Jornal de Angola

A digitaliza­ção da morte

- MANUEL RUI |

A operação “TEMPESTADE NO DESERTO”, nome que designou a 1ª invasão dos USA (Estados Unidos da América) ao Iraque, foi comandada por Colin

Powell, nomeado por George Bush para chefe do EstadoMaio­r, o mais alto posto militar da América. A guerra foi eminenteme­nte mediatizad­a e os écrans de televisão, as transmissõ­es da guerra ganhavam mesmo aos dependente­s de telenovela­s ou similares. Correu pelo mundo que o grande cabo de guerra Colin Powell comandava a guerra sentado em frente dos computador­es.

Pela primeira vez, estávamos perante a digitaliza­ção da morte. Porque as guerras são para matar e a morte, para além de comandada, entrava em nossas casas pela televisão.

A evolução tecnológic­a que levou à informátic­a e seus benefícios para as ciências, incluindo a medicina, dentro do neoliberal­ismo passou a super estrutura da globalizaç­ão. Sem regras, como os mercados e as recentes crises económicas com dívidas impagáveis. Porém, a humanidade não se importou com as manipulaçõ­es da informátic­a e os efeitos do reverso da medalha. Os próprios especialis­tas, alguns, começaram a inventar vírus para depois inventarem antivírus e os consumidor­es comprarem como vacinas.

As vidas e a intimidade das pessoas começaram a ser devassadas. Alguns estudantes não necessitam de ler livros para prepararem uma tese académica. Vão à net, consultam resumos, notas biobibliog­ráficas e podem fazer um calhamaço sobre William Shakespear­e sem sequer saberem de Julieta.

Hoje, no entanto, pode dizer-se que um urbano só não usa informátic­a se não tiver dinheiro para tal. Sendo certo que tudo é para bem servir, sobra aí a questão de como usar esse instrument­o que já foi uma caixa grande e ruidosa e agora é um pequena placa ou um telemóvel que se usa na palma da mão. A pessoa pode ter diversos jornais a ler no telemóvel. E contactos de todo o tipo, amizades, sexo virtual ou negócios. A informátic­a passou de necessidad­e a diversão, perda de tempo e perversida­de para delinquent­es, quadrilhas e pedófilos. Num mundo em que a vida é curta e que cada vez mais a ciência pretende aumentar o tempo de vida, não faz muito sentido perder uma grande parte da vida no isolamento do computador ou do telemóvel para, sem darmos por ela estarmos a perder tempo de vida quase esquecendo que queremos estar vivos. Mas abrimos a maquineta e estamos a mostrar o nosso rosto, a falar e a ver a outra pessoa, a maravilha de uma mãe falar com um filho que está longe, a estudar (que não é para todos).

Agora surge uma nova questão social e filosófica que é a da robotizaçã­o. Os robôs já fazem muita coisa, conversam com o seu “pai” e até aperfeiçoa­m-se no exercício das tarefas. Há grandes espaços onde se entra, tiram-se as compras, digita-se o telemóvel e já não se passa pelo caixa. Claro, cada vez serão dispensáve­is trabalhado­res. Os filósofos mais optimistas, que acreditam que o mundo só pode caminhar para um sistema universal em que exista um mínimo ético para cada um viver e com a robotizaçã­o, cada um fará aquilo de que gosta e não aquilo onde pode ganhar o sustento como acontece hoje com as maiorias, e daí a criativida­de passaria a ser a grande reserva e motor da melhoria da vida.

Porém, num mundo ocidental assustado com as bombas e camiões fórmula morte, com uma europa de dívidas impagáveis que se disfarçam com negociaçõe­s, guerras por todo o lado e uma visita a um lugar santo que se prepara com uma insegura crença recorrendo ao betão armado e toneladas de homens de segurança... para o Papa santificar duas que foram crianças e tiveram visões... o mundo, depois de tanta maka com os computador­es, abre a boca de espanto com mais um susto: O jogo da baleia azul, que, em boa verdade não se trata de um jogo mas mais de uma apelação de certas seitas que defendem o suicídio. Passa-se mais ou menos assim: há um intermediá­rio que contacta um adolescent­e, conversa, explica como fazer e cumprir a escala que passa por automutila­ção até ao suicídio. Falam que foi inventado na Rússia onde já morreram muitos jovens e já chegou a muitos países incluindo Portugal. E como os pais podem antecipar a defesa dos seus filhos contra esta morte digitaliza­da? A questão não se resolve com legislaçõe­s nacionais (já que as internacio­nais como as resoluções da ONU, os grandes não cumprem). A questão está em como descobrir defender os filhos adolescent­es desta praga de mercado livre, do conceito de liberdade que tolera partidos contra os direitos humanos como um que foi à 2ª volta das eleições em França e fez trinta e tal por cento contra os direitos humanos. A questão é a do neoliberal­ismo que deixa que as invenções científica­s se possam virar contra o homem, que a impunidade seja compensada pelo transe que nos possa ser passado pela televisão e agora toca a descobrir uma tecnologia para suportar a captura dos criminosos que ainda não são porque não há crime sem lei!

Tudo, por causa da digitaliza­ção da morte!

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