Violência alastra pelo país
Vários disparos de armas de fogo foram ouvidos ontem no bairro de Bouaké, a segunda cidade da Costa do Marfim, onde soldados se amotinaram na sexta-feira, constaram repórteres da agência France Presse, no local.
Em Abidjan, de acordo com depoimentos de civis, foram também efectuados vários disparos na zona de Akouedo, onde está situada a maior instalação militar do país, constituída por dois quartéis.
Segundo a France Presse, em Bouaké os disparos foram frequentes durante a madrugada e são interpretados como sinais de descontentamento por parte dos soldados que exigem o pagamento de salários em atraso.
Também ontem, comérciantes de cacau, bancos e prédios do Governo de Daloa, reduto de cacau na Costa do Marfim, fecharam as portas em meio a tiroteios relacionados a um motim militar que dura quatro dias, noticiou a agência de notícias Reuters, que citou moradores locais.
No mesmo dia, a associação de bancos da Costa do Marfim pediu que todos os bancos do país para permanecerem fechados. “Houve uma reunião de emergência nesta manhã e a associação de bancos da Costa do Marfim decidiu que, por razões de segurança, todos os bancos vão continuar fechados”, disse uma autoridade do Banque Atlantique à Reuters. No sábado, um grupo de soldados da Costa do Marfim, actuando na condição de rebeldes, atacaram três pessoas e cortaram o acesso à Bouake depois da escalada de uma revolta em que os militares exigem ao Governo o pagamento de bónus.
A revolta dos militares começou na segunda maior cidade do país, na sexta-feira, antes de se espalhar rapidamente, seguindo um padrão similar de um motim do mesmo grupo, em Janeiro, que paralisou partes da Costa do Marfim e manchou a sua imagem de exemplo de sucesso pós-guerra.
As autoridades, segundo os rebeldes, não cumpriram com as novas promessas, o que criou no seio do grupo um sentimento de frustração e abandono.
Os rebeldes passaram então a acção e assumiram o controlo do quartel-general do Exército e as instalações do Ministério da Defesa no centro da capital comercial, Abidjan, na sexta-feira.
Aumentaram a pressão ao bloquearem estradas que saem de Bouake, epicentro da revolta de Janeiro, e protestaram noutras partes do país, inclusive na cidade de Korhogo, no Norte, onde dois homens numa moto foram baleados nas pernas enquanto tentavam passar por uma barreira militar.