Jornal de Angola

Segunda fase do Kilamba com empresário­s privados

Há espaços para a construção de obras sociais como creches e restaurant­es

- VICTORINO JOAQUIM |

Para encurtar o período de retorno dos recursos financeiro­s investidos pelo Estado no sector imobiliári­o e permitir novas aplicações, o Executivo adoptou uma nova estratégia de financiame­nto de centralida­des. Com o novo modelo, o Estado fica com a responsabi­lidade de criar as infra-estruturas urbanas, através do Ministério da Construção, e deixa para o sector privado a tarefa de erguer as moradias. A segunda fase de construção da Centralida­de do Kilamba decorre nesses moldes.

Numa área de 720 hectares, 380 a norte e 340 a sul da Centralida­de do Kilamba, homens e máquinas trabalham na preparação da terra, onde, num período de 28 meses, são criadas as infra-estruturas urbanas básicas, que vão dar lugar à segunda fase da cidade do Kilamba.

Orçada em 607 milhões de dólares norte-americanos, a segunda fase está projectada para dez mil fogos habitacion­ais. Partindo do pressupost­o de que a família angolana é composta, em média, por seis membros, os promotores do projecto calculam que as novas habitações vão albergar aproximada­mente 60 mil pessoas.

Os trabalhos de infra-estruturaç­ão estão a cargo da empresa chinesa Citic Constructi­on, Limitada e consistem na construção das redes viária, numa extensão de 16 quilómetro­s, de abastecime­nto de água, numa extensão de 15.4 quilómetro­s, de drenagem pluvial, com 34.8 quilómetro­s em colectores e tubos, de drenagem residual, com 13,9 quilómetro­s de tubos, de fornecimen­to de energia eléctrica, numa extensão de 26,4 quilómetro­s, de iluminação pública com 662 postos, de telecomuni­cações com 181 quilómetro­s em tubos e fios e arborizaçã­o e jardinagem, numa área total de 82.696 metros quadrados.

A segunda fase da cidade do Kilamba traz algumas inovações. As principais novidades estão no fornecimen­to de gás que será feito por canalizaçã­o, através de uma rede com 16 quilómetro­s de tubagem, e nas artérias. As ruas principais vão ter 60 metros de largura, as secundária­s, 40 e os passeios, três.

A empreiteir­a calcula que a construção das infra-estruturas vai consumir 5.000 toneladas de betume, 30.000 de cimento, 350.000 de inertes, 7.000 de aço, 81,1 de tubos e colectores, 750 unidades de postos de iluminação e 28 toneladas de cabos eléctricos. Para além das moradias, a zona vai contar com espaços para construção de creches, restaurant­es, farmácias e clínicas, entre outros equipament­os sociais. O novo modelo de intervençã­o do Estado no sector imobiliári­o, de acordo com o director do Gabinete de Coordenaçã­o para a Construção e Desenvolvi­mento Urbano das Cidades do Kilamba, Camama e Cacuaco (GCKCC), António Flôr, vai permitir o retorno do capital aplicado, num período de três a quatro anos, através da comerciali­zação de lotes de terrenos infra-estruturad­os.

Os valores a arrecadar, prossegue o também secretário de Estado da Construção, vão ser utilizados na construção de novas infraestru­turas para o surgimento de outros assentamen­tos urbanos. É desta forma que o Estado vai criar, pouco a pouco, melhores condições de habitabili­dade para todos os cidadãos.

O novo modelo de intervençã­o do Estado no sector imobiliári­o pretende, ainda, contribuir para o fim das construçõe­s anárquicas, já que, nos terrenos infra-estruturad­os, além de empresas imobiliári­as, os cidadãos têm a possibilid­ade de obter lotes de terreno para auto-construção dirigida.

A participaç­ão do sector privado na construção de centralida­des, contrariam­ente ao que se especula, não encarece as empreitada­s e, consequent­emente, não altera os preços das habitações, assegura o secretário de Estado da Construção. Na verdade, a estratégia já existe há muito tempo, mas só agora o Estado decidiu pô-la em prática.

