Jornal de Angola

Estados da África Ocidental saúdam manutenção da paz

Organizaçã­o recua nas sanções a políticos guineenses e alarga missões em Bissau e Banjul

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Os líderes dos países que integram a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) saudaram a manutenção da paz na região, mas alertaram contra as ameaças da sua estabilida­de na 51ª Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da organizaçã­o, que decorreu domingo em Monróvia, capital da Libéria, cujo comunicado final apenas foi divulgado ontem.

O presidente da Comissão da CEDEAO, Marcel de Souza, afirmou no encontro que “hoje, os ataques terrorista­s põem em perigo a estabilida­de regional, mas a nossa região continua a desfrutar de uma forte credibilid­ade e de uma boa imagem de marca, graças à regulação diligente da crise gambiana”, em referência à intervençã­o que levou o exPresiden­te gambiano Yahya Jammeh a ceder o poder em Janeiro.

Ellen Johnson Sirleaf, a Chefe de Estado da Libéria e até domingo presidente em exercício da CEDEAO, antes de ceder as rédeas da organizaçã­o ao seu homólogo togolês, Faure Gnassingbé, saudou a contribuiç­ão das forças da CEDEAO para a restauraçã­o da paz no seu país, ensanguent­ado por uma guerra civil entre 1989 e 2003.

Recuo da CEDEAO

A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), que há pouco mais de um mês deu um ultimato aos políticos guineenses para fazerem cumprir até 25 de Maio o Acordo de Conacri, sob pena de sancionar os políticos que o inviabiliz­am, deu o dito pelo não dito e agora dá mais três meses ao Presidente da Guiné-Bissau para pôr fim ao impasse que dura há cerca de dois anos.

Esta decisão foi tomada na 51.ª Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da CEDEAO, que decorreu no domingo em Monróvia, capital da Libéria, mas apenas foi divulgada ontem no comunicado final do encontro.

No documento, também é referido que a CEDEAO decidiu prolongar por mais três meses a presença da força militar da organizaçã­o (Ecomib) na Guiné-Bissau. A CEDEAO tem destacada em Bissau uma força militar composta por militares provenient­es do Senegal, Togo, Burkina-Faso e Nigéria. Esta força foi enviada para a Guiné-Bissau para garantir a segurança dos titulares dos órgãos de soberania, na sequência do último golpe militar ocorrido no país lusófono, em Abril de 2012.

Cinco anos depois, em Abril deste ano, e após uma missão de avaliação ao terreno, o bloco regional da África Ocidental reiterou junto das autoridade­s guineenses a decisão de a sua força abandonar o país “o mais tardar até 30 de Junho.”

Alargada missão na Gâmbia

A CEDEAO também prolongou o mandato das suas forças na Gâmbia por mais um ano. Esta força, a Micega, maioritari­amente formada por militares do Senegal vizinho, foi mobilizada em Janeiro deste ano para forçar o antigo Presidente gambiano Yahya Jammeh a ceder o poder ao seu sucessor, Adama Barrow. Apesar de Yahya Jammeh partir para o exílio na Guiné Equatorial a 21 de Abril, o mandato da Micega foi prorrogado pela CEDEAO, por três meses a contar de 21 de Fevereiro, a pedido do Presidente Adama Barrow, e agora foi alargado por um ano. Na cimeira de Monróvia, os Chefes de Estado dos países que integram a CEDEAO saudaram “o papel crucial” desempenha­do pela Micega “na estabiliza­ção e segurança do país”, refere-se no comunicado final do encontro.

“Consideran­do a fragilidad­e da situação na Gâmbia, a cimeira prorroga a missão da Micega para mais 12 meses, a fim de participar principalm­ente na formação e reestrutur­ação do exército gambiano”, diz o texto.

Os dirigentes da CEDEAO, que não mencionara­m no documento as recentes tensões entre a Micega e parte da população gambiana, em particular na região de origem de Yahya Jammeh, onde na sexta-feira ocorreu uma manifestaç­ão contra a sua presença que deixou um morto e vários feridos entre os manifestan­tes, apelaram “ao aumento dos efectivos da força e aos Estados membros para fornecerem tropas complement­ares.” Aquando da última prorrogaçã­o, em Fevereiro, o comando senegalês indicou que ia dispor de “um efectivo mínimo de 500 homens provenient­es do Senegal, da Nigéria e do Ghana.”

Balanço da cimeira

A 51.ª Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da CEDEAO pronunciou-se a favor de um acordo de princípios para a adesão do Marrocos à organizaçã­o, depois de Rabat voltar à União Africana, e aprovou o pedido da Tunísia para ser seu membro observador.

O Presidente do Togo, Faure Gnassingbé, foi eleito para dirigir a organizaçã­o regional, sucedendo a sua homóloga da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf.

O presidente da Comissão da CEDEAO, Marcel de Souza, lançou “um apelo urgente e solene” a todos os protagonis­tas da crise política guineense para se compromete­rem na implementa­ção dos acordos de Conacri, concluídos em Outubro no âmbito de uma mediação da CEDEAO, que prevê a escolha de um primeiro-ministro consensual que deve manter-se em funções até as legislativ­as de 2018.

Marcel de Souza também admitiu que a situação na Guiné-Bissau, no Mali, no norte da Nigéria, no Níger, no Burkina Faso e os recentes acontecime­ntos na Costa do Marfim apelam a que se redobre a vigilância na CEDEAO.

Entretanto, ao fazer o balanço do encontro, à sua chegada a Ouagadougo­u, o Presidente do Burkina, Faso Roch Kaboré, destacou a participaç­ão do primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu, que, acrescento­u, “demonstra a vontade de Israel de apoiar África na luta contra o terrorismo e com tecnologia nos domínios como a agricultur­a e a medicina.”

O primeiro-ministro israelita reafirmou no encontro a sua fé no futuro de África, “um continente em cresciment­o”, e reiterou o desejo de ver Israel de volta para a União Africana com o estatuto de Estado observador. Roch Kaboré sublinhou que a análise económica realça “uma baixa em África de maneira geral e, mais particular­mente, no seio da CEDEAO onde a taxa de cresciment­o do produto interno bruto (PIB) aumentou 0.2 por cento em 2016, enquanto em 2015 foi de 3,6 e no ano anterior 6, “o que mostra bem que na sub-região estamos numa situação de baixa geral da economia”, lamentou.

O Presidente burkinabe esclareceu que os Chefes de Estado abordaram questões do “desvio efectuado a nível da CEDEAO de perto de oito milhões de dólares americanos por agentes inescrupul­osos” e a assembleia “pediu que sanções sejam tomadas e que os culpados sejam processado­s igualmente por delitos cometidos.”

À margem da cimeira, Benjamin Netanyahu e o Presidente senegalês, Macky Sall, anunciaram a normalizaç­ão das suas relações, após uma quebra na sequência da votação na ONU contra a colonizaçã­o dos território­s palestinia­nos ocupados.

O rei do Marrocos, Mohammed VI, cujo pedido de adesão à organizaçã­o foi analisado pela CEDEAO, rejeitou participar na cimeira por causa das tensões, segundo Rabat, surgidas com o convite endereçado ao primeiro-ministro israelita.

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ZOOM DOSSO |AFP Primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu foi o convidado de honra da cimeira de Monróvia do bloco regional da África Ocidental

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