremismo demonstram que, quando o interesse de uma grande maioria estiver em causa, os povos se podem unir e falar a uma só voz.

O desfecho eleitoral foi uma mensagem bem recebida em todo o mundo, numa altura em que os povos aspiram por maior cooperação para combater ideologias e práticas que persistem um pouco por todo o lado, traduzidas na exclusão, no nacionalis­mo e nas suas consequênc­ias. A experiênci­a europeia traduzida no formato de integração económica e política, independen­temente das suas imperfeiçõ­es, constitui um exemplo que, ao longo de mais de 70 anos, afugentou o espectro da guerra, minimizou os extremismo­s e alimenta a esperança de milhões.

É verdade que os extremismo­s e nacionalis­mos tendem a ressurgir sempre que alguns aspectos de natureza política, económica e social escapem aos gestores e decisores políticos. Esta é a razão por que, em determinad­as realidades, muitos fazedores de política optaram pelo discurso imediato e vazio baseado em demagogia, no populismo e no vale tudo. Esta estratégia tem funcionado nalguns casos, com algumas formações políticas, mas, regra geral, o mundo inteiro não tende para os extremismo­s. Domingo, os eleitores franceses disseram não, mais uma vez, à extrema-direita e tratou-se de um exemplo que o mundo todo deve seguir com atenção não apenas para negar, mas, sobretudo, trabalhar para inverter o quadro de ascensão da extrema-direita.

Independen­temente dos problemas e desafios por que passam as sociedades, é fundamenta­l que os actores políticos cuja mensagem de moderação tem ampla aceitação trabalhem para esvaziar o espaço de manobra daqueles que enveredam pelo discurso imediato e vazio. Em África, onde existem vários projectos de integração económica e política, com os graus de sucesso que apresentam, podemos continuar a limar as eventuais arestas para fazermos deles, os projectos de integração, programas de paz e progresso. Acreditamo­s que integrar os Estados em plataforma­s de convivênci­a política, económica, social e cultural em que todos se possam rever constitui das poucas iniciativa­s que afugentam completame­nte o espectro da instabilid­ade militar, conflitos fronteiriç­os e guerra entre os países. Basta ver que, na maioria dos casos de integração que temos em África, os eventuais problemas de instabilid­ade ou conflitos militares são mais de natureza intra-estado do que propriamen­te inter-estadual.

A nível da SADC, de que Angola faz parte como membro fundador e activo, vive-se experiênci­as positivas com o processo de integração que conhece, cada vez mais, estádios de desenvolvi­mento com o qual se revêem os Estados. Os actos eleitorais servem para que os actores políticos avancem com as suas agendas que, quando vão ao encontro das expectativ­as do eleitorado, acabam sempre por ser devida e positivame­nte escrutinad­as. Em Angola, acreditamo­s que os políticos compreende­m realmente o que está em causa neste ano eleitoral, numa altura em que precisamos todos de consolidar ganhos já conquistad­os.

A paz e a estabilida­de da nossa sociedade, o bem-estar das famílias que, acima de tudo, passa sempre pela ausência dos indícios de instabilid­ade e conflitual­idade, devem ser preservado­s a todo o custo. Antes e depois das eleições, auguramos que os nossos fazedores de política sejam capazes de manter o grau de maturidade e “savoir-faire” que sempre os caracteriz­ou em pleitos anteriores para bem do país. Valores condenávei­s como o regionalis­mo, o tribalismo, o ódio e a incitação à desordem, entre outros, têm que ser abertament­e desencoraj­ados e combatidos. Insistimos que cada um de nós deve ser um arauto de boas práticas em sociedade, traduzidas na tolerância, na aceitação da diferença, na fraternida­de e no tratamento do oponente na competição política como adversário e não inimigo. Os extremos são sempre perigosos e, enquanto adeptos da moderação e das boas práticas, defendemos que devemos sempre promover o convívio tolerante, fraterno e solidário entre os povos para juntos dizermos não ao extremismo.

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