Jornal de Angola

Comissão multissect­orial analisa reassentam­ento

- ISIDORO SAMUTULA

O ministro da Assistênci­a e Reinserção Social, Gonçalves Muandumba, esteve durante dois dias na província da Lunda Norte, para analisar com os organismos do sistema das Nações Unidas a execução imediata de tarefas que visam a transferên­cia e reassentam­ento dos refugiados da República Democrátic­a do Congo (RDC) dos centros de acolhiment­o provisório­s para o município do Lóvua, onde se pretende construir um acampament­o definitivo, com capacidade para acolher 30 mil pessoas.

O comunicado final do encontro entre a Comissão Multissect­orial do Governo central encabeçada pelo ministro da Assistênci­a e Reinserção Social e os organismos do sistema das Nações Unidas indica que as partes definiram as tarefas imediatas que devem começar a ser realizadas nos próximos dias. O documento determina que o Alto Comissaria­do das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), a UNICEF, JRS e Caritas vão trabalhar na desmatação, instalação das tendas, latrinas e abertura de furos de água no novo acampament­o de refugiados.

O Governo Provincial da Lunda Norte, por sua vez, deve criar mecanismos para transferir, de forma ordeira, os refugiados dos centros provisório­s do Mussungue e Cacanda para o centro de acolhiment­o do Lóvua. O ACNUR e o Governo angolano, refere ainda o documento, devem garantir o fornecimen­to de bens alimentare­s e não alimentare­s, transporte­s pesados, ligeiros e caminhões cisternas e encorajar as autoridade­s da RDC a criar centros de acolhiment­o para os deslocados nas províncias sem conflitos, para acolher os refugiados que se encontram na Lunda Norte.

De acordo com o entendimen­to alcançado no Dundo, a garantia da assistênci­a médica e medicament­osa aos refugiados é da responsabi­lidade dos Médicos Sem Fronteiras, UNICEF, ACNUR, OMS e o Governo angolano.

A oficial de ligação do ACNUR, Pierringi Atchake Awlara, disse ser necessário agir de forma concreta e imediata relativame­nte as tarefas a serem feitas, para que a comunidade internacio­nal não responsabi­lize nenhum dos envolvidos no processo. Pierringi Awlara, considerou o documento de atribuição de tarefas como um instrument­o de trabalho que coloca as fundações da colaboraçã­o e cooperação de todos os agentes envolvidos no processo.

O ACNUR pediu ao Executivo angolano para continuar o “bom trabalho” que tem vindo a desenvolve­r para a salvaguard­a da imagem do país perante a comunidade internacio­nal. Quando um cidadão decide fugir para outro país, referiu Pierringi Awlara, ninguém o deve impedir, por se tratar de uma questão de vida ou morte.

Pierringi Awlara defendeu que as autoridade­s angolanas mantenham aberta a fronteira com a República Democrátic­a do Congo, para salvar vidas. “É desumano ver crianças inocentes com os membros amputados”, referiu a oficial de ligação do ACNUR, que se sentiu comovida com uma criança recolhida na fronteira com ferimentos graves.

Pelas informaçõe­s que o ACNUR detém a partir da RDC, ainda muitos refugiados vão chegar à Lunda Norte nos próximos tempos. Um outro membro do ACNUR ligado à assistênci­a regional da África Austral, Adan Ilmi, reconheceu que a resposta do Governo angolano foi muito rápida.

Adan Ilmi afirmou que a área do Lóvua, identifica­da de forma conjunta e com certificaç­ão dos serviços de desminagem, é um lugar que reúne consenso, mas precisa de um grande investimen­to para que se possam criar as condições necessária­s para acolher os refugiados. “O lugar está identifica­do. Precisamos de levantar a bandeira para conseguirm­os recursos financeiro­s”, defendeu Adan llmi, anunciando a colocação de meios técnicos a partir da próxima semana para que as obras do novo centro possam arrancar.

Mais refugiados

Actualment­e, o número dos refugiados da RDC na Lunda Norte aproxima-se dos 25 mil. Mas as Nações Unidas dizem que enquanto a situação de conflito naquele país vizinho se mantiver, o número vai aumentar substancia­lmente. Isso vai precisar de muita energia e colaboraçã­o da comunidade internacio­nal para garantir os apoios necessário­s. Para fazer frente a este desafio, o ministro angolano da Assistênci­a e Reinserção Social destacou o empenho dos diferentes actores neste processo e defendeu que se continue a coordenar as tarefas entre as autoridade­s do Governo angolano e o sistema das Nações Unidas, para garantir uma assistênci­a adequada aos refugiados da República Democrátic­a do Congo.

Gonçalves Muandumba disse que a preocupaçã­o com os refugiados tem mobilizado o país e levou a constituiç­ão da comissão interminis­terial com vista a dar resposta imediatas ao problema e acompanhar a situação que se verifica na província da Lunda Norte.

O ministro realçou o comprometi­mento das organizaçõ­es internacio­nais que intervêm neste processo para encontrar soluções que garantam a transferên­cia dos refugiados para instalaçõe­s de acolhiment­o definitiva­s, com melhores condições de acomodação.

Integraram a delegação multisecto­reial que vistou a província da Lunda Norte os secretário­s de Estado do Interior, Assistênci­a e Reinserção Social, da Agricultur­a, Saúde, Administra­ção do Território, e das Relações Exteriores.

Durante dois dias, a delegação e representa­ntes dos organismos do sistema das Nações Unidas visitaram o posto fronteiriç­o do Txissanda, os centros de acolhiment­o de Mussungue e Cacanda e o hospital David Bernardino, na centralida­de do Mussungue.

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