CARTAS DO LEITOR
Campo-Cidade
Vivo no campo e escrevo pela primeira vez para o Jornal de Angola para abordar a questão da urbanização, que tem sido uma espécie de oposto da moeda relativamente ao êxodo rural. Ouvi que actualmente a maioria da população vive nas zonas urbanas e que esse movimento tende a continuar.
Fico preocupado quando aparentemente todo o mundo parece estar a deixar o campo em direcção às cidades. Onde vivo e em função de relatos de famílias de outras paragens, dou conta de que há um movimento preocupante de pessoas em direcção às zonas urbanas. Acho que a ausência de mecanismos de equilíbrio podem resultar em situações menos boas e mesmo problemáticas para o presente momento em que pretendemos uma interacção saudável e equilibrada entre o campo e as cidades.
Em minha opinião, o processo de urbanização das cidades em Angola constitui uma vantagem, mas igualmente uma desvantagem. Se o movimento de pessoas saídas das zonas rurais para as cidades continuar, vamos enfrentar uma fraca presença de mão-deobra para os campos e outras ocupações existentes nas zonas rurais. Não podemos perder de vista a relação de complementaridade entre aqueles dois segmentos.
Embora seja verdade que melhores oportunidades, sobretudo para os jovens, são encontradas em maior número nas zonas urbanas, não é sustentável a continuação deste estado de coisas. As zonas urbanas não podem suportar esse movimento contínuo de populações que para lá se deslocam, não raras vezes, para se dedicarem a actividades precárias ou caírem na mendicidade.
Combate à pobreza
Segundo Luiz Inácio ‘Lula’ da Silva, citado por uma fonte de informação, “um programa de combate à fome apenas dá certo quando o Presidente da República se engaja e cobra todos os dias aos seus ministros.” De facto, o exChefe de Estado brasileiro fez o que dezenas de figuras da elite brasileira em cargos de direcção a nível do Governo federal e estadual não fizeram.
O antigo Presidente do Brasil, que se orgulha de ser metalúrgico, gaba-se de ter tido um consulado que deixou marcas profundas a nível do social porque conseguiu retirar da pobreza milhares de famílias brasileiras. Trata-se quase de um caso de estudo que, independentemente das falhas ou imprecisões, serviu para demonstrar que as políticas económicas podem incidir directamente sobre a vida da população.
Governar é difícil, já dizia o poeta alemão Beltolt Brecht, mas, com simplicidade, trabalho e muita seriedade, é possível realizar milagres. Quando o interesse da grande maioria não fica à mercê de uns poucos que, ao leme da governação, se esquecem do soberano que lhe delegou provisoriamente poder para ser exercido em seu nome. Lembro que um grande estadista, igualmente alemão, dizia que a governação é um assunto demasiado vital para ser deixado unicamente às mãos de uns poucos. Participação traduzida no exercício permanente da cidadania constitui uma das saídas para que as decisões com profunda incidência na vida da população tenham também a contribuição dos cidadãos, individual ou associados.
Girabola em alta
Sou adepto de bom futebol e acompanho com elevada expectativa o que se passa agora ao nosso futebol. Há uma grande competitividade, com várias equipas a intercalarem a posição primeira no nosso GirabolaZAP.
O campeonato está ao rubro e espero que as equipas tenham capacidade para seguir em frente com os objectivos que traçaram inicialmente. Serve para a reflexão o desafio que muitas equipas enfrentam com as chicotadas psicológicas dos seus treinadores e questões financeiras que se levantam logo nas jornadas iniciais do campeonato.
Termino esta carta para felicitar as equipas que disputam o nosso Girabola, numa altura em que os ventos desfavoráveis da crise também acabam por afectar as agremiações desportivas.