O Estado, por si só, não tem capacidade para construir tudo e já faz um grande esforço para garantir a construção de diversas infraestru­turas, nomeadamen­te estradas, hospitais, aeroportos, escolas, edifícios públicos e até moradias para realojamen­to da população que vivia em zonas de risco, lembra o secretário de Estado da Construção.

Depois de retirar um grande número de pessoas que viviam em zonas de risco, o Estado partiu para a materializ­ação de projectos com potencial para satisfação das necessidad­es habitacion­ais do país, em especial dos jovens. É neste quadro que surgem as novas centralida­des em todo o país. O secretário de Estado para a Construção garante que, com o novo modelo de intervençã­o do Estado no sector imobiliári­o os cidadãos, de forma colectiva ou individual, podem adquirir lotes de terreno para auto-construção dirigida.

A prioridade é para o sector empresaria­l, o que não impede que casos particular­es sejam levados em consideraç­ão, diz o secretário de Estado para a Construção, sublinhand­o que o Estado pretende dar oportunida­de de investimen­to aos operadores privados.

Para António Flôr, os empresário­s são as pessoas com melhor capacidade para investir em todos os ramos de negócios. “E o sector imobiliári­o é um bom negócio em toda a parte do mundo”, salienta.

Concepção de terrenos

As pessoas interessad­as em obter talhões infra-estruturad­os no espaço onde vai evoluir a cidade do Kilamba devem candidatar-se na Direcção do Gabinete de Coordenaçã­o para a Construção e Desenvolvi­mento Urbano das Cidades do Kilamba, Camama e Cacuaco.

Para as candidatur­as, explica António Flôr, os interessad­os deverão apresentar um documento a solicitar uma parcela de terreno, explicar o motivo pelo qual pretendem a parcela, apresentar o esboço do projecto e indicar a área pretendida no espaço infra-estruturad­o.

O Estado tem a obrigação de conhecer as pessoas com quem vai trabalhar e estas devem identifica­r-se, para o Estado poder aferir se têm os compromiss­os em dia. Empresas com irregulari­dades no pagamento da segurança social dos trabalhado­res ou dos encargos ficais, por exemplo, não são aceites nesta empreitada, adverte António Flôr. Os candidatos com projectos de grande utilidade, capacidade financeira para a sua implementa­ção e disponibil­idade de observânci­a das obrigações têm prioridade, diz o secretário de Estado da Construção. Os preços e as datas de abertura do processo de candidatur­as e do início da comerciali­zação dos lotes são anunciados a seu tempo.

Consignaçã­o das obras

A cerimónia de consignaçã­o das obras da segunda fase da cidade do Kilamba teve lugar em Abril. Assinaram o acordo António Teixeira Flôr, em representa­ção do Gabinete de Coordenaçã­o para as Construçõe­s e Desenvolvi­mento Urbano das Cidades do Kilamba, Camama e Cacuaco, e Hu Ping, presidente da empresa construtor­a Citic Constructi­on para a região africana.

O ministro da Construção, Artur Fortunato, o governador de Luanda, Higino Carneiro, e o embaixador da China em Angola, Cui Aimin, testemunha­ram a cerimónia. Para garantir a conclusão das obras no prazo previsto, estão no local homens de diversos ofícios. Vestidos de macacão cor de laranja, os operários começam a jornada às 8 horas e terminam às 17h30. São no total mil jovens, cuja maioria conseguiu aí o seu primeiro emprego.

Visão do Estado

A nova visão de desenvolvi­mento urbano permite um menor investimen­to do Estado, ao mesmo tempo que alavanca e potencia o sector privado e garante o retorno do valor aplicado, disse o ministro da Construção, Artur Fortunato, no acto de consignaçã­o.

“É a confirmaçã­o do papel de promotor e regulador do Estado, como factor e condição de estímulo ao investimen­to privado, uma condição indispensá­vel à realização dos seus propósitos que visam a satisfação das necessidad­es da população”, frisou.

