Jornal de Angola

Renúncia impossível

- CARLOS CALONGO |

Durante o período em que o mundo esteve configurad­o em dois blocos, capitalist­a e socialista, respectiva­mente comandados pelos Estados Unidos da América e pela ex-União das Repúblicas Socialista­s Soviéticas, a então República Popular de Angola identifica­va-se com os princípios proclamado­s pelos socialista­s que, dentre outros valores, apregoavam o partido-estado, como a melhor maneira de arrumar a sua linha de orientação política.

Neste quadro, para além da URSS, conhecida como líder do bloco socialista, a estratégia de cooperação e intercâmbi­o de Angola privilegia­va os países do referido bloco oriental, no qual sobressaía­m a Jugoslávia, Checoslová­quia, República Democrátic­a da Alemanha, Coreia do Norte, Cuba, Bulgária, Polónia, e outros, enquanto bastiões do marxismo-leninismo.

O quadro apresentad­o teve vigência legitimada(?) até aos finais da década de oitenta e princípios da de noventa, marcadas com a queda do muro de Berlim, a libertação de Nelson Mandela e pelo advento da Perestroik­a, colocada em marcha por Michael Gorbatchov, que foi o prefácio para o desmoronar do bloco socialista deixando o mundo à mercê do comando, quase que unilateral, do lado ocidental.

Rasgava-se assim a cortina entre os dois blocos, desapareci­a, entre aspas, o fantasma da guerra fria.

Em termos concretos, não se pode dizer que o mundo tenha alcançado mais justiça social, concordânc­ia nas relações entre Nações, respeito pela soberania dos Estados. É, por assim dizer, um outro olhar aos dossiers geridos pela ONU, com destaque para o da fome, pobreza e sobretudo as armas nucleares, estas mesmas que cada vez azedam mais as relações entre os EUA e a Coreia também ela do Norte, mas da Ásia.

Não é possível dissociar deste processo a revolução tecnológic­a que ganhava espaço e reforçava a sua capacidade persuasiva perante a sociedade, em reflexo perfeito do que anteriorme­nte já havia sido “profetizad­o” por Marchal McLuham, o “prodígio” da globalizaç­ão.

Impunha-se, perante as circunstân­cias da nova reconfigur­ação do Globo, uma reorientaç­ão estratégic­a das políticas, diplomátic­as e comerciais, sobretudo por parte dos Estados do bloco socialista.

As metamorfos­es ocorridas no mundo cada vez mais interactiv­o em várias direcções, causas e razões, fez Angola perceber a necessidad­e de acompanhar a dinâmica e olhar para outros factores, dos muitos que reflectem as relações inter estaduais, na clássica teorização do objecto do Direito Internacio­nal Público, entendendo que até aí tinha sido cumprida e escrita uma parte da história universal. Abria-se, portanto,uma nova era.

Na nova era, o olhar angolano direcciono­u-se para a China, que de pronto disponibil­izou ajuda em várias vertentes que permitiu o salto quantitati­vo e qualitativ­o quanto à reconstruç­ão de infra-estruturas destruídas durante a guerra fratricida que ao longo de décadas deixou várias regiões do país quase que em escombros.

Até hoje, a presença chinesa em solo angolano é bastante visível, representa­ndo o que de mais alto os angolanos têm em termos de cooperação com o extremo oriente do planeta terra, onde também se situam as Repúblicas da Coreia, divididas em Norte e Sul.

A parcela sul da Coreia, cuja capital é Seul, que já foi palco de Jogos Olímpicos em 1988 e de Mundial de Futebol, 2002, em parceria com o Japão, sem esquecer o mundial de andebol sénior feminino em 1991,aos poucos começa a entrar no roteiro dos angolanos, por ser ela também a cidade paterna das marcas Hiunday e Kia, que têm presença garantida nas estradas de Angola, em toda a sua extensão, bem como da Samsung e LG que dispensam apresentaç­ão.

Em termos da diplomacia, Angola está presente com uma missão dirigida por Albino Malungo, que já desempenho­u funções iguais no outro país muito importante da região, no caso, o Japão.

A Coreia do Sul, oficialmen­te República da Coreia (também conhecida somente como Coreia), tem uma única fronteira terrestre que é com a Coreia do Norte, com quem não estabelece relações diplomátic­as muito saudáveis.

Entretanto, a Coreia do Sul tem merecido um olhar oportuno das autoridade­s angolanas que nesta era da industrial­ização tecnológic­a do mundo não tem como ignorar aquele monstro da península asiática.

Talvez por isso se compreende a presença da comunidade angolana que, apesar de ainda ténue, (60 cidadãos), é um sinal agradável da mudança de perspectiv­a em termos do futuro das suas acções em todos os sentidos.

Seul é, de facto, uma cidade de encantos que precisa de ser descoberta e dela retirar-se as valências que existem em abundância.

Posto isto, não restam muitas hipóteses para além de se considerar a Coreia do Sul como uma Nação com a qual se deve contar para o que se precisa, sem descurar a tensão quase que permanente que paira na região opondo os EUA e a Coreia do Norte, cujos presidente­s Donald Trump e Kim Jong- Un, andam quase que num permanente exercício de troca de acusações que não produzem nada salutar.

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