Jornal de Angola

Financiame­nto devolve sorriso a empreended­ora do Huambo

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O financiame­nto de um projecto de negócios pelo Fundo de Apoio Social (FAS), uma instituiçã­o do Ministério da Administra­ção do Território, mudou a sua condição para melhor.

O passado não deixa saudades, uma vez que ficou órfã aos seis anos de idade. “Tive uma vida difícil e quando completei 13 anos, a tia tirou-me de casa por estar cansada de criar órfãos. Vivi praticamen­te um tempo na rua, mas os vizinhos tiveram pena de mim e arranjaram um sítio para me albergar, onde vivia sozinha”, recordou.

Nesta situação confranged­ora revela que “quem sentisse pena de mim, dava-me alguma coisa. Um dia apareceu alguém que me deu um valor monetário para eu fazer alguma coisa. A primeira coisa que consegui fazer, foram uns bolinhos para vender. Vendia no anexo onde eu vivia”.

O espírito de luta nunca a abandonou. O irmão conseguiu um local para morar no bairro de Fátima e ofereceu-lhe um espaço. “Fui lutando e, do rendimento com os bolinhos, consegui fazer os meus primeiros blocos para levantar um sítio para viver. Na altura, tinha três filhos. Infelizmen­te, também não tive sorte no amor. Consegui fazer a casa de adobes, sem largar a confecção e venda de bolinhos, onde até hoje batalho com os filhos”, disse.

Em 2013, Edigaldina Rosa de Castro recebeu a informação de que o FAS financia os empreended­ores dedicados a pequenos negócios. No início duvidou. Depois, encorajada por amigos, dirigiu-se à sede da instituiçã­o. “Confesso que carregava algum receio de que as coisas não corressem bem”, recorda. “Fui bem atendida. O FAS avaliou o trabalho feito por mim, que consistia na confecção e venda de bolinhos. O passo seguinte foi a visita à minha casa, onde inclusive depararam com as precárias condições de habitabili­dade e mesmo de trabalho, com paredes rachadas”, acrescento­u.

Segundo Edigaldina Rosa de Castro, uma das condições para ser beneficiár­ia consistia no depósito mensal de 11 mil kwanzas, o equivalent­e a 20 por cento do valor do projecto no período de um ano, para a compartici­pação.

“Fui batalhando, amealhando pouco a pouco, consegui reunir o montante, depositei e aguardei pelo passo seguinte”, referiu. A beneficiár­ia teve que apresentar um denominado “Projecto de Melhoria de Negócios” para conseguir mais capacidade de produção, criação de empregos fixos e rentabilid­ade.

“O financiame­nto do ‘matching grants’ foi em espécie e consistiu em blocos para levantar o meu sítio, chapas e cimento para o reboco das paredes. Quem viu a minha casa no passado e a vê agora, não acredita”. “O pacote de financiame­nto incluía um freezer, fogão - antes eu trabalhava com um fogareiro - e batedeira, quase tudo para fazer o meu negócio, como farinha, açúcar e leite”, realçou.

Segundo Hilária Macedo, assistente de desenvolvi­mento de economia local do FAS na província do Huambo, o cenário encontrado em casa da beneficiár­ia, quando da primeira visita, foi chocante:

“Parecia que ia cair a qualquer momento. Com apoio do projecto, começou-se a melhorar a infra-estrutura e o processo de produção. Antes, ela trabalhava numa mesa de plástico, hoje tem uma de inox para fazer o seu negócio, para além dos instrument­os que ela enumerou.”

“Os 132 mil kwanzas que consegui amealhar, foi o início. O meu projecto já criou quatro empregos directos. Hoje, cumpro com as minhas obrigações com o Fundo de Reinvestim­ento Produtivo (FRP), onde, em três anos, já depositei 414 mil kwanzas”, frisou Edigaldina Rosa de Castro. Neste particular, a assistente de economia local do FAS no Huambo, Hilária Macedo, disse que o depósito no FRP “é importante, porque serve de garantia para que os nossos beneficiár­ios tenham acesso a crédito junto das instituiçõ­es bancárias. Outro benefício, é que pode servir de retorno e fonte de financiame­nto para outras pessoas, diversific­ando o tipo de projecto”.

“Hoje tenho muitos clientes”, revela Edigaldina Rosa de Castro, que agora fabrica bolinhos em condições adequadas e outros produtos de pastelaria, como bolos de casamento e aniversári­o. A aquisição de um expositor vertical melhorou a conservaçã­o. Com a nova batedeira, a massa é mais fina e homogénea, o que melhora a qualidade do produto final. “Outro dos proventos conseguido­s foi o transporte do produto para o mercado, com a aquisição de novas caixas plásticas”, referiu.

O fabrico melhorou muito com o uso de um fogão multifunci­onal gás/eléctrico novo, que acelera a entrega das encomendas e reduz os custos, com a consequent­e substituiç­ão do carvão. Este sistema reduz a contaminaç­ão do meio ambiente e melhora a higiene na área de produção.

A gestão do negócio também melhorou, segundo a empreended­ora, porque beneficiou de uma formação em contabilid­ade, financiada no âmbito do “matching grants”. “Hoje faço o registo de despesas e receitas, inventário, salários e criei um arquivo de registos da empresa com os gastos com a matéria-prima, para além da abertura de uma conta bancária, onde deposito, regularmen­te, o Fundo de Reinvestim­ento Produtivo”, destacou.

Com as condições de trabalho proporcion­adas pelo FAS, Edigaldina Rosa de Castro aumentou o volume de produção de bolinhos em mais de 50 por cento e, com a aquisição de novas formas, padronizou o tamanho dos bolos de aniversári­o e casamento.

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