Renúncia impossível
Durante o período em que o mundo esteve configurado em dois blocos, capitalista e socialista, respectivamente comandados pelos Estados Unidos da América e pela ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a então República Popular de Angola identificava-se com os princípios proclamados pelos socialistas que, dentre outros valores, apregoavam o partido-estado, como a melhor maneira de arrumar a sua linha de orientação política.
Neste quadro, para além da URSS, conhecida como líder do bloco socialista, a estratégia de cooperação e intercâmbio de Angola privilegiava os países do referido bloco oriental, no qual sobressaíam a Jugoslávia, Checoslováquia, República Democrática da Alemanha, Coreia do Norte, Cuba, Bulgária, Polónia, e outros, enquanto bastiões do marxismo-leninismo.
O quadro apresentado teve vigência legitimada(?) até aos finais da década de oitenta e princípios da de noventa, marcadas com a queda do muro de Berlim, a libertação de Nelson Mandela e pelo advento da Perestroika, colocada em marcha por Michael Gorbatchov, que foi o prefácio para o desmoronar do bloco socialista deixando o mundo à mercê do comando, quase que unilateral, do lado ocidental.
Rasgava-se assim a cortina entre os dois blocos, desaparecia, entre aspas, o fantasma da guerra fria.
Em termos concretos, não se pode dizer que o mundo tenha alcançado mais justiça social, concordância nas relações entre Nações, respeito pela soberania dos Estados. É, por assim dizer, um outro olhar aos dossiers geridos pela ONU, com destaque para o da fome, pobreza e sobretudo as armas nucleares, estas mesmas que cada vez azedam mais as relações entre os EUA e a Coreia também ela do Norte, mas da Ásia.
Não é possível dissociar deste processo a revolução tecnológica que ganhava espaço e reforçava a sua capacidade persuasiva perante a sociedade, em reflexo perfeito do que anteriormente já havia sido “profetizado” por Marchal McLuham, o “prodígio” da globalização.
Impunha-se, perante as circunstâncias da nova reconfiguração do Globo, uma reorientação estratégica das políticas, diplomáticas e comerciais, sobretudo por parte dos Estados do bloco socialista.
As metamorfoses ocorridas no mundo cada vez mais interactivo em várias direcções, causas e razões, fez Angola perceber a necessidade de acompanhar a dinâmica e olhar para outros factores, dos muitos que reflectem as relações inter estaduais, na clássica teorização do objecto do Direito Internacional Público, entendendo que até aí tinha sido cumprida e escrita uma parte da história universal. Abria-se, portanto,uma nova era.
Na nova era, o olhar angolano direccionou-se para a China, que de pronto disponibilizou ajuda em várias vertentes que permitiu o salto quantitativo e qualitativo quanto à reconstrução de infra-estruturas destruídas durante a guerra fratricida que ao longo de décadas deixou várias regiões do país quase que em escombros.
Até hoje, a presença chinesa em solo angolano é bastante visível, representando o que de mais alto os angolanos têm em termos de cooperação com o extremo oriente do planeta terra, onde também se situam as Repúblicas da Coreia, divididas em Norte e Sul.
A parcela sul da Coreia, cuja capital é Seul, que já foi palco de Jogos Olímpicos em 1988 e de Mundial de Futebol, 2002, em parceria com o Japão, sem esquecer o mundial de andebol sénior feminino em 1991,aos poucos começa a entrar no roteiro dos angolanos, por ser ela também a cidade paterna das marcas Hiunday e Kia, que têm presença garantida nas estradas de Angola, em toda a sua extensão, bem como da Samsung e LG que dispensam apresentação.
Em termos da diplomacia, Angola está presente com uma missão dirigida por Albino Malungo, que já desempenhou funções iguais no outro país muito importante da região, no caso, o Japão.
A Coreia do Sul, oficialmente República da Coreia (também conhecida somente como Coreia), tem uma única fronteira terrestre que é com a Coreia do Norte, com quem não estabelece relações diplomáticas muito saudáveis.
Entretanto, a Coreia do Sul tem merecido um olhar oportuno das autoridades angolanas que nesta era da industrialização tecnológica do mundo não tem como ignorar aquele monstro da península asiática.
Talvez por isso se compreende a presença da comunidade angolana que, apesar de ainda ténue, (60 cidadãos), é um sinal agradável da mudança de perspectiva em termos do futuro das suas acções em todos os sentidos.
Seul é, de facto, uma cidade de encantos que precisa de ser descoberta e dela retirar-se as valências que existem em abundância.
Posto isto, não restam muitas hipóteses para além de se considerar a Coreia do Sul como uma Nação com a qual se deve contar para o que se precisa, sem descurar a tensão quase que permanente que paira na região opondo os EUA e a Coreia do Norte, cujos presidentes Donald Trump e Kim Jong- Un, andam quase que num permanente exercício de troca de acusações que não produzem nada salutar.