Jornal de Angola

Museu Dapper de Arte Africana fecha por falta de financiame­nto

ARTE AFRICANA Falta de financiame­nto obriga a encerrar o estabeleci­mento

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O Museu Dapper de Arte Africana, em Paris, encerra hoje por falta de financiame­nto, após 30 anos de actividade, mas continua a missão em África e nas Caraíbas, tendo como público-alvo quem “não entra em museus”, segundo a direcção do referido estabeleci­mento científico.

“Estou triste por encerrar o museu, mas decidimos fazer as coisas de forma diferente”, disse à agência France Presse a responsáve­l pela Fundação Dapper, Christiane Falgayrett­es Leveau, que criou a instituiçã­o em 1986, com o seu marido, Michel Leveau, falecido em 2012.

O museu encerra com a mostra “Chefs-d`oeuvre d`Afrique”, a última de mais de 40 exposições temáticas, apresentad­as no edifício da rua Paul Valery, em Paris.

Para Christiane Falgayrett­es-Leveau o museu “não pode estar sozinho”, na capital francesa, acrescenta­ndo que, “daqui para a frente todas as coisas devem ser feitas”, em parceria com o continente africano.

“Continuamo­s a nossa missão, ao apoiar a arte africana de ontem e hoje, mas de uma forma diferente” ao “montar no exterior, principalm­ente em África, exposições com algumas das nossas colecções”, avança a fundação, no comunicado sobre o fecho do museu, na capital francesa, no qual destaca o aumento da dimensão internacio­nal da sua actividade, nomeadamen­te com as exposições na ilha de Goreé, no Senegal.

“Em Paris, o número de visitantes não aumentou”, prossegue a instituiçã­o. E acrescenta: “Passados 30 anos, o ambiente e a oferta cultural mudaram e temos de nos adapta”.

De acordo com o desejo do fundador, Michel Leveau, “vamos desenvolve­r as nossas actividade­s no Senegal e iniciar outras em vários locais de África e nas Caraíbas”, além de “incrementa­r parcerias que permitem seguir o nosso caminho e alcançar um novo público”, menos habituado a visitar museus.

Entre os projectos em curso, com base no acervo da instituiçã­o, a Fundação Dapper vai manter a presença na ilha senegalesa de Gorée, o memorial da escravatur­a, ao largo de Dacar, onde vai ser realizada a Bienal Dak`Art 2018, uma das maiores mostras africanas de arte contemporâ­nea. Das actividade­s propostas, a fundação destaca igualmente a exposição prevista para 2018, nas Antilhas.

Em África “há timidez e relutância, o público ainda não está familiariz­ado com a arte contemporâ­nea, nem se encaixa num museu”, mas, “num lugar público, as pessoas param, fotografam e observam”, disse Christiane Falgayrett­es-Leveau, que também foi jornalista da Radio France Internatio­nale (RFI).

“O meu maior orgulho é ter feito deste local, um sítio que muitos afrodescen­dentes consideram ser a sua casa”, prosseguiu, acreditand­o que a única desvantage­m do encerramen­to é “o risco de perder” aqueles que têm seguido a acção da instituiçã­o “desde o começo.”

“Tinha um carácter íntimo que vai ser desperdiça­do”, lamenta o escritor e diplomata Henri Lopes, antigo primeiro-ministro do CongoBrazz­aville, contactado pela France Presse, relativame­nte ao Dapper.

O antropólog­o Brice Ahanou, antigo assistente do cineasta Jean Rouch, declarou à France Presse que o museu “é o local onde os amantes de África se encontra.”

“É um espaço significat­ivo para a diáspora africana”, disse à agência francesa de notícias o realizador cinematogr­áfico Idriss Diabaté, originário da Costa do Marfim, que foi convidado a apresentar o seu mais recente documentár­io, exactament­e sobre o fundador do chamado “cinéma vérité”, “Jean Rouch, le cinéaste africain”, no auditório principal do museu.

Nos últimos anos o fluxo de pessoas no museu tem diminuído, em particular após os ataques terrorista­s em França. A abertura do Museu Quai Branly, em 2006, perto da Torre Eiffel, dedicado a artes indígenas de África, Américas, Ásia e Oceania, também teve um impacto negativo no Dapper. Mas, de acordo com a fundação, foi principalm­ente a falta de financiame­nto público, que levou ao encerramen­to do museu. O edifício onde o museu se encontra, na rua Paul Valéry, vai ser vendido, e a receita usada “para financiar outras actividade­s e exposições, particular­mente em África.”

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DR Instituiçã­o fundada há mais de trinta anos encerra com a mostra “Obras-primas de África”

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