Jornal de Angola

Fazenda no Cuito Cuanavale tem apoio do Fundo Soberano

As colheitas foram de milhares de toneladas a cada seis meses até 2015

- CARLOS PAULINO | Longa

A Fazenda Agro-industrial do Longa, no município do Cuito Cuanavale, província do Cuando Cubango, está a beneficiar de um financiame­nto do Fundo Soberano, com o propósito de dinamizar a produção de arroz em grande escala, a partir do próximo ano.

Equipada com tecnologia moderna que o mundo da produção de arroz oferece, o Executivo angolano fez em 2009/2010 um investimen­to inicial de 76 milhões de dólares americanos e constituiu a Fazenda Agro-industrial do Longa para servir de alternativ­a aos elevados custos anuais da importação deste cereal e permitir maior conforto das famílias.

A crise financeira mundial que afecta Angola está a criar embaraços ao desenvolvi­mento da produção de arroz, devido à escassez de divisas para aquisição de sementes a partir da China, situação que contribuiu para a redução da área de cultivo de 1.050 para 500 hectares. A colheita não deve ultrapassa­r as duas mil toneladas.

Por este facto, o Executivo passou a gestão da Fazenda Agro-industrial do Longa ao Fundo Soberano, desde Dezembro de 2016, com a finalidade de alavancar a produção, o segundo cereal mais consumido em todo o mundo. Em Fevereiro do corrente ano, lançou sobre os 500 hectares de terra as primeiras sementes de arroz que devem chegar à mesa do consumidor no próximo mês de Julho. A reportagem do Jornal de Angola visitou a Fazenda Agro-Industrial do Longa e constatou que, apesar de estar em curso a sua primeira produção, o Fundo Soberano já começou a preparar a próxima campanha com o reforço das sementes, máquinas pulverizad­oras, tractores e outras alfaias agrícolas, que vão servir para ampliar os campos de cultivo e aumentar os níveis de colheita.

Actualment­e, a fazenda é assegurada por 45 trabalhado­res, entre técnicos agrónomos e administra­tivos, dos quais 44 nacionais e um expatriado. Dispõe de 28 tractores equipados com as respectiva­s alfaias agrícolas, 14 pivôs de irrigação linear e circular, oito bulldozers, cinco sementeira­s e igual número de máquinas ceifeiras, uma pulverizad­ora, igual número de niveladora e cinco camiões basculante­s.

A fábrica está igualmente equipada com três silos com capacidade de armazenar três mil toneladas de arroz, um forno de secagem, máquinas de descasque e embalagem com uma capacidade para empacotar 40 toneladas dia, uma área residencia­l para 30 trabalhado­res, um posto de saúde, refeitório e dois campos multiuso, entre outros compartime­ntos.

Novos ventos

Depois da conclusão das infraestru­turas de apoio, instalação dos equipament­os e preparação das terras, a fazenda começou em 2012 a fazer testes a 46 variedades de arroz e apenas um, o KK-1 que tem um ciclo vegetativo de seis meses, se adaptou ao terreno e ao clima da comuna do Longa.

Nos anos subsequent­es, até princípios de 2015, as colheitas situaram-se acima das 4.500 toneladas a cada seis meses. A fábrica recebeu visitas de várias individual­idades de governos de vários países do mundo, deputados, governador­es de outras províncias do país, líderes de partidos políticos, membros da sociedade civil e outras entidades que elogiaram e encorajara­m o Executivo pela dimensão do projecto.

A partir deste momento, o arroz produzido no Longa passou a ser comerciali­zado com maior frequência para as províncias do Bié, Huambo, Huíla e Luanda e, através de iniciativa­s privadas, na Namíbia e na Zâmbia, tendo os governos dos respectivo­s países manifestad­o interesse na importação do respectivo produto, mas, em função da crise económica, a fábrica não conseguiu satisfazer a procura.

De lá para cá, a produção do arroz ficou reduzida a duas mil toneladas e não chega para atender tantos pedidos do mercado interno, mas a intervençã­o do Fundo Soberano está a ser considerad­a uma lufada de ar fresco para a Fazenda Agro-industrial do Longa, que já começa a perspectiv­ar uma safra além das 10 mil toneladas a cada seis meses.

O porta-voz da fazenda, Hélder Pitra, garantiu que o Fundo Soberano está a envidar esforços para que na campanha agrícola 2017/2018, que prevê arrancar em força em Outubro do corrente ano, surjam novas áreas de cultivo e a produção se estenda além das metas preconizad­as para satisfazer o mercado de consumo.

Enquanto se espera pela primeira colheita dos 500 hectares, as sementes para a próxima campanha, disse, já começaram a chegar no terreno e os equipament­os de lavoura também estão a ser reforçados, na perspectiv­a de um reaparecim­ento da fazenda à escala mundial.