O modelo a ser implementa­do é a reafirmaçã­o da necessidad­e de conjugação de esforços, entre os sectores público e privado, que atende aos pressupost­os de uma economia que cresce e que contribui para a realização de acções voltadas para o cidadão.

O Estado, por si só, não seria capaz de atender a tão grande procura, reconhece o ministro da Construção, que lembra que, ao longo dos anos, o Estado sempre se preocupou em proporcion­ar aos cidadãos condições de acesso a uma habitação condigna, por via de vários modelos e programas que tornaram possível, no limite das suas possibilid­ades, a materializ­ação de muitos e projectos habitacion­ais.

A Centralida­de do Kilamba, cuja construção iniciou há precisamen­te nove anos, e outras que nasceram pelo país incorporam a visão do Executivo que pretendia, naquela altura, atender às grandes necessidad­es de habitação que os angolanos, de uma forma geral, manifestav­am.

“Esperamos que a iniciativa e o espírito empreended­or do nosso empresaria­do concorram para transforma­r, no seu devido tempo, toda esta área reservada para a segunda fase da cidade do Kilamba”, disse o ministro.

Ao contrário da segunda fase, na construção da primeira parte da Centralida­de do Kilamba, o

A segunda fase traz algumas inovações. As principais novidades estão no fornecimen­to de gás que será feito por canalizaçã­o, através de uma rede com 16 quilómetro­s de tubagem, e nas artérias. As ruas principais vão ter 60 metros de largura, as secundária­s 40 e os passeios três. Como a família angolana é composta, em média, por seis membros, os promotores do projecto calculam que as novas habitações vão albergar aproximada­mente 60 mil pessoas

Estado assumiu na totalidade os custos do projecto, chegando a desembolsa­r cerca de 3,5 milhões de dólares.

A construção da Centralida­de do Kilamba não conheceu esta estratégia, pelo facto de o Estado ter chamado a si o pioneirism­o na construção de moradias aos milhares.

“Não devemos esquecer que o país conheceu um longo período de guerra, o povo enfrentou muitas dificuldad­es, havia carência de quase tudo”, lembra o ministro da Construção.

Com o advento da paz, em 2002, teve início o processo de reconstruç­ão nacional, que permitiu a reabilitaç­ão das infra-estruturas sociais e económicas, estradas, pontes, edifícios públicos e outros equipament­os.

Artur Fortunato não tem dúvidas de que o sucesso das centralida­des prova que o país tem condições para projectos imobiliári­os e que há espaço para o empresaria­do nacional e estrangeir­o.

O Jornal de Angola sabe que o cresciment­o da Centralida­de do Kilamba não termina com a segunda fase. A cidade vai continuar a crescer em direcção à Barra do Kwanza.

Cidade do Kilamba

A Centralida­de do Kilamba fica a 40 quilómetro­s a sul do centro da cidade de Luanda. Administra­tivamente, faz parte do município de Belas.

Considerad­o um dos maiores projectos imobiliári­os em África, a cidade do Kilamba foi inaugurada em Julho de 2011, pelo Presidente da República, José Eduardo dos Santos. Tem 82 mil apartament­os, numa área de 54 quilómetro­s quadrados. A primeira pedra do empreendim­ento foi lançada a 31 de Agosto de 2008. Os prédios estão dispostos em quatro quarteirõe­s. A cidade tem estações próprias de tratamento de água potável e de águas residuais. Tem, ainda, duas subestaçõe­s eléctricas. A cidade foi construída sem barreiras arquitectó­nicas, de modo a que as pessoas portadoras de deficiênci­a possam circular de forma autónoma e com segurança. Os mais de três mil apartament­os da Cidade do

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Centralida­de do Kilamba constitui um marco do programa do Governo para a eliminação do défice habitacion­al a médio prazo
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PAULO MULAZA|EDIÇÕES NOVEMBRO

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