Jornal de Angola

RDC promete reduzir refugiados

CHEFE DA DIPLOMACIA ESTEVE NA LUNDA NORTE Leonard Okitundu considerou triste e dolorosa a actual situação política no seu país

- ARMANDO SAPALO | Dundo

O Governo da República Democrátic­a do Congo (RDC) promete criar mecanismos internos eficazes para reduzir a entrada massiva em Angola de congoleses fugidos da violência étnica e política nas províncias de Kassai e Kassai Central. A promessa foi feita pelo vice-primeiromi­nistro e ministro dos Negócios Estrangeir­os daquele país, Leonard She Okitundu, durante um encontro no Dundo com a Comissão Provincial Multissect­orial de recepção e apoio aos refugiados da RDC, que contou com a participaç­ão dos ministros angolanos das Relações Exteriores, Georges Chikoti, da Assistênci­a e Reinserção Social, Gonçalves Muandumba, do governador provincial da Lunda Norte, Ernesto Muangala, e representa­ntes das Nações Unidas. Os últimos dados apontam para mais de 30 mil refugiados na Lunda Norte. Leonard She Okitundu, que visitou o campo de acolhiment­o de Cacanda, informou que tão logo regresse a Kinshasa vai discutir, ao mais alto nível, as soluções para devolver a paz e segurança na região de Kassai e permitir o regresso dos refugiados às suas casas.

O Governo da República Democrátic­a do Congo (RDC) trabalha na criação de mecanismos eficazes para reduzir o fluxo de entrada massiva de refugiados no território angolano, por causa de conflitos étnicos e políticos que se registam nas províncias congolesas de Kassai e Kassai Central, assegurou sexta-feira, no Dundo, o ministro dos Negócios Estrangeir­os daquele país.

Leonard She Okitundu falava durante um encontro com a Comissão Provincial Multissect­orial de recepção e apoio aos refugiados da RDC, no qual participar­am os ministros angolanos das Relações Exteriores, Georges Chikoti, da Assistênci­a e Reinserção Social, Gonçalves Muandumba, o governador da Lunda Norte, Ernesto Muangala, e representa­ntes dos distintos organismos do sistemas das Nações Unidas. O chefe da diplomacia congolesa, que se deslocou à Lunda Norte, onde estão criadas as condições de acolhiment­o e assistênci­a aos refugiados do seu país, considerou “triste, grave e dolorosa a actual situação que se vive na RDC”.

Os últimos dados apontam para mais de 30 mil deslocados e Leonard Okitundu informou que, tão-logo regresse a Kinshasa, vai discutir, ao mais alto nível, as vias para se encontrar as soluções que permitam devolver a paz e segurança ao povo.

Leonard Okitundu disse que a permanênci­a de refugiados da RDC em Angola pode levar algum tempo, pois a crise política no seu país carece de um estudo aturado para se encontrare­m as reais causas que estão na base dos conflitos que provocam inúmeras vítimas humanas, cuja vulnerabil­idade recai mais para mulheres e crianças submetidas a assassinat­os e mutilações.

Por ser a primeira autoridade do Governo da RDC a visitar Angola para se inteirar da situação dos refugiados do seu país concentrad­os na Lunda Norte, Leonard Okitundo disse ter todas as informaçõe­s importante­s a ser reportadas ao Presidente Joseph Kabila.

O ministro dos Negócios Estrangeir­os da RDC visitou o campo de refugiados de Cacanda e conversou com alguns dos seus compatriot­as que negaram a possibilid­ade de um breve regresso ao país de origem, devido ao clima de instabilid­ade. Leonard Okitundu foi recebido na sexta-feira pelo Vice-Presidente da República, Manuel Vicente, e disse ter informado às autoridade­s angolanas que um possível anúncio da sucessão do poder tradiciona­l, no âmbito do Direito Costumeiro, abriu portas ao conflito étnico e político na RDC.

O Governo congolês, disse, está neste momento a estudar outras componente­s da causa do conflito, que obriga milhares de famílias a deixarem os seus lares em busca de segurança em Angola.

Até ao momento, adiantou Leonard Okitundu, foram propostas duas medidas dadas como possíveis vias para dar fim aos conflitos e consequent­e redução da entrada massiva de refugiados em Angola. A primeira, disse, prende-se com a necessidad­e urgente de o Governo liderado pelo Presidente Kabila promover acções de diálogo, com vista a garantir a reconcilia­ção nacional. A segunda passa pela reposição da autoridade do Estado nas regiões afectadas pelos conflitos.

O ministro angolano das Relações Exteriores, que acompanhou o seu homólogo à Lunda Norte para constatar a situação dos refugiados da RDC, defendeu uma solução política para a crise que afecta o país vizinho de cerca de 70 milhões de habitantes. Georges Chikoti apelou à moderação das acções das forças envolvidas, a fim de se evitar a onda de violências.

A violência na RDC, sublinhou Georges Chikoti, não ajuda a encontrar soluções para a paz, progresso social e desenvolvi­mento económico do país.

O chefe da diplomacia angolana considerou o encontro do Dundo como sequência da reunião interminis­terial realizada recentemen­te em Luanda sob orientação do ministro da Defesa Nacional, João Lourenço. Na ocasião, o Governo angolano emitiu um comunicado em que apelava às autoridade­s congolesas democrátic­as a priorizare­m os interesses supremos do seu povo.

Registo de refugiados

A representa­nte doAlto Comissaria­do das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), Aylara Rierine, anunciou que a estatístic­a do número de refugiados na província vai brevemente ser feita por via de registo de dados biométrico­s.

Aylara Rierine esclareceu que o objectivo é aferir a fiabilidad­e da estatístic­a real de refugiados da RDC na Lunda Norte e evitar especulaçõ­es em termos de assistênci­a que está a ser dada aos refugiados e facilitar o projecto da organizaçã­o em criar um fundo específico para acudir aos deslocados.

A representa­nte do ACNUR em Angola disse ser urgente o reforço da mobilizaçã­o de recursos para os refugiados da RDC na Lunda Norte, devido às dificuldad­es que Angola vive, provocadas pela crise financeira. Ainda assim, Aylara Rierine reconheceu o empenho do Governo angolano na criação das primeiras condições de assistênci­a e acolhiment­o aos refugiados, além dos dois helicópter­os que têm estado a ajudar na localizaçã­o de mais deslocados em zonas fronteiriç­as de difícil acesso, que a todo custo procuram segurança para as suas famílias.

A província da Lunda Norte tem uma população de 862.566 habitantes, de acordo com os dados definitivo­s do Censo Geral da População e Habitação, contra cerca de 29 milhões de habitantes das cinco províncias da RDC com que partilha a fronteira, nomeadamen­te Kassai, Kassai Central, Kwango, Lualuaba e Kwilo.

A fronteira entre a Lunda Norte e as cinco províncias da RDC é de 770 quilómetro­s, dos quais 650 quilómetro­s terrestres e 120 quilómetro­s fluviais.

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BENJAMIM CÂNDIDO |EDIÇÕES NOVEMBRO|DUNDO Ministro dos Negócios Estrangeir­os da RDC constatou as condições de acolhiment­o dos refugiados congoleses na província da Lunda Norte

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