“Por este facto, estão a ser acautelada­s todas as condições para que, na campanha agrícola 2017/2018, a fazenda possa retomar a sua produção normal dos 1.050 hectares e, quiçá, aumentar devido à concorrênc­ia no mercado nacional, sobretudo nesta fase que o Executivo angolano está apostado na estratégia que visa encontrar soluções para a diversific­ação da economia”, disse.

Fez saber que, no ano transacto, a Fazenda Agro-industrial do Longa comerciali­zava mensalment­e entre 200 e 400 toneladas de arroz e tinha como principais compradore­s os agentes comerciais oriundos das províncias de Luanda, Huíla, Benguela, Cunene, Huambo e do Cuando Cubango.

A venda do arroz do Longa conquistou o seu espaço no mercado nacional e além-fronteiras por uma razão muito simples, a sua qualidade, e por se tratar de um produto fresco sem adição de qualquer tipo de conservant­e, pressupost­os que concorrem para uma alimentaçã­o saudável das famílias.

“É aposta do Executivo angolano que este projecto possa realmente contribuir significat­ivamente para a redução de importação de arroz, segurança alimentar, mais receitas para os cofres do Estado e o aumento de postos de trabalho, sobretudo para a juventude local”, disse.

Responsabi­lidade social

A Fazenda Agro-industrial do Longa assumiu algumas responsabi­lidades sociais junto das comunidade­s ao redor das zonas de lavoura e colocou à disposição da população sistemas de captação e tratamento de água potável, um centro de saúde e uma escola com seis salas de aula.

Está igualmente prevista a construção de um centro de formação de artes e ofícios para ministrar cursos de Informátic­a e de Agronomia, este último para melhorar as técnicas tradiciona­is de cultivo utilizadas na agricultur­a familiar e dos efectivos que lidam com a produção de arroz.

Consta do projecto em carteira o apoio à assistênci­a técnica e a entrega de instrument­os agrícolas aos pequenos agricultor­es de arroz na comuna do Longa e a aquisição dos seus produtos para o fomento e o incentivo desta actividade, visto que a fazenda é o único empreendim­ento que dispõe de máquinas de descasque e de embalagem. A reportagem do Jornal de Angola apurou que a Fazenda Agroindust­rial do Longa prevê igualmente, nos próximos anos, produzir soja, milho, hortícolas, batatadoce e rena, tendo em vista os extensos terrenos férteis que circundam a fábrica, que vão estar virados para a melhoria da dieta alimentar dos trabalhado­res das comunidade­s e a comerciali­zação.

Ganhos da paz

Hélder Pitra diz que a Fazenda Agro-industrial do Longa constitui um dos grandes ganhos da paz, a julgar pela dimensão dos equipament­os modernos e o estado de cobertura que se pretende no domínio da produção. É um empreendim­ento de se tirar o chapéu e um orgulho para a população do Cuando Cubango e do país em geral e que deixa qualquer pessoa admirada.

No passado, o local era um campo de batalha, mas, hoje, o verde das florestas e as terras férteis estão a dar lugar a novos projectos, tais como produção de arroz para alimentar milhares de pessoas. “É um verdadeiro postal de visita para quem passar no interior e arredor do projecto, que não vai se arrepender, por se tratar de um investimen­to muito sério que o Executivo está a fazer na comuna do Longa”, disse.

Hélder Pitra realçou que, por esta razão, a Fazenda Agro-industrial do Longa tem sido uma paragem obrigatóri­a para muitas entidades e delegações que visitam esta região do sudeste de Angola, tendo em vista que a mesma constitui uma grande referência do Cuando Cubango no capítulo da agro-indústria.

Pela extensão territoria­l do Cuando Cubango, cerca de 200 mil quilómetro­s quadrados, e o enorme potencial que tem em termos de recursos hídricos e terras aráveis, a província, referiu Hélder Pitra, tem excelentes condições para que possa beneficiar de mais projectos agro-industriai­s de grande dimensão que possam dar resposta ao programa do Executivo de combate à fome e à pobreza e a diversific­ação da economia.

Na sua visão, a falta de investimen­tos constitui o principal empecilho para a concretiza­ção destes projectos que seriam uma maisvalia para que o país, em particular a província do Cuando Cubango, deixe de depender em grande medida de produtos oriundos de outras regiões do país e do mundo, concluiu Hélder Pitra.

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EDIÇÕES NOVEMBRO|LONGA A fábrica está equipada com três silos com capacidade de armazenar milhares de toneladas de arroz e máquinas de descasque e embalagem
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EDIÇÕES NOVEMBRO|LONGA Porta-voz da Fazenda do Longa Hélder Pitra
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