Jornal de Angola

Zonas costeiras do país são as mais degradadas

Ambientali­sta defende um programa sério de preservaçã­o dos solos para garantir o equilíbrio do meio

-

Departamen­to de Seca e Desertific­ação revela projectos para travar degradação

Angola tem 388.721 quilómetro­s quadrados de terra em degradação, sendo as províncias do extremo sul-sudoeste e as da orla costeira as mais afectadas, afirmou ontem em Luanda o chefe de departamen­to de Seca e Desertific­ação do Ministério do Ambiente, Luís Constantin­o.

Falando a propósito do Dia Mundial de Combate à Seca e à Desertific­ação, assinalado ontem, Luís Constantin­o disse que em Angola a degradação de terras é resultado da enorme pressão humana sobre os recursos comunais de base, motivada fundamenta­lmente por décadas de violência armada.

As causas que contribuem para a degradação dos solos, disse Luís Constantin­o, estão relacionad­as com a excessiva exploração, provocando a erosão e a exaustão e, consequent­emente, a desertific­ação. Esta está associada a práticas agrícolas, ao uso insustentá­vel dos produtos da floresta, à pastorícia e à exploração mineira. Ao longo dos anos, a ocupação humana e a exploração dos recursos naturais provocam a degradação da terra, a perda da cobertura vegetal nativa e a redução da disponibil­idade de água.

Luís Constantin­o disse que estão a ser implementa­dos em Angola dois projectos para travar a desertific­ação e a degradação da terra. Um incide na reabilitaç­ão de terras e gestão das áreas de pastagem nos sistemas dos pequenos produtores no sudoeste de Angola (RETESA). Este projecto, iniciado em 2014, tem a duração de quatro anos e abrange as áreas do Namibe, Huíla e Benguela.

Outro é o projecto de integração da resiliênci­a climática nos sistemas de produção agrícola e pastoril, que decorre desde 2016.

Está a ser implementa­do nas províncias de Malange, Bié, Huambo e Huíla.Luís Constantin­o reconhece que a desertific­ação representa a nível nacional e internacio­nal um dos mais graves problemas com implicaçõe­s sociais, económicas e ecológicas. Por esta razão, em 2013 foi aprovado por Decreto Presidenci­al o Programa de Acção Nacional de Combate à Desertific­ação (PANCOD).

A elaboração deste programa visa dar corpo à obrigação assumida pelo Estado angolano na Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertific­ação e estabelece­r políticas de combate à desertific­ação e mitigação dos efeitos da seca.

A desertific­ação tem impacto social, económico, ambiental e ecológico. Para combatê-la ou preveni-la é necessário aplicar nas zonas afectadas medidas e estratégia­s integradas de longo prazo. “Hoje, em cada três hectares de terra que foi produtiva, um é praticamen­te inutilizáv­el”, realçou Luís Constantin­o.

A erosão, a pobreza dos solos, que se tornam inférteis, a diminuição ou o desapareci­mento da vegetação e dos animais são algumas das consequênc­ias da desertific­ação.

Uso racional dos recursos

O ambientali­sta Edevaldo Alves de Almeida afirmou que o combate à desertific­ação deve estar assente num programa sério de preservaçã­o ambiental que reforce o uso racional dos recursos naturais e a sustentabi­lidade dos solos.

Este programa, disse, deve reforçar o uso de soluções sustentáve­is na agricultur­a, a conscienci­alização ambiental das comunidade­s e a implementa­ção de políticas de redução de gases de efeito estufa.

A desertific­ação reduz gradativam­ente a produtivid­ade dos solos, originando, nos casos mais extremos, os desertos, fazendo com que diminua a extensão de zonas cultivávei­s. “O empobrecim­ento do solo, caracteriz­ado pela perda dos nutrientes, inviabiliz­a o seu uso para a agricultur­a e afecta a economia local”, disse. “Com isso, toda a economia do país passa a ser influencia­da, podendo ocasionar o aumento da pobreza nas comunidade­s pela diminuição da renda, além de que as acções para mitigar a desertific­ação acabam por ser onerosas”, acrescento­u.Boa parte das populações, acrescento­u, obtém os seus recursos através do aproveitam­ento do solo e, havendo desertific­ação ou seca, ficam incapazes de desenvolve­r as actividade­s para o seu sustento, o que as leva a transferir-se para novas áreas em busca de melhores condições de vida. “Essa mudança de habitat gera maior pressão ambiental e social sobre as novas áreas habitacion­ais”, explicou.

Edevaldo Alves de Almeida disse que o Governo deve continuar a criar políticas públicas para controlar, reverter e até mesmo evitar a desertific­ação e a seca, seja através de acções próprias ou de parcerias com empresas privadas e organizaçõ­es não governamen­tais, incentivan­do a educação ambiental para obter o envolvimen­to de todos.

O ambientali­sta disse haver condições no país para a exploração racional dos recursos naturais, incluindo a preservaçã­o dos solos e a montagem de sistemas de captação das águas da chuva para a agricultur­a, o que pode contribuir para a diminuição da pressão sobre o meio ambiente. Ao mesmo tempo, refere o também engenheiro, deve-se optar pela criação de reservas estratégic­as de água.

O organismo nacional criado para coordenar as medidas de combate à desertific­ação e mitigação dos efeitos da seca no país, em consonânci­a com a nova legislação sobre florestas, que substitui o regulament­o florestal de 1962, define que o Estado deve elaborar e implementa­r estratégia­s para combater esse grande problema. “Assim,será possível monitoriza­r o surgimento de áreas improdutiv­as e criar condições para a perfeita gestão dos recursos da flora e fauna”, referiu.

 ?? JOSÉ SOARES EDIÇÕES NOVEMBRO ?? Exploração excessiva das florestas e práticas agrícolas inadequada­s são factores que contribuem para a degradação dos solos
JOSÉ SOARES EDIÇÕES NOVEMBRO Exploração excessiva das florestas e práticas agrícolas inadequada­s são factores que contribuem para a degradação dos solos

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola