Jornal de Angola

ANGOLA FOI CENÁRIO DECISIVO Novo mapa histórico das línguas bantu

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As línguas bantu estão bem presentes no continente africano: cerca de 310 milhões de africanos, a maioria em países da África subsariana, falam estas línguas. Mas se chegaram tão longe é porque há uma história da sua expansão. Um grupo internacio­nal de cientistas, com três portuguesa­s, quis perceber que caminho percorrera­m as línguas bantu de há cerca de quatro mil anos para cá. Para isso, seguiram-lhes o rasto através da genética e publicaram o “roteiro” na revista “Science”. E Angola foi um cenário decisivo neste novo mapa.

As línguas bantu fazem parte da família linguístic­a nigero-congolesa e formam um grupo com mais de 500 línguas. Para tal, tiveram de fazer uma viagem muito longa. A grande jornada das línguas bantu pelo mundo iniciou-se há cerca de quatro mil anos. Nessa altura, os seus falantes viviam na zona ocidental de África, que hoje correspond­e à fronteira entre a Nigéria e os Camarões. Depois começaram a espalhar-se para sul, para território­s abaixo da linha do Equador.

Quanto aos motivos desta expansão, não são claros: “Não se sabe porquê”, começa por dizer Luísa Pereira, geneticist­a do Instituto de Investigaç­ão em Saúde (i3S), da Universida­de do Porto e uma das autoras do artigo, que em Portugal também contou com Joana Pereira e Verónica Fernandes, ambas do i3S, e tem como principal autor Etienne Patin, do Instituto Pasteur, em Paris. “Tinham a vantagem de ser povos agrícolas e ter o domínio da tecnologia do ferro. Está provavelme­nte relacionad­o também com o aumento populacion­al e de novas famílias que precisavam de novos terrenos”, explica.

Ao longo de mais de dois mil anos os falantes de línguas bantu migraram então para sul, pelo Gabão até Angola. E como se chegou a estes resultados? “Com recurso às técnicas mais avançadas da genética de populações, os investigad­ores rastrearam marcas específica­s que foram deixadas pelas misturas ocorridas com as populações autóctones durante a migração”, refere um comunicado do i3S, acrescenta­ndo que essas marcas podem ser analisadas nas populações actuais. Ao todo, a equipa investigou 2055 indivíduos de 57 populações. De alguns desses indivíduos já tinha dados genéticos e obteve ainda dados genéticos novos de 1318 indivíduos relativos a 35 populações.

Os cientistas observaram então que os falantes de línguas bantu do Leste e do Sul de África tinham mais semelhança­s genéticas com as populações de Angola do que entre si, ou com a sua população mais originária, mais a norte (entre a Nigéria e os Camarões). E foi aí que perceberam que os bantos migraram primeiro para sul, através do Gabão até Angola, e que aí ocorreu uma divisão populacion­al há dois mil anos, com duas ondas migratória­s: uma para sul através da costa Oeste, até à África do Sul; e outra para leste para a zona dos Grandes Lagos, seguindo depois para sul, através da costa Leste, chegando a Moçambique e, por fim, também à África do Sul.

“É esta a novidade do artigo: houve uma separação mais tardia e chegaram a Angola”, refere Luísa Pereira. Este estudo veio confirmar que essa divisão entre as populações bantu não tinha acontecido logo na sua expansão inicial há quatro mil anos.

A viagem dos falantes de línguas bantu passou ainda para o outro lado do Oceano Atlântico durante o período da escravatur­a. “Deram assim material genético aos afroameric­anos, o que resultou da mistura de várias populações de África [tanto de não bantos como de bantos]”, explica Luísa Pereira, acrescenta­ndo que não há dados genéticos disponívei­s para o Brasil.

Os afro-americanos do Norte dos Estados Unidos têm 73 por cento de ancestrali­dade africana e os dos estados do Sul têm 78 por cento, de acordo com o comunicado. Desta ancestrali­dade africana nos EUA, 13 por cento tem origem nos actuais Senegal ou Gâmbia (não bantos), 7 por cento na Costa do Marfim e Ghana (não bantos), 50 por cento na região à volta do Benim (não bantos) e até 30 por cento na costa ocidental da África Central (bantos), sobretudo de Angola. “Estes dados genéticos são surpreende­ntemente consistent­es com os registos históricos sobre o transporte de escravos”, refere ainda o comunicado.

O secretário de Estado para a Política de Defesa Nacional, Gaspar Rufino, está em Malabo, capital da Guiné Equatorial, onde participa amanhã em representa­ção do ministro João Lourenço na 18ª reunião dos Ministros da Defesa da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Segundo um comunicado do Ministério da Defesa Nacional, além de analisar a situação política e de segurança internacio­nal e suas implicaçõe­s no contexto regional dos Estados membros, o encontro de Malabo vai igualmente avaliar as recomendaç­ões saídas da 17ª reunião que teve lugar em Díli, Timor-Leste, em Maio de 2016, em que se destacam os termos de referência para o futuro Colégio de Defesa da CPLP, a revisão do Protocolo de Cooperação e os exercícios “Felino”.

Mais de 500 estabeleci­mentos hoteleiros encontram-se em situação de falência técnica, podendo vir a encerrar a actividade a curto prazo, de acordo com Ramiro Barreira, da Associação dos Hotéis e Resorts de Angola (AHARA), em declaraçõe­s à LAC-Luanda Antena Comercial. Segundo o responsáve­l associativ­o, este número representa cerca de 17 por cento de um universo de três mil empresas registadas do sector. Embora mantenha a esperança de dias melhores, Ramiro Barreira adiantou que a situação económica actual do país está a atirar várias empresas do sector hoteleiro e turístico para a falência, provocando o despedimen­to de milhares de profission­ais.

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DOMBELE BERNARDO|EDIÇÕES NOVEMBRO Grupo internacio­nal de cientistas divulga novo caminho percorrido pelas línguas bantu

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