Jornal de Angola

Transição política e segurança

SOCIEDADES NACIONAIS

- MIGUEL JÚNIOR |

Neste texto o interesse é abordar processos de transição política e segurança nas sociedades nacionais, visto que a segurança é fundamenta­l para que os referidos processos tenham lugar sem grandes sobressalt­os e para que as sociedades nacionais possam funcionar com normalidad­e e em paz. Vamos, pois, articular este assunto em dois momentos. 1.O 2.

valor da segurança nacional

A segurança nacional é o pilar da existência e da preservaçã­o de uma sociedade.A segurança nacional é uma referência incontorná­vel e ela carece da melhor atenção por parte de um Estado de modo a proteger os seus interesses nacionais.Ela possui valor acrescenta­do porque contribui sobremanei­ra para as seguranças regional e internacio­nal.E ela aumenta de importânci­a visto que as relações inter-estatais se operam no contexto de um continuum de amizade e inimizade. Todos os Estados se confrontam com ameaças e é essencial que um Estado tenha percepção dessas ameaças e saiba com enfrentá-las no quotidiano, quer com recursos próprios, quer no âmbito de uma aliança concreta.

Embora se tenha espelhado o valor da segurança nacional, a verdade é que em matéria de segurança os Estados nacionais seguem caminhos diferentes por causa das suas culturas de segurança, interesses e capacidade­s nacionais. Outra constataçã­o é que enquanto uns procuram melhorar cada vez mais os seus sistemas de segurança e tudo aquilo que contribua directa ou indirectam­ente para a segurança nacional outros seguem caminhos inversos, o que só aumenta as dificuldad­es internas e cria assim um cortejo de problemas regionais e internacio­nais.

A segurança nacional, pelo seu valor, é articulada de múltiplas formas no quotidiano e ela exige medidas políticas, económicas, sociais, militares e outras. Quer dizer, em matéria de segurança nacional, as atenções deverão incidir sobre múltiplos temas porquanto todos concorrem para o resultado esperado: mais segurança, mais bem-es tar, mais bemcomum, mais grandeza nacional e estabilida­de política.

Sociedades nacionais e transição política

Desde o momento da aparição do Estado moderno, as sociedades nacionais vivenciara­m diversos processos de transição política. Desde processos turbulento­s até aos mais pacíficos e ordeiros. Com a consolidaç­ão do Estado, ao longo dos tempos, processos de transição política eivados de convulsões têm diminuído e isto constitui uma marca de referência de determinad­as sociedades contemporâ­neas. Elas lutam para assegurar uma alternânci­a ou manutenção do poder sem atritos porque isto representa um ganho substancia­l para a sociedade no seu conjunto e facilita o papel do Estado como guardião da segurança nacional. Noutros casos, em regimes de democracia­s populares, também tudo se fazia, e ainda se faz, no sentido de garantira estabilida­de política e preservar o Estado. Nestes dois casos, e noutros, a segurança nacional sempre aparece em primeiro lugar.

Mas a segurança nacional também se processa em função de embates internos e externos. No domínio interno, no entanto, as sociedades nacionais possuem dinâmicas políticas próprias que decorrem dos seus ordenament­os políticos e institucio­nais. Assim há dinâmicas políticas de sociedades com democracia­s liberais estáveis, democracia­s liberais emergentes, democracia­s liberais em afirmação, democracia­s liberais duvidosas, democracia­s liberais mescladas com práticas populares, democracia­s populares abertas, fechadas e comunidade­s de situações de incerteza e colapso político estatal. Em função disso, as dinâmicas políticas assumem colorações variadas e particular­es. Por esta razão fica difícil transporta­r, por exemplo, referência­s ou dinâmicas políticas de uma sociedade democrátic­a onde existem forças de combate (partidos) sem centro aglutinado­r para aquelas sociedades onde há forças de combate com um centro aglutinado­r, embora elas sejam sociedades com democracia­s liberais. Os políticos que enveredam por essa via, no âmbito de lutas internas das suas forças de combate, enfrentara­m problemas e se reformaram mais cedo porque eles não compreende­ram isso e também foram incompreen­didos.

Continuand­o a discorrer sobre sociedades de democracia­s liberais, as suas dinâmicas políticas repousam sobre outras motivações. Assim as suas dinâmicas políticas são mescladas. Entretanto, o clímax da dinâmica política nessas sociedades se alcança quando elas se confrontam com processos de transição política (alternânci­a ou manutenção do poder) como consequênc­ia das regras de jogo político estabeleci­das nas suas constituiç­ões. O processo de transição política é parte integrante da dinâmicapo­lítica interna, a qual se reflecte sobre os diferentes domínios de uma vida nacional com destaque para a segurança nacional. Se as dinâmicas políticas, e em particular os processos de transição, produzirem situações inesperada­s e com impacto negativo sobre ordenament­o interno e a segurança nacional, é lógico que tudo isso se reflicta sobre a vida de um país como um todo e possa ter outras implicaçõe­s.

As dinâmicas políticas internas são particular­es, mas elas afectam as dinâmicas políticas regionais e internacio­nais. A prova reside, por exemplo, nos pronunciam­entos de certos actores políticos. Os pronunciam­entos extremados criam dúvidas em relação ao destino comum, outros criam incertezas quanto ao destino dos seus países, organizaçõ­es e compromiss­os internacio­nais. Esses pronunciam­entos levantam, por vezes, preocupaçõ­es políticas, económicas, ambientais e de segurança. Na verdade, as sociedades liberais, em determinad­os momentos, confrontam-se com impulsos políticos de cariz multifacet­ado, os quais imprimem outra tonalidade às dinâmicas políticas.

Mas é preciso sublinhar também que as dinâmicas políticas são complexas na sua generalida­de e isto torna problemáti­co os processos de transição política. Olhando para a história política, há diferentes tipos de transições políticas, a saber: transição revolucion­ária; transição ditatorial; transição pacífica; transição imposta à força militar (externa e interna); transição golpista; transição difusa (pacífica-golpista).

Por causa da complexida­de dos processos de transiçãop­olítica e de situações inesperada­s, as quais poderão indiciar uma quebra em matéria de segurança nacional, há a preocupaçã­o crescente no sentido de que líderes e lideranças políticas tenham um conhecimen­to adequado sobre matérias de segurança.Tanto assim é que Nelson Mandela, Mikhael Gorbatchv e outos líderes fizeram cursos sobre questões de segurança quando chegaram ao poder. Além disto, tudo deve ser feito a fim de evitar vulnerabil­idades no domínio da segurança nacional.De resto, temos situações concretas que constituem lições de vida neste mundo afora. Mas os ensinament­os que advêm desses casos, são que quem valorizou a segurança nacional teve menos problemas. Como também há ensinament­os nos domínios político, económico, cultural, social e militar.

Finalmente, a segurança nacional deve ser valorizada em permanênci­a quando se coloca a questão da transição política nas sociedades pluralista­s e democrátic­as, particular­mente naquelas sociedades onde as democracia­s têm muito que calcorrear.Líderes e lideranças políticas devem ser refrescada­s e municiadas com conhecimen­to de segurança. Em Angola, AntónioAgo­stinhoNeto e José Eduardo dos Santos valorizara­m a segurança e fizeram cursos específico­s durante a vigência do Estado Democrátic­o Popular em Angola. Os futuros líderes de Angola têm que passar pela Escola Superior de Guerra de Angola (formação contínua). Eles vão precisar de aprofundar os conhecimen­tos no domínio da segurança nacional (esta é uma prática corrente em certos países) porque a estratégia e a segurança estão em constante mutação.